terça-feira, 29 de setembro de 2020

Os novos intelectuais

 

O termo novo, além do ineditismo, da originalidade, pode significar também algo recente, o que sucede e atualiza o já existente. Todavia, não se deve confundir essa sucessão e/ou atualização como uma evolução linear. Intelectual, por sua vez, nos leva a imaginar pessoa ou pessoas com amplo domínio do intelecto; detentores de inteligência em atividade permanente; alguém com grande cultura. Fala-se também que o intelectual é aquele que produz pensamentos; pessoa que vive exclusivamente de seu intelecto. Contudo, será que semelhante descrição conceitual pode ser corroborada em dias atuais? Vejamos.

Se não me engano, toda essa nova casta - faço uso do termo casta porque “os novos intelectuais” entendem-se como classe privilegiada, e por isso mesmo desvinculado dos demais - tem uma origem comum. A coisa teve início após a publicação do Manifesto Comunista em 1848. Ao discurso marxista somou-se a hegemonia cultural proposta por Gramsci. Não vos enganeis: nossa Semana da Arte de 22 foi fruto desta aberração. Estava, portanto, levada a efeito a ruptura conceitual com o que os radicais chamam arte burguesa. Por fim, em 1930, teve lugar a Escola de Frankfurt, com seu programa interdisciplinar e materialista. O que vimos surgir? Uma teratocultura. E a agressão tão marcante na arte - literatura, cinema, poesia, dança, pintura, etc. - retrata apenas a decantada “Luta de Classes”. 

As monstruosidades daí originadas, através da falácia e de uma tacanha hermenêutica filosófica psicologista, fizeram da catarse a única origem da arte. Com a desculpa de fugir à visão burguesa de arte e cultura, jovens são doutrinados a abandonarem regras e conhecimentos fundamentais à execução musical; são convocados ao olvido de regras gramaticais na composição de textos; são instados ao empenho de criar versos brancos no que chamam poesia; são conduzidos à pintura abstrata, se bem que distante de qualquer abstração, valor e/ou sensibilidade; são intimados a movimentos de corpos que exteriorizem sensualidade, como mais um recurso para desacreditar valores e religiosidade . Não vos deixeis iludir: a excreção em série deu origem a patente crise na criatividade. Basta observarmos que até contos infantis são vítimas de “releituras”. Eis ai a hegemonia cultural defendida por Gramsci.

Mais curioso ainda é perceber que a “emancipada” juventude vive intensamente uma entropia e dela se nutre. É patente a desordem em todo o sistema. Sim, contudo, eles - a juventude - convivem muito bem com os males que lhes foram impostos, até porque são incapazes de perceber que a isso foram conduzidos e estimulados. E vós me perguntais: quem está por trás disso? A casta de que falamos; essa é sua função primordial.

Bem, então agora já podemos retomar o conceito de “novos intelectuais”: arrogância humanoide, caracterizada pela incapacidade de abstrair, e, por isso mesmo, a fazer uso de chavões e slogans, dizendo promover rupturas, muito embora tenha por base criações batizadas de burguesas, a partir das quais estabelece um espúrio ineditismo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Caminhos que levam a lugar nenhum

 

A primavera chegou ainda ontem. Calor, suor ...  afinal é Brasil, clima tropical, hemisfério sul. Recordo-me com dificuldades de que já li em algum lugar algo como: “tudo se dilui abaixo dos trópicos”. Esta talvez seja a versão mais elitizada do mote “não existe pecado do lado de baixo do Equador”. Bem, e o que fazer em tais circunstâncias? A casa está imersa em si mesma; as pessoas habitam seus próprios vazios. Torna-se imprescindível, assim acredito, o caminhar: um caminhar lento, tranquilo; um fazer quiescente. Poxa, como eu gostaria de passear por bosque qualquer (seria a síndrome do Chapeuzinho Vermelho?), um lugar de clima ameno, uma floresta talvez.

A falar em floresta, recordo-me de Martin Heidegger e seu Holzwege, traduzido para o português por “Caminhos de Floresta”. Sim, quisera poder desfrutar de um similar de Floresta Negra, um lugar cheio de deuses, andar sem rumo por suas trilhas. Quisera poder errar por tais veredas... Não sei ao certo, ocorre-me que o ambiente pode influenciar no tema lucubrado, por mais que nos preocupemos com determinado assunto. Seria, de fato? Quando caminhamos não escolhemos o que pensar; apenas pensamos. Heidegger ocupou-se até mesmo em saber “O que é uma coisa?” “Was ist eine Ding?”

