segunda-feira, 25 de abril de 2022

A verdade

 

O que temos do mundo é fenômeno, ou seja, é como ele se apresenta a cada um de nós e não como de fato é. Cada qual tem uma visão particularizada do mesmo mundo. Enfim, nós o criamos. Isto porque conhecemos o mundo através de nossos falhos sentidos (Até aqui somos reféns de Immanuel Kant). Nossa percepção está afeita não só aos sentidos, às sensações, mas também às expectativas, aos interesses, às crenças, aos valores, aos pré-conceitos. Com isto a verdade fica relativizada. Nem mesmo as verdades ditas científicas se eximem do axioma precedente, pois verdades científicas são dogmas que não raramente são substituídos por outros dogmas.

A verdade é imaterial. Conhecê-la? Simples: através da fé. O cientificismo, talvez em face da imensa vaidade, minimiza, demoniza, subestima o poder da fé. Todavia, por mais que a ciência se empenhe, ela estará restrita ao mundo material, ao fenômeno. A fé, por sua vez, transcende o limite do mundo material e, quando consciente, racional e bem embasada, toma posse da verdade. Ora, por ser imaterial, a verdade quando conhecida, liberta-nos do mundo material. Desse modo, “conheceremos a verdade e ela nos libertará”.

sábado, 23 de abril de 2022

A falar de liberdade

 

Àqueles dedicados ao conhecimento, o Evangelho de João parece trazer uma sentença algo enigmática: “...e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” João 8:32 Ao buscar-se a total apreensão do sentido, perguntas outras fazem-se presentes: A que verdade o texto se refere? A verdade, de fato, liberta? De que liberdade está-se falando? Ora, não busquemos simplificar a grandiosidade e abrangência da expressão. Tentemos compreendê-lo.

A verdade de que se fala não é uma verdade científica, uma verdade matemática ou algo similar. Essa verdade dá-se espontaneamente através da fé. Sim, a verdade é crer; crer no que se lê, crer no que se crê, crer no que se sente. Isso vem com o estudo e dedicação aos textos religiosos. E o estudo proporciona a admiração, o respeito, o surgimento de sentimentos afins. Voltamo-nos, então, à prática. Sim, a verdade é tudo isso: a crença traduz-se em ação. O crer nos dá um norte, uma referência, um ponto de partida. Nova visão instala-se. Passamos a encarar o mundo de forma diferenciada. E o mundo se nos torna distante; não mais nos identificamos com o mundo; não mais buscamos atender às expectativas do mundo; não mais tentamos satisfazer as demandas do mundo. Abstraímos o mundo, ou melhor, nele lançamos nossa luz, uma nova luz. Eis a liberdade!

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Mensagem na garrafa

 

Não sei se por conta da vintage condição (entrado em anos), sinto-me na quase obrigação de deixar um legado às gerações futuras. Têm lugar, então, não poucas perguntas. Bem, na tentativa de responder ao como, esbarro-me na possibilidade - ou quase certeza - de que o que entendo por comunicação já seja algo obsoleto. Afinal, as pessoas estão a evitar o convívio; as relações, a cada dia, tonam-se mais e mais virtuais. Será que o livro estaria “desinventado”? E a linguagem articulada; ainda em uso? Será que a tão propagada liberdade - irrestrita liberdade - não teria dizimado os núcleos sociais? Não teria o libertarismo conduzido a uma inimizade globalizada?

Ocorre-me deixar mensagens em garrafas... mas o vidro ainda seria usado; seria ainda conhecido? Exagero pensar que o mundo acabará inundado por garrafas pet? Oh civilização, o quanto foste descuidada! Oh ciência, quanta irresponsabilidade! E as pessoas, ainda falarão em felicidade? Sim, a felicidade proposta até então é nada mais que a criação de situações e ambientes que assemelham-se a parques temáticos. Ser feliz é poder e saber usufruir do que o grande parque propõe. O mundo temático estimula o passeio, o recreio, a diversão, a superficialidade, o fútil. O grande parque temático é nada mais que o corroborar do panem et circenses.

