sexta-feira, 19 de março de 2021

Eureka

 

Dizem-me alguém antenado, ligado às demandas sociais e atento às exigências da moda. Talvez tenha sido esse o espírito a conduzir-me nas estafantes pesquisas. Mas enfim, consegui. Sim, descobri uma vacina! Não, não duvideis de minha capacidade investigativa, afinal, nos dias de hoje não mais se exige o rigor dos currículos de outrora. Basta ter em mente o fato de que Bill Gates abandonou sua vidinha de hacker para tornar-se cientista; o diretor da OMS (HWO soa mais sofisticado), não é médico e sim um requintado agente de saúde (com todo respeito aos agentes de saúde); no Brasil, não há necessidade de ser ou ter sido juiz para tornar-se ministro do Supremo Tribunal Federal, basta declarar-se alguém de “notável saber jurídico” e receber o aval de ínclitos senadores.

Minha pesquisa, apesar de acerbas críticas, obedeceu a todas as etapas em seu desenvolvimento: na fase laboratorial, o agente infeccioso foi identificado dentre centenas de moléculas, onde definimos métodos para compor a vacina; na fase pré-clínica foram realizados testes in vitro, bem como experimentos com animais (ratos, macacos, morcegos e gafanhotos); a etapa clínica teve três fases distintas: foram testados 50 involuntários (muito bem pagos) no tocante a efeitos colaterais e intensidade nas dosagens; a eficácia da vacina em um número maior de humanas cobaias; avaliação da eficiência e segurança no público alvo. Nessa última fase, embora possa demorar muitos anos, tenho recebido imensa colaboração do povo, que graças ao “jeitinho brasileiro”, e de modo inconsciente, expõe-se ao vírus. Sim, não me reporto só aos bailes funks, aos trens e ônibus superlotados, mas também às filas nos bancos para receberem o auxílio do governo.

Quando, no despertar da pandemia, convidado a participar de única e determinada reunião com empresários da indústria farmacêutica e seus respectivos pesquisadores, fui orientado no sentido de que medicamentos preventivos não trariam o retorno financeiro desejado; a vacina sim, atenderia a toda a nossa “demanda” e demais expectativas. A OMS chancelou a ata de nossa reunião ao vir a público condenar tratamentos com substâncias já utilizadas amiúde em países do terceiro mundo. A OMS também colaborou sobremaneira com a politização da epidemia.  

Bem, agora estou buscando aprovação da droga para uso emergencial, mas já recebi a visita de um certo senador que, a troco de vultoso percentual, vai entrar com pedido junto ao STF para que, a partir de uma decisão (monocrática ou colegiada), as autoridades sanitárias sejam obrigadas a aprovarem a droga em até 5 dias. Em breve entrarei em contato com o Ministério da Saúde, de modo a oferecer meu imunizante, se bem que, no contrato, deve constar cláusula similar a exigida pela Pfizer, ou seja, não devo ser responsabilizado por quaisquer efeitos colaterais. Não obstante, minha vacina não tem apresentado a criação de coágulos como a de Oxford; talvez queda de cabelo, de dentes e sangramento de gengiva. Mas quem vai se importar com isso, não é mesmo?

A boa notícia: serei indicado ao Oscar (perdão, lapso na escrita) ao Nobel. Afinal, 1 milhão de dólares vem mesmo a calhar. Explico-me: o senador, meu mecenado, muito bem relacionado com os suecos, não vai dar “impulso” apenas à minha criação, mas no mesmo combo ele irá entrar com um projeto junto ao legislativo, para que eu seja indicado ao Nobel de Medicina, enfim, antes mesmo de dedicar-me com afinco às pesquisas, sou alguém sobremodo preocupado com o bem estar da população (risos). Não haverá problema algum; não vos enganeis, pois para os representantes da Fundação Nobel, vacinados gratuitamente com meu medicamento, o fulcro da avaliação vincula-se simplesmente ao “politicamente correto”.   

A propósito, desde ontem venho apresentando sintomas característicos do Covid19. Não, não vos afligis; já providenciei a dose necessária de Ivermectina.  

Um comentário:

  1. A criminalização da Prevenção, está aleijando um dos princípios basilares da medicina e do próprio SUS (Atenção básica). Quando digo prevenção não falo em uso indiscriminado de medicamentos para não contrair a doença. Falo exclusivamente do uso em caso de suspeita para minimizar seus efeitos catastróficos e evitar a hospitalização, ocupando mais um leito. Para os defensores do #Fiqueemcasa, #Ivermectinanão, #Cloroquinanãofunciona, pergunte ao querido Tedros porque a OMS recomendou estes medicamentos demonizados pelos COVIDEIROS DE PLANTÃO, para tratamento no continente Africano. Por acaso a intenção da OMS era dizimá-los da face da terra?

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