Eu tentei; juro que tentei, mas... talvez, por ter-me apegado à classificação aristotélica de que a filosofia primeira, o βιοσ τεορετικως, a vida contemplativa é a verdadeira filosofia - a que se volta aos temas metafísicos -, sinta certa ojeriza ao tratar de objetos que fujam do exercício puramente intelectual. Ora, se a filosofia não tem finalidade, ao tratarmos de ética ou de política estaremos às voltas com ciências práticas; se falarmos em estética ou técnica estaremos voltados às ciências produtivas; quando na busca de compreender os fenômenos naturais dedicamo-nos às ciências da natureza.
Contudo, devo reconhecer, que a
filosofia social tomou vulto no século passado. E para não ser taxado de
preconceituoso (os filosofastros adoram valer-se deste predicativo), vou tentar
relatar, e de modo isento, minha experiência com essa nova “vertente”
filosófica. Comecemos por Proudhon: Diz-nos ele que toda propriedade é um
roubo. A fonte única e legítima da propriedade seria o trabalho. Sério? Isso
precisa ser mais divulgado! Conheço certa pessoa que trabalhava como zelador de
jardim zoológico, mas hoje é sócio majoritário de grandes empresas, tem
fazendas de gado e anda de jatinho particular pra lá e pra cá. Sim, o pai dele,
além de não trabalhar, tem um sítio em Atibaia e um apartamento tríplex no
Guarujá.
Bem, agora a obra de karl Marx, enquanto
degusto alguns goles de cerveja: trata-se de uma teria social preocupada em
culpar a burguesia, ou seja, os comerciantes e artesãos que se livraram dos
senhores feudais e acabaram por enriquecer comercialmente. A divisão em classes
sociais surge de modo espontâneo, e como consequência, demandas e contradições
típicas da natureza humana. Papai uma vez me falou: - “Filho, se algum dia o
empregado ganhar mais que o patrão, ele vai se tornar teu empregado e te
promove a patrão”. Simplificando: ao final do obra, andei pelas raias da
depressão.
Eis o “pontapé inicial” nas
desventuras filosóficas! Como sucedâneo, um cidadão chamado Jean-Paul Sartre assimilou
- e muito mal - o existencialismo cristão (algo que contempla o livre-arbítrio)
pensado por Soren Kierkegaard, e vinculou-o ao marxismo, criando, portanto, uma
aberração, isto é, o existencialismo ateu. Aqui uma pausa para que eu sintonize
meu rádio numa dupla sertaneja. Continuemos, pois. O pensamento de Sartre fala
em liberdade irrestrita, pois o homem estaria condenado a ser livre. Essa
liberdade irrestrita, estaria afeita à responsabilidade. Convoco-vos ao pensar:
O sujeito deve gozar de uma liberdade irrestrita dentro da sociedade em que
vive. Parece-me, salvo melhor juízo, que os membros da sociedade desfrutam da
mesma liberdade da raposa no galinheiro. A sociedade tornar-se-á impraticável. E
pergunto-vos: como, depois de proporcionar ampla liberdade ao cidadão, exigir
dele responsabilidade? Na falta de outro termo, valer-me-ei de Utopia.
A então esposa de Sartre, Simone de
Beauvoir, sai em defesa da mulher. Sim, ela mostra-se contrária ao princípio de
que as mulheres são culpadas pela violência de que são vítimas. Creio que a
filósofa deve ter inspirado o Projeto de Lei “Maria da Penha”. Muito embora
partilhe de seu pensamento, cansa-me o discorrer piegas; é algo de cortar o coração.
Simone ainda declara não caber ao homem e/ou a o Estado ditar normas sobre o
comportamento feminino. Pelo exposto, devemos banir quaisquer resquícios de
direito privado. Começo também a intuir um primeiro rasgo na tentativa de
aniquilação da estrutura familiar.
As vozes de outra dupla sertaneja
reverberam agora dentre as paredes de meu isolamento, meu apartamento. Sim, a
Escola de Frankfurt. Para não me alongar
muito cito Herbert Marcuse, Theodor Adorno e Marx Horkheimer. Esta escola,
também conhecida como Escola Crítica (ou seria Escola Cínica?) tem (ou tinha) a
pretensão de estabelecer novos parâmetros sociais com base no marxismo, ou
seja, reorganizar toda a sociedade e dar início a um movimento de contracultura.
Adorno voltou-se à sociedade de mercado. Marcuse, por sua vez, creio que
vitimado por uma espécie de obsessão, divulga uma teoria social crítica, onde
visa superar a sociedade industrial que, segundo ele, é exploradora, bem como busca
resgatar o que chama de racionalidade crítica. Sim, Marcuse, coitado, tenta até
aliar a sexualidade freudiana com o comunismo marxista. Não é triste?
Sim, a escola em questão, a Escola
Crítica, experimentou sua derrocada. Contudo, surge um novo bastião (eu não me
referi a nenhum Sebastião), ou melhor, um guardião: o guardião que zela pela
tumba da Escola de Frankfurt: Jürgen Habermas! Sim, Habermas criou uma tal de “Ética
do Discurso”, que deve primar pela racionalidade e argumentação no conduzir as
decisões humanas. Perdoem-me, mas no momento em que abro mais uma cervejinha
bem gelada, passo a entender a filosofia de Habermas. Sim, o princípio é
simples: “É conversando que a gente se entende”. Quereis lugar melhor do que
mesa de bar? (Tudo a ver com a sofrência que ora me abala os tímpanos). Pena
que George Bush ou Vladimir Putin não conheceram a filosofia de Habermas, pois
se a tivessem conhecido o Iraque e a Ucrânia não teriam sofrido invasões. Será?
Curioso: os filofastros e seus
filosofemas (palavras de Schopenhauer) contestam em muito a metafísica, mas
alguns destes empregam - ou desperdiçam - seu tempo para discorrer sobre
utopias. Quereis mais um exemplo? Ernst Bloch. De que trata o “Princípio
Esperança” senão de mais uma utopia? Creio que sua inspiração tenha vindo de Morus,
ou de Campanella, ou Platão, ou ainda Kant. Todavia, o novo marco da filosofia
social - ou seria filosofia da sofrência? - tem por nome Michel Foucault. Desidratei-me (haja vista meu pranto) ao ler páginas que discorriam sobre o Sistema Penal, a tecnologia do poder e a
violência das prisões. E pasmai, a coisa tem origem no Pan-óptico de Jeremy
Bentham, um utilitarista.
Não, não desanimeis; não experimenteis
o descoroçoamento! Enfim, a filosofia visa apenas orientar nosso pensar (algo
que não provoca dor). Ora, se vosso pensamento rebelar-se contra a “ordem
filosófica vigente”, isso é sintoma claro de que a filosofia mesma está
resgatando seu devido e justo lugar.
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