Não poucos os que submetem-se a ditames subsumidos em talentosas falácias. Vítimas de manipulada informação permitem-se iludir e sonhar com status diferenciados: há os que dizem viver bem, vestir bem, viajar pelo mundo, morar bem... Conheci um que enfunava-se simplesmente ao soletrar seu pretenso endereço: Wilhelmstrasse! Isso depois de, quando menino, ter que andar coisa de 3 quilômetros, diariamente, para encher um carrinho de mão com serragem para poder manter limpo o galinheiro que servia à família. Eis a realização de um sonho! Lamentável. Ou seria patético? Por favor, nada de risos.

Em suma: o que dizer? Que mensagem deixo aos possíveis sobreviventes deste antro de hipocrisia? Algo me vem à mente: são imperativos, somente imperativos. Sim, desdenhai do mundo, de suas demandas, de suas expectativas. Fazei-vos calados, taciturnos; nada de julgamentos, nada de opiniões, mesmo quando em família. Sufocai vosso eu; se o eu inexistir, não conhecereis a afronta, a ofensa, a intimidação. Iluminai o entorno com o melhor de vossa criação, de vossa imaginação. Então ... o mundo te será devedor.      

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Da liberdade libertária

 

Gostais de ser livre? Prezais pela liberdade? De fato? Então esquecei o discurso apologético que pugna por uma irrestrita liberdade. O ser social, o socius, ao ter consciência de sua sociabilidade, abdica do libertarismo. O libertarismo não reconhece qualquer autoridade, inclusive a do Estado. Ora, por que a existência de leis? Para pôr limites à liberdade. A irrestrita liberdade é fruto de delírio; se existisse extinguiria toda e qualquer sociedade. O libertário é anarquista, e este desconhece responsabilidade. Todo e qualquer ser humano, quando em sociedade, está condenado a abrir mão de parte de sua liberdade. Essa história de que o “ser humano está condenado a ser livre” é fruto de uma imaginação torpe, imaginação esta que enamorou-se do existencialismo, mas que carrega em si os miasmas do comunismo. Enfim, traveste-se de humanismo, mas na realidade não passa de um sofrível e fracassado messianismo. O discurso fala em respeito ao outro. Como? Aquele que faz o que quer não se preocupa com o próximo. Suponhamos a existência da propalada liberdade; ela se confundiria com a mesma liberdade da raposa quando no galinheiro. Afinal, fazer o que quer é sinônimo de liberdade? Quantas raposas seriam necessárias para a extinção deste enorme galinheiro?   

Atentai! Esta tal liberdade faz com que a juventude negue-se ao conhecimento; faz com que crianças não aceitem a educação dos respectivos pais; permite que alunos agridam professores; incita o cidadão a não respeitar leis; estimula o desacato a qualquer figura que emane autoridade, a não ser a autoridade que se vincule ao poder, à força. Que coisa curiosa: Os princípios do libertarismo estão implícitos nas normas exaradas pelo próprio Estado. Bem, o Estado, há muito, vem sendo manipulado, aparelhado. Sim, a interferência do Estado na criação, nas relações familiares, na educação, na sexualidade, na cultura, na religiosidade, no expressar de opiniões é algo protocolar; serve para pavimentar o caminho que desaguará em lamentável anarquismo. O auto flagelar-se da sociedade implica, iniludivelmente, auto extinção. Que Deus nos ajude!

sábado, 9 de abril de 2022

Asquiminofobia

 

Bem, como o termo foi criado por mim, tenho por obrigação discorrer, mesmo que brevemente, acerca de suas raízes, isto é, prefixo, sufixo, significados, etc. Contudo, se tendes alguma preocupação com o conceito, ei-lo: O termo em questão aponta para os que repudiam as coisas e pessoas não belas (em alguns casos, não belas seria um eufemismo). Sim, eu falo daqueles que criticam, sentem-se mal, desconfortáveis e/ou nada à vontade diante da feiura. Neste ponto, por certo, dir-me-ão: “Gosto não se discute!” (Eita chavão sem graça e démodé.) Respondo-vos: “O que não se discute é o mau gosto”. Antes mesmo de haver conhecimento, faz-se presente em todo ser humano um momento estético. Esse momento estético contempla a harmonia de formas, desperta conforto, bem estar e permite a criação de signos. Os signos, então, despertam ou não o interesse pelo conhecimento. Por favor, vós que primais em difundir estereótipos, procurai, pelo menos por breves instantes, conter os impulsos que vos foi introjetado pela doutrinação a objetivar, apenas, o ensejo de uma guerra cultural.  

