Não sei se por conta da vintage condição (entrado em anos), sinto-me na quase obrigação de deixar um legado às gerações futuras. Têm lugar, então, não poucas perguntas. Bem, na tentativa de responder ao como, esbarro-me na possibilidade - ou quase certeza - de que o que entendo por comunicação já seja algo obsoleto. Afinal, as pessoas estão a evitar o convívio; as relações, a cada dia, tonam-se mais e mais virtuais. Será que o livro estaria “desinventado”? E a linguagem articulada; ainda em uso? Será que a tão propagada liberdade - irrestrita liberdade - não teria dizimado os núcleos sociais? Não teria o libertarismo conduzido a uma inimizade globalizada?
Ocorre-me deixar mensagens em
garrafas... mas o vidro ainda seria usado; seria ainda conhecido? Exagero
pensar que o mundo acabará inundado por garrafas pet? Oh civilização, o quanto
foste descuidada! Oh ciência, quanta irresponsabilidade! E as pessoas, ainda
falarão em felicidade? Sim, a felicidade proposta até então é nada mais que a
criação de situações e ambientes que assemelham-se a parques temáticos. Ser
feliz é poder e saber usufruir do que o grande parque propõe. O mundo temático
estimula o passeio, o recreio, a diversão, a superficialidade, o fútil. O
grande parque temático é nada mais que o corroborar do panem et circenses.
Não poucos os que submetem-se a
ditames subsumidos em talentosas falácias. Vítimas de manipulada informação
permitem-se iludir e sonhar com status
diferenciados: há os que dizem viver bem, vestir bem, viajar pelo mundo, morar
bem... Conheci um que enfunava-se simplesmente ao soletrar seu pretenso
endereço: Wilhelmstrasse! Isso depois
de, quando menino, ter que andar coisa de 3 quilômetros, diariamente, para
encher um carrinho de mão com serragem para poder manter limpo o galinheiro que
servia à família. Eis a realização de um sonho! Lamentável. Ou seria patético?
Por favor, nada de risos.
Em suma: o que dizer? Que mensagem
deixo aos possíveis sobreviventes deste antro de hipocrisia? Algo me vem à
mente: são imperativos, somente imperativos. Sim, desdenhai do mundo, de suas
demandas, de suas expectativas. Fazei-vos calados, taciturnos; nada de
julgamentos, nada de opiniões, mesmo quando em família. Sufocai vosso eu; se o
eu inexistir, não conhecereis a afronta, a ofensa, a intimidação. Iluminai o
entorno com o melhor de vossa criação, de vossa imaginação. Então ... o mundo
te será devedor.
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