Diferentemente de Heidegger, até porque distante da Floresta Negra, dou azo a meus pensamentos. Permito-me formar a ideia de certo ambiente voltado às artes, porém com designe de cafeteria. O título? “Arte, café e açúcar”. E já que a língua alemã faz-se presente, que tal “Kunst, kaffee und Zucker?” Sim, lá, neste espaço por mim idealizado, enquanto apreciássemos “vernissages”, independente se pintura, literatura, teatro, dança, música, etc., poder-se-ia degustar um bom café, algo bem brasileiro. Ter-se-ia outrossim uma boa carta de vinhos, alguns frios e, quiçá, uma invejável coleção de whiskies. Na ausência de atividades artísticas, seria disponibilizada música clássica ou um bom jazz, livros, jornais e tabuleiros de xadrez... Mas o que é isso? Estarei em transe?

Pelo visto, estes são “Caminhos que levam a lugar nenhum”. A propósito, o título do presente texto é homônimo a designação em francês para a tradução do Holzwege. Sim, preciso afastar-me deste pensar que conduz ao delírio; preciso do diverso. Torno-me, então, atento ao entorno. Ouço um toque de clarim, ou seria uma simples corneta? Claro, trata-se de ordem unida; estou de frente a um quartel. Busco e rebusco em minha já depauperada memória os esquecidos conhecimentos musicais. Tento escrever uma pauta. A clave de Sol, compasso 4/4. E tem lugar minha partitura: a mínima colocada no terceiro espaço indica um dó; dois tons e meio abaixo outra mínima colocada na segunda linha retrata a nota sol; mais três tons e meio abaixo outra mínima, esta já no compasso seguinte, temos um outro dó, só que uma oitava abaixo. Para finalizar, a colcheia inscrita no terceiro espaço, faz com tenhamos aquele primeiro dó, só que com um quarto de duração em relação ao primeiro. Está pronta: é o toque de descansar. Para o descanso basta isso: menos de dois compassos...

Aliás, sinto-me fatigado; preciso do tal descanso. Que tal sentar-me e partilhar de boa companhia? Dizem os cínicos, entretanto, que, após certa idade só temos por certa a companhia de metástases. Não, não quero pensar nisso. Política? Não, eu já não penso em política desde que ela afastou-se do conceito aristotélico de “arte do bem governar”. Economia? Também não; irremediavelmente pensar-se-ia em política. E súbito sou lançado a um recente passado: a minha então vidinha de educador. Que lástima! Envergonho-me. O que fiz! Ensinei o quê? Muni-me de livros, que agora melhor analisados, porque relidos de modo descompromissado, mostram-se tendenciosos, enganosos, nefastos. Rogo o perdão de meus diletos pupilos, ex-discípulos. Insisto: Perdoai-me ex-alunos! Hoje, e sem muito ponderar, percebo que a educação é uma grande farsa. Educadores e educandos desempenham papéis; uns fingem ensinar, outros aprender. São tantas as variantes, as exigências e lacunas a serem preenchidas para que alguém consiga transmitir qualquer conteúdo, que a educação mostra-se impraticável, donde a minha mais recente máxima: “O conhecimento é intransmissível”.     

Bem, já que sem companhia, penso em amigos. Mas os tenho em número muito reduzido. Eram três; um morreu. Que Deus o guarde! Quanto aos dois restantes, o mais próximo reside a quase três mil quilômetros de distância, no sudeste do país; o outro reside na cidade do Cairo, no Egito. As verdadeiras amizades, de fato, são poucas. Aristóteles discorre com propriedade sobre o tema em sua “Ética à Nicômacos”; inegavelmente um belíssimo texto. Étienne de la Boétie, em seu “Discurso sobre a servidão voluntária”, também vincula a amizade à ética. Ele chega a declarar que quem não for ético, não tem amigos, apenas comparsas. Evidentemente que a ética tratada por eles envolve valores. Todavia, nos dias de hoje, de modo generalizado, quem for ético só colecionará inimigos. Infelizmente, vivemos o ápice da inversão valorativa.

O valor, em dias atuais, parece limitar-se ao cifrão, ao acúmulo de bens, ao capital... Pergunto-vos: Por onde andará o bom caráter, a honestidade, a integridade? Creio que, distante de valores, perde-se qualquer critério avaliativo, seletivo; reclamo vossa atenção para o fato de que o mérito está em baixa, caiu em desgraça. As pessoas vinculam os valores erradamente ao “moralismo de