sábado, 9 de abril de 2022

Asquiminofobia

 

Bem, como o termo foi criado por mim, tenho por obrigação discorrer, mesmo que brevemente, acerca de suas raízes, isto é, prefixo, sufixo, significados, etc. Contudo, se tendes alguma preocupação com o conceito, ei-lo: O termo em questão aponta para os que repudiam as coisas e pessoas não belas (em alguns casos, não belas seria um eufemismo). Sim, eu falo daqueles que criticam, sentem-se mal, desconfortáveis e/ou nada à vontade diante da feiura. Neste ponto, por certo, dir-me-ão: “Gosto não se discute!” (Eita chavão sem graça e démodé.) Respondo-vos: “O que não se discute é o mau gosto”. Antes mesmo de haver conhecimento, faz-se presente em todo ser humano um momento estético. Esse momento estético contempla a harmonia de formas, desperta conforto, bem estar e permite a criação de signos. Os signos, então, despertam ou não o interesse pelo conhecimento. Por favor, vós que primais em difundir estereótipos, procurai, pelo menos por breves instantes, conter os impulsos que vos foi introjetado pela doutrinação a objetivar, apenas, o ensejo de uma guerra cultural.  

Continuando. Eu poderia ter usado um termo latino, afinal nossa língua, o português, é devedor de raízes gregas e latinas. Todavia, optei pelo grego, na tentativa de cultuar o saber nos possíveis leitores. Por que não usar o termo pulcritude? Em primeiro lugar, a pulcritude não faz parte do vocabulário da juventude forjada pela educação freireana e que tão bem representa nossa Pátria Educadora. Em seguida, o não pulcro seria o horroroso, o horrendo. Ora, a não beleza, necessariamente, não se traduz por algo horrendo. Então ocorreu-me lançar mão do grego, já que a palavra fobia - também de origem helênica - tem sido usada sem o menor critério nos dias atuais. Logo, o termo ασχημία - aschimía - a feiura, expressaria melhor o sentimento negativo diante do não agradável, do não harmônico.

Dito isso, doravante o termo asquiminofobia deverá ser entendido como característica de pessoas que experimentam desprazer, repulsa, aversão ou até mesmo ojeriza, em face de imagens, coisas ou pessoas que careçam de pulcritude, ou melhor, de objetos esteticamente incorretos. Atenção: pessoas tornam-se objetos quando em face de uma relação epistemológica, isto é, relação sujeito (que quer conhecer) X objetos (que dão-se a conhecer). Então, após divulgar esta minha pesquisa linguística, começo a ouvir rumores nada agradáveis, inclusive, a sofrer críticas ferrenhas, a receber epítetos os mais variados e até mesmo desconhecidos. A coisa varia do “preconceituoso” ao “estético-fascista”.

Mas o que é isso minha gente? Eu já ouvi muita coisa; soube por oitiva (imprensa ou redes sociais) de pessoas que manifestam as mais variadas fobias: autofobia, aracnofobia, claustrofobia, etc. Há também as que demostram falhas de caráter: heterofobia, homofobia, etc. No entanto, preconceito com a feiura, pelo menos para mim, (não sou nenhum Apolo ou Narciso) é algo inusitado. Ora se houvesse, de fato e de direito, asquiminofobia no Brasil, certamente Alexandre de Moraes - nosso gato Sphynx que sofre de alopecia - e Carmem Lúcia - exemplar feminino de Bento Carneiro, vampiro brasileiro - não se teriam tornados Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Nada obstante, pode-se dar início a Projeto de Lei que criminalize a asquiminofobia. Se bem que, tanto a Câmara quanto o Senado Federal, assim creio, jamais pautariam o tema. Se ainda “algumas belezuras” (prefiro não citar nomes) estivessem no exercício do mandato...  Mas, muita calma nessa hora. A pensar melhor, certa ideia começa por se me fazer presente. Por que não “estimular” o STF? Não foi assim com as Fake News? Sim, que tal as pessoas usarem as redes sociais para chamarem Suas Excelências de feias? (pulcros seria mais educado). Em pouco tempo, posso vos afiançar, surgirá alguma decisão acerca de criminalizar a asquiminofobia e isso será encarado como ato ex officio. Difícil mesmo será encontrar um ministro relator que, em face de carências estéticas, possa não declarar conflito de interesses.  

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