Minha homenagem ao Dr. Boris Scheller
Começo por esclarecer que não sou
médico ou anseie por sê-lo. Este breve texto ampara-se em leituras e observações.
A intenção é chamar vossa atenção - potenciais leitores - para o fato de que
não só a medicina, mas também outras ciências afastaram-se em muito de seu propósito
original. Trata-se da minha opinião pessoal e a divulgo não para cooptar
seguidores, mas a fazer uso do direito que me é garantido constitucionalmente
de manifestar pensamentos.
Dr. Boris Scheller foi o médico de
minha infância. Falo nos idos dos anos cinquentas e sessentas. Morávamos na
mesma rua, num bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Ele atendia todo o
entorno, independente de receber ou não recursos e preenchia perfeitamente ao
conceito de “médico da família”, pois tratava de idosos, adultos, adolescentes
e crianças com a mesma abnegação. Não me recordo de ninguém que tenha ido a
óbito. Mas o que hoje mais me reclama a atenção era para o fato de exercer sua profissão
tendo como aporte, por vezes, uma simples Abreugrafia ou, no máximo, exames de
sangue, fezes ou urina. A partir desta observação, posso vos afiançar que o Dr.
Boris cumpria plenamente os princípios da escola hipocrática. Falo em escola
hipocrática em respeito aos que não aceitam a versão de Hipócrates como
personagem único, mas sim como o representante de um corpo médico que defendia
determinadas ideias e ideais.
A medicina hipocrática visava o
conhecimento da physis, ou seja, da natureza. Não só a natureza humana, mas a
natureza como um todo na qual a natureza humana está imersa. A partir deste
conhecimento, buscava proporcionar ao ser humano melhor integração ao seu meio;
devolvê-lo melhor adaptado - ou readaptado - melhor reambientado. A doença era
vista como desacordo, como desequilíbrio entre ser humano e natureza. Bem, conhecer
a physis, a natureza, implicava voltar-se exemplarmente a sintomatologia. O que
temos na medicina atual? O estudo da sintomatologia parece ter sido substituído
pela tecnologia que pretende-se científica. Quem nos consulta e emite laudos
são as parafernálias tecnológicas que abundam clínicas e hospitais em nome de
uma medicina diagnóstica. Os profissionais aprendem na academia e no período de
residência médica apenas a lerem e decifrarem gráficos, imagens, informes estatísticos;
os esculápios, ou a grande maioria deles, tornaram-se reféns desta absurda
facilitação. Pergunto: teriam os doutores da atualidade certeza para diagnosticarem,
tratarem e curarem os desequilíbrios chamados doenças sem auxílio destes petrechos
tecnológicos?
Além da parcial importância hoje
conferida à sintomatologia, algo ainda de relevância deve ser lembrado: o uso
indiscriminado dos suportes ditos técnicos-científicos esteriliza, torna
improdutiva a relação médico-paciente, o que também destoa da proposta
hipocrática. Grande número de médicos, pretensos semideuses, não sei se por uma
questão de caráter, formação acadêmica ou contato direto com tanta bugiganga tecnológica,
tornam-se impessoais, distantes e, ipso facto, dignos da nossa comiseração. Em
suma: A medicina distanciou-se em muito de seu original desideratum; médicos,
infelizmente, transformaram-se em meros ledores de buena-dicha.
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