“A única coisa que temos que temer é o próprio medo”. As palavras de Franklin D. Roosevelt levaram-me a pensar. Já percebestes que somos criados sob o domínio do medo? Atentai: eu não falo em prudência! Fomos moldados de tal forma que em tudo identificamos perigos e /ou ameaças, independentemente se reais, hipotéticas ou imaginárias. Somos ensinados a tudo temer; o temor nos é imposto. Como é possível uma convivência pacífica onde o medo é algo cultural? Com o medo vem a desconfiança, o que talvez explique a agressividade, a violência. Nas relações sociais esse construído receio já nos passa despercebido; cautela ou precaução seriam apenas eufemismos. É pertinente lembrar-vos de que os animais, domesticados ou não, percebem nosso medo. A coragem sim, a firmeza de ânimo teria poder sobre a criação.
Mas este paradigma educacional não se
apresenta de modo isolado. Pergunta-se: Afinal, por que tanto temor? E a
resposta certamente referir-se-á à preservação da vida. Bem, preservar a vida
não constitui problema algum; o problema reside na morte. E, salvo melhor
juízo, não se teme a morte, mas o desconhecido. Segundo o que nos é passado, a
morte assume um status de punição, de
castigo, de penalidade. Constantemente somos ameaçados com a morte. Ora, viver
é um postulado da natureza. Porventura a morte seria contrária à natureza? Pelo
que me consta, a morte é algo natural; morte e vida são correlativos
necessários. Percebei: ao nos colocarmos contra a morte, colocamo-nos contra a
natureza que dizemos defender.
Em verdade, os padrões comportamentais
a que somos submetidos objetivam apenas a preservação do ego. Sim, por trás de
tudo está o culto ao ego. O Eu desfruta de uma posição privilegiada desde tenra
idade. Os pais e também a sociedade nos estimulam à satisfação pessoal. O
“respeito” ao Eu já tomou rumos inimagináveis. Entretanto, devo alertar-vos: na
passagem da preconsciência para a autoconsciência o Eu, em contato com o mundo
exterior, busca afirmar-se, quer reconhecimento. Não, não vos enganeis, pois o
culto ao Eu não tem como consequência apenas o egoísmo. Essa veneração
imoderada ao Eu leva, invariavelmente, à vaidade, à arrogância, à prepotência,
à satisfação desenfreada, à sensualidade exacerbada, à inveja, ao ciúme, à agressão,
à violência, ao crime... E como o desejo não conhece a saciedade, o ego fará de
tudo para colocar-se cada vez mais em destaque. A autoconsciência, no desfrutar
da liberdade, busca a todo custo postar-se acima até mesmo da sociedade que a
abriga. A consciência, ao desconhecer limites, opta pelo Eu e desconsidera tudo
o mais.
Logo, rogo a todos vós empenhados no
culto ao Eu, não venhais discorrer acerca do respeito ao próximo, da solidariedade,
de direitos, etc. Antes de tudo devíeis temer o vosso e os outros egos!
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