Continuando. Eu poderia ter usado um termo latino, afinal nossa língua, o português, é devedor de raízes gregas e latinas. Todavia, optei pelo grego, na tentativa de cultuar o saber nos possíveis leitores. Por que não usar o termo pulcritude? Em primeiro lugar, a pulcritude não faz parte do vocabulário da juventude forjada pela educação freireana e que tão bem representa nossa Pátria Educadora. Em seguida, o não pulcro seria o horroroso, o horrendo. Ora, a não beleza, necessariamente, não se traduz por algo horrendo. Então ocorreu-me lançar mão do grego, já que a palavra fobia - também de origem helênica - tem sido usada sem o menor critério nos dias atuais. Logo, o termo ασχημία - aschimía - a feiura, expressaria melhor o sentimento negativo diante do não agradável, do não harmônico.

Dito isso, doravante o termo asquiminofobia deverá ser entendido como característica de pessoas que experimentam desprazer, repulsa, aversão ou até mesmo ojeriza, em face de imagens, coisas ou pessoas que careçam de pulcritude, ou melhor, de objetos esteticamente incorretos. Atenção: pessoas tornam-se objetos quando em face de uma relação epistemológica, isto é, relação sujeito (que quer conhecer) X objetos (que dão-se a conhecer). Então, após divulgar esta minha pesquisa linguística, começo a ouvir rumores nada agradáveis, inclusive, a sofrer críticas ferrenhas, a receber epítetos os mais variados e até mesmo desconhecidos. A coisa varia do “preconceituoso” ao “estético-fascista”.

Mas o que é isso minha gente? Eu já ouvi muita coisa; soube por oitiva (imprensa ou redes sociais) de pessoas que manifestam as mais variadas fobias: autofobia, aracnofobia, claustrofobia, etc. Há também as que demostram falhas de caráter: heterofobia, homofobia, etc. No entanto, preconceito com a feiura, pelo menos para mim, (não sou nenhum Apolo ou Narciso) é algo inusitado. Ora se houvesse, de fato e de direito, asquiminofobia no Brasil, certamente Alexandre de Moraes - nosso gato Sphynx que sofre de alopecia - e Carmem Lúcia - exemplar feminino de Bento Carneiro, vampiro brasileiro - não se teriam tornados Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Nada obstante, pode-se dar início a Projeto de Lei que criminalize a asquiminofobia. Se bem que, tanto a Câmara quanto o Senado Federal, assim creio, jamais pautariam o tema. Se ainda “algumas belezuras” (prefiro não citar nomes) estivessem no exercício do mandato...  Mas, muita calma nessa hora. A pensar melhor, certa ideia começa por se me fazer presente. Por que não “estimular” o STF? Não foi assim com as Fake News? Sim, que tal as pessoas usarem as redes sociais para chamarem Suas Excelências de feias? (pulcros seria mais educado). Em pouco tempo, posso vos afiançar, surgirá alguma decisão acerca de criminalizar a asquiminofobia e isso será encarado como ato ex officio. Difícil mesmo será encontrar um ministro relator que, em face de carências estéticas, possa não declarar conflito de interesses.  

sexta-feira, 8 de abril de 2022

A filosofia da sofrência

 

Eu tentei; juro que tentei, mas... talvez, por ter-me apegado à classificação aristotélica de que a filosofia primeira, o βιοσ τεορετικως, a vida contemplativa é a verdadeira filosofia - a que se volta aos temas metafísicos -, sinta certa ojeriza ao tratar de objetos que fujam do exercício puramente intelectual. Ora, se a filosofia não tem finalidade, ao tratarmos de ética ou de política estaremos às voltas com ciências práticas; se falarmos em estética ou técnica estaremos voltados às ciências produtivas; quando na busca de compreender os fenômenos naturais dedicamo-nos às ciências da natureza.

