A cidadezinha imersa em clima ameno. Pouquíssimas ruas. Na praça principal, como sempre, a majestosa igreja. Ainda na praça a feira livre dos sábados. O vaivém de pessoas cruzando as ruas não é atípico. Contudo, algum político torpe, a título de “boa campanha”, mandou asfaltar a avenida principal, onde se exibem bons cavaleiros e incautos motociclistas. Mas no todo são pessoas simples, acanhadas e de fácil manipulação; a baixa instrução permite tais recursos. Quisera auxiliá-los, mas... como? As escolas atendem apenas as demandas de uma pedagogia espúria. Sim, ocorreu-me; e por que não? Juntei meus parcos recursos e inaugurei uma livraria bem em frente a lagoa que ornamenta o lugar.
Empresarialmente falando, experimentei
mais um fracasso. Passaram-se dias, semanas, meses e nada... nem uma venda. Não,
não me faltaram visitas; pessoas entravam, olhavam, os mais atrevidos folheavam
exemplares, sorriam para mim e retiravam-se de modo silente. Certa feita,
enquanto aguardava por “possível” cliente, dispus-me a ler certa reportagem de
um semanário: o tema versava acerca de alguém que, preocupada com a quantidade
de pessoas despidas, se dispusera inaugurar uma boutique na aldeia indígena. Em
uma analogia nada grosseira, repeti de mim para comigo de que aquele povo
estava despido de conhecimento.
Enfim, o que mais poderia ser feito? Infelizmente
eu e a cidadezinha éramos, de fato, retas paralelas. Encontrar-nos-íamos no
infinito? Nada de arrependimentos, nada de conflitos, nenhuma mesquinhez ou
jogos de interesses. Para meu conforto, portanto, assumi uma postura
matemática, ou seja; entre mim e a cidade havia algo como uma assíntota: com o
tempo, a distância entre a reta e a curva tornar-se-ia cada vez menor.
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