sábado, 29 de março de 2025

Paradigmas

 

“A única coisa que temos que temer é o próprio medo”. As palavras de Franklin D. Roosevelt levaram-me a pensar. Já percebestes que somos criados sob o domínio do medo? Atentai: eu não falo em prudência! Fomos moldados de tal forma que em tudo identificamos perigos e /ou ameaças, independentemente se reais, hipotéticas ou imaginárias. Somos ensinados a tudo temer; o temor nos é imposto. Como é possível uma convivência pacífica onde o medo é algo cultural? Com o medo vem a desconfiança, o que talvez explique a agressividade, a violência. Nas relações sociais esse construído receio já nos passa despercebido; cautela ou precaução seriam apenas eufemismos. É pertinente lembrar-vos de que os animais, domesticados ou não, percebem nosso medo. A coragem sim, a firmeza de ânimo teria poder sobre a criação.

Mas este paradigma educacional não se apresenta de modo isolado. Pergunta-se: Afinal, por que tanto temor? E a resposta certamente referir-se-á à preservação da vida. Bem, preservar a vida não constitui problema algum; o problema reside na morte. E, salvo melhor juízo, não se teme a morte, mas o desconhecido. Segundo o que nos é passado, a morte assume um status de punição, de castigo, de penalidade. Constantemente somos ameaçados com a morte. Ora, viver é um postulado da natureza. Porventura a morte seria contrária à natureza? Pelo que me consta, a morte é algo natural; morte e vida são correlativos necessários. Percebei: ao nos colocarmos contra a morte, colocamo-nos contra a natureza que dizemos defender.

Em verdade, os padrões comportamentais a que somos submetidos objetivam apenas a preservação do ego. Sim, por trás de tudo está o culto ao ego. O Eu desfruta de uma posição privilegiada desde tenra idade. Os pais e também a sociedade nos estimulam à satisfação pessoal. O “respeito” ao Eu já tomou rumos inimagináveis. Entretanto, devo alertar-vos: na passagem da preconsciência para a autoconsciência o Eu, em contato com o mundo exterior, busca afirmar-se, quer reconhecimento. Não, não vos enganeis, pois o culto ao Eu não tem como consequência apenas o egoísmo. Essa veneração imoderada ao Eu leva, invariavelmente, à vaidade, à arrogância, à prepotência, à satisfação desenfreada, à sensualidade exacerbada, à inveja, ao ciúme, à agressão, à violência, ao crime... E como o desejo não conhece a saciedade, o ego fará de tudo para colocar-se cada vez mais em destaque. A autoconsciência, no desfrutar da liberdade, busca a todo custo postar-se acima até mesmo da sociedade que a abriga. A consciência, ao desconhecer limites, opta pelo Eu e desconsidera tudo o mais.

Logo, rogo a todos vós empenhados no culto ao Eu, não venhais discorrer acerca do respeito ao próximo, da solidariedade, de direitos, etc. Antes de tudo devíeis temer o vosso e os outros egos!            

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