Contudo, devo reconhecer, que a filosofia social tomou vulto no século passado. E para não ser taxado de preconceituoso (os filosofastros adoram valer-se deste predicativo), vou tentar relatar, e de modo isento, minha experiência com essa nova “vertente” filosófica. Comecemos por Proudhon: Diz-nos ele que toda propriedade é um roubo. A fonte única e legítima da propriedade seria o trabalho. Sério? Isso precisa ser mais divulgado! Conheço certa pessoa que trabalhava como zelador de jardim zoológico, mas hoje é sócio majoritário de grandes empresas, tem fazendas de gado e anda de jatinho particular pra lá e pra cá. Sim, o pai dele, além de não trabalhar, tem um sítio em Atibaia e um apartamento tríplex no Guarujá.

Bem, agora a obra de karl Marx, enquanto degusto alguns goles de cerveja: trata-se de uma teria social preocupada em culpar a burguesia, ou seja, os comerciantes e artesãos que se livraram dos senhores feudais e acabaram por enriquecer comercialmente. A divisão em classes sociais surge de modo espontâneo, e como consequência, demandas e contradições típicas da natureza humana. Papai uma vez me falou: - “Filho, se algum dia o empregado ganhar mais que o patrão, ele vai se tornar teu empregado e te promove a patrão”. Simplificando: ao final do obra, andei pelas raias da depressão.

Eis o “pontapé inicial” nas desventuras filosóficas! Como sucedâneo, um cidadão chamado Jean-Paul Sartre assimilou - e muito mal - o existencialismo cristão (algo que contempla o livre-arbítrio) pensado por Soren Kierkegaard, e vinculou-o ao marxismo, criando, portanto, uma aberração, isto é, o existencialismo ateu. Aqui uma pausa para que eu sintonize meu rádio numa dupla sertaneja. Continuemos, pois. O pensamento de Sartre fala em liberdade irrestrita, pois o homem estaria condenado a ser livre. Essa liberdade irrestrita, estaria afeita à responsabilidade. Convoco-vos ao pensar: O sujeito deve gozar de uma liberdade irrestrita dentro da sociedade em que vive. Parece-me, salvo melhor juízo, que os membros da sociedade desfrutam da mesma liberdade da raposa no galinheiro. A sociedade tornar-se-á impraticável. E pergunto-vos: como, depois de proporcionar ampla liberdade ao cidadão, exigir dele responsabilidade? Na falta de outro termo, valer-me-ei de Utopia.

A então esposa de Sartre, Simone de Beauvoir, sai em defesa da mulher. Sim, ela mostra-se contrária ao princípio de que as mulheres são culpadas pela violência de que são vítimas. Creio que a filósofa deve ter inspirado o Projeto de Lei “Maria da Penha”. Muito embora partilhe de seu pensamento, cansa-me o discorrer piegas; é algo de cortar o coração. Simone ainda declara não caber ao homem e/ou a o Estado ditar normas sobre o comportamento feminino. Pelo exposto, devemos banir quaisquer resquícios de direito privado. Começo também a intuir um primeiro rasgo na tentativa de aniquilação da estrutura familiar.

As vozes de outra dupla sertaneja reverberam agora dentre as paredes de meu isolamento, meu apartamento. Sim, a Escola de Frankfurt.  Para não me alongar muito cito Herbert Marcuse, Theodor Adorno e Marx Horkheimer. Esta escola, também conhecida como Escola Crítica (ou seria Escola Cínica?) tem (ou tinha) a pretensão de estabelecer novos parâmetros sociais com base no marxismo, ou seja, reorganizar toda a sociedade e dar início a um movimento de contracultura. Adorno voltou-se à sociedade de mercado. Marcuse, por sua vez, creio que vitimado por uma espécie de obsessão, divulga uma teoria social crítica, onde visa superar a sociedade industrial que, segundo ele, é exploradora, bem como busca resgatar o que chama de racionalidade crítica. Sim, Marcuse, coitado, tenta até aliar a sexualidade freudiana com o comunismo marxista. Não é triste?

Sim, a escola em questão, a Escola Crítica, experimentou sua derrocada. Contudo, surge um novo bastião (eu não me referi a nenhum Sebastião), ou melhor, um guardião: o guardião que zela pela tumba da Escola de Frankfurt: Jürgen Habermas! Sim, Habermas criou uma tal de “Ética do Discurso”, que deve primar pela racionalidade e argumentação no conduzir as decisões humanas. Perdoem-me, mas no momento em que abro mais uma cervejinha bem gelada, passo a entender a filosofia de Habermas. Sim, o princípio é simples: “É conversando que a gente se entende”. Quereis lugar melhor do que mesa de bar? (Tudo a ver com a sofrência que ora me abala os tímpanos). Pena que George Bush ou Vladimir Putin não conheceram a filosofia de Habermas, pois se a tivessem conhecido o Iraque e a Ucrânia não teriam sofrido invasões. Será?

Curioso: os filofastros e seus filosofemas (palavras de Schopenhauer) contestam em muito a metafísica, mas alguns destes empregam - ou desperdiçam - seu tempo para discorrer sobre utopias. Quereis mais um exemplo? Ernst Bloch. De que trata o “Princípio Esperança” senão de mais uma utopia? Creio que sua inspiração tenha vindo de Morus, ou de Campanella, ou Platão, ou ainda Kant. Todavia, o novo marco da filosofia social - ou seria filosofia da sofrência? - tem por nome Michel Foucault. Desidratei-me (haja vista meu pranto) ao ler páginas que discorriam sobre o Sistema Penal, a tecnologia do poder e a violência das prisões. E pasmai, a coisa tem origem no Pan-óptico de Jeremy Bentham, um utilitarista.  

Não, não desanimeis; não experimenteis o descoroçoamento! Enfim, a filosofia visa apenas orientar nosso pensar (algo que não provoca dor). Ora, se vosso pensamento rebelar-se contra a “ordem filosófica vigente”, isso é sintoma claro de que a filosofia mesma está resgatando seu devido e justo lugar.  

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Torres de Babel

 

É incrível como o conhecimento pode transformar pessoas. Evidentemente que falo de parte do conhecimento; da porção de um todo. Contudo, em geral, indivíduos que assimilam algo de ciência, mostram-se extremamente pretensiosos. Raras são as vezes em que alguém com experiência, com melhor formação, revele alguma humildade. A bazófia é capaz de suplantar qualquer ínfima instrução. Então sou levado a crer que somente a sabedoria é humilde. A jactância, a soberba desconhecem a modéstia, a sobriedade. Os seres humanos, assim que dominaram a técnica de fazer tijolos, projetaram a construção de uma torre capaz de alcançar os céus. Por que a empáfia e, consequentemente o desafio?  

Acredito que, diariamente, existam tentativas para se erguer outra torres, outras babéis. Não creio exagerar quando uso o termo diariamente, tendo em vista a celeridade do desenvolvimento científico. Já percebestes que quanto mais a ciência acredita progredir, mais ela quer desafiar, mais quer sobressair e desacreditar o imensurável? Ora, não se pode culpar o conhecimento, a ciência, a tecnologia ou algo que o valha por esta faceta circunstanciada. Fato é que, dificilmente, seres humanos se valem da ciência para corroborar narrativas e/ou fenômenos religiosos. Muito pelo contrário, os enfatuados buscam aprofundar cada vez mais o fosso entre ciência e religião. Eis a vetusta rivalidade entre ciência e fé.

Todavia, nos dias de hoje, não se faz necessária a criação de diferentes línguas para pôr limites à vaidade humana. Ela mesma, a soberba, encarrega-se de colocar freio nas pretensões humanas. Sim, a altivez que contempla sobremodo a egoidade põe por terra a partilha de informações. E o que presenciamos, enfim? Uma briga de egos. E essa contenda impede qualquer construção. Não vos enganeis: a vaidade humana atingiu nível tão elevado, que sequer percebe-se os escombros das desejadas construções. Com muito pesar afirmo-vos que ciência é pretensão, é enredo, é maquinação. 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Uma guerra estimulada


Era uma vez um cidadão chamado Hunter Biden, advogado e lobista, sócio de uma empresa de consultoria internacional, a Rosemont Seneca Partners. Ele também atua no conselho da Burisma Holdings, empresa ucraniana produtora de gás. Bem, sabe-se que grande parte do gás utilizado em toda a Europa tem origem na Rússia. Este o primeiro obstáculo para o crescimento da empresa ucraniana, ou melhor, para Mr. Biden disponibilizar o gás ucraniano para toda a Europa. E como fazê-lo? Putin, já em 2014, reanexara a Criméia, território ucraniano. O governo russo quer aumentar a zona de influência soviética. Como resolver o impasse? Sim, seu pai, Joe Biden, político de carreira, tinha pretensões de ocupar a Casa Branca. Por que não uma ajudinha? Hunter Biden fez-se mais próximo da Rússia, do presidente Vladimir Putin, bem como de empresários russos. Lá, ele contratou hackers para interferirem nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, de modo a transformar papai Biden em presidente. Se desse alguma coisa errada, a Rússia seria responsabilizada. E parece que, apesar das muitas reclamações de Donald Trump, tudo acabou dando certo: papai foi catapultado ao Salão Oval.

Por outro lado, na Ucrânia, um ex-humorista fora eleito para a presidência. Este, Volodymyr Zelensky, esforça-se por disfarçar sua faceta neonazista. Sim, ele apoia as ações de seguidores que perseguem ciganos e também judeus. Hunter Biden, de modo pragmático, ocupa-se apenas com os lucros; não há a menor preocupação com o “pogrom” executado pelos ucranianos. Mas como fazer para lançar a Ucrânia no cenário mundial, apesar das perversões de Zelensky e seus eleitores? Papai Biden teve uma excelente ideia! “Sim, é isso: façamos com que Putin invada a Ucrânia, pois a Rússia não aceitaria a Ucrânia com soberania independente”. Mas como provocar Putin? A Ucrânia deveria tornar-se membro da OTAN.

A OTAN, uma aliança militar, fora criada para estabelecer limites à influência soviética quando na Guerra Fria. Sim, agora a estratégia ocidental entendia que o leste europeu precisava tomar vulto. Isso deixaria Putin acuado. Muito embora a retomada da Criméia, a Rússia ver-se-ia comprometida econômica e estrategicamente; ela ficaria isolada da Europa e teria barrada sua saída para o Mar Negro. Sim, como membro da OTAN, a Ucrânia estaria segura e prestaria “inestimável favor” aos aliados: Os Estados Unidos, por certo, lá instalariam uma base militar - quem sabe desfrutar de uma tardia justiça pelo fato de ter a Rússia colocado mísseis em Cuba, nos anos sessentas, e ter tirado o sono de John F. Kennedy?  

Ao tentar impedir este desastre geopolítico, a Rússia ficaria mal vista diante de todas as nações, pois estaria mais uma vez invadindo o país vizinho, uma nação irmã. Para que o plano desse certo, no entanto, o presidente Biden precisava do apoio de líderes europeus. Logo, reuniu-se com Boris Johnson (primeiro ministro inglês), Emmanuel Macron (presidente francês), Olaf Scholz (o sucessor de Angela Merkel na Alemanha) e representantes dos demais países membros da OTAN. O mote da conversa seria: “Não nos preocupemos com o gás russo; que tal o gás ucraniano para abastecer toda a Europa?” Nada obstante, por trás de todo esse enredo macabro, pode-se perceber a arquitetura geopolítica de uma eminência parda: a Nova Ordem Mundial.

Apesar de todas as ameaças, Vladimir Putin não se deixou abater. Eis as “Razões de Estado” defendidas pelo Cardeal de Richelieu. O que antes não passava de movimentação de tropas, recurso utilizado para atemorizar o governo ucraniano, culminou em invasão. Mas a guerra fora anunciada muito antes de seu início. Havia uma quase que propaganda diária feita pelas agências de notícias. Inclusive, muitos embaixadores estrangeiros, lotados na Ucrânia, concederam entrevistas e falavam da tranquilidade nas ruas de Kiev. Bem, com a invasão, de fato, - objetivo alcançado pelos europeus - a Rússia, deveria ser demonizada, odiada por todas as nações. Como? Simples, tornando os invasores em bárbaros.

De início, Putin declarou estar lutando para desnazificar a Ucrânia. Os alvos do exército russo, portanto, voltam-se às bases militares ucranianas, a depósitos de armamentos, a invasão e tomada de gasodutos. Uma curiosidade: Por que os militares russos não priorizaram a tomada de usinas atômicas? Bem, mas reportagens e cenas de ataques feitos a civis, a colégios, hospitais, igrejas, creches, etc. abundam os noticiários em todo o mundo. Na mesa de negociações a Rússia aceita estabelecer tréguas, desde que os corredores humanitários conduzam os refugiados para solo russo. Por que? Os invasores querem abrigar civis inimigos?

Ora, apesar dos ataques mostrarem-se aleatórios, um hotel no centro de Kiev, que abriga toda a imprensa internacional, permaneceu e permanece intacto. Sorte? Coincidência? Não. Busquemos saber que civis morreram nesses bombardeios. Eram ciganos, seus descendentes e familiares; eram judeus, seus respectivos descendentes e familiares. Zelensky está realizando uma eugenia com o apoio do ocidente; ele garante estar atacando somente separatistas, simpáticos a Moscou e partidários do ex-presidente Yanukovych. Apenas dois jornalistas foram assassinados. Por que razão? Certamente pretendiam contar ao mundo a verdade sobre o ataque a civis. Uma jornalista francesa está sendo perseguida por não se render aos interesses das agências de notícias. Dois militares ucranianos de alta patente foram presos e acusados de traição pelo presidente humorista. Como? Que tipo de traição? Decerto os militares recusaram-se a representar a comédia conduzida por Zelensky e os aliados ocidentais.

E tiveram lugar sanções econômicas, políticas, sociais e até esportivas, propostas pelos membros da OTAN e da ONU. Um estranho consenso entre países europeus e Estados Unidos ameaçam a Rússia com a expulsão do G20. O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se em caráter emergencial para condenar a invasão, mas foi impedido pela Rússia, membro efetivo, que detém poder de veto. Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores, procura esclarecer a série de acusações infundadas que correm pelo mundo, via imprensa. O embaixador da Rússia no Canadá, através de uma carta aberta, aponta as notícias falsas partilhadas pelos ocidentais.

Curiosamente, não se tem, nem de modo aproximado, um número de baixas para o exército russo; só sabemos das mortes de civis ucranianos. Que tipo de guerra é essa que só se registra as mortes civis de um único combatente? Zelensky sempre aparece nos noticiários, com modos afetados e a ressaltar sua posição de vítima, de injustiçado, de perseguido. Os jornais ocidentais, por unanimidade, enquanto disseminam notícias de um possível uso de armas químicas e/ou nucleares por parte dos russos, fazem do exército ucraniano, um exército de heróis; fazem do povo ucraniano, vítimas de um maníaco assassino. Biden já declarou que Putin deveria deixar a presidência da Rússia (isso seria bem oportuno, não?). Donald Trump veio a público e pediu a Putin que diga ao mundo quem é Hunter Biden. Que bom seria para todos!

Feliz ou infelizmente, em face dos constantes ataques, o gás da Ucrânia não chegou a Europa. Os soviéticos continuam suprindo a zona do Euro com gás, mas ameaçam suspendê-lo caso verifique ataque por parte dos países membros da OTAN. A partir de 1º de abril, decreto do Kremlin determina que países hostis abram conta em banco russo para realizarem pagamento em rublos pelo gás adquirido. Isso visa minimizar os efeitos das sanções econômicas impostas pelos ocidentais. Quais seriam os países hostis? Ora, os Estados Unidos e demais membros da OTAN, a título de auxílio, - uma cínica solidariedade - enviam armamentos para as forças armadas ucranianas, prometem empréstimos de bilhões de dólares e comprometem-se a receber refugiados.

Uma última questão: a Rússia estaria isolada neste panorama bélico? Não, ela tem o apoio de Belarus, da China e, recentemente, a Coreia do Norte, com seu jeito furtivo de ser, lançou um míssil balístico com autonomia para chegar aos Estados Unidos. O dito míssil caiu no mar do Japão. King Jong-un, por certo, deve ter pensado: “O recado está dado!” Porém, creio que isso não faça parte dos projetos da família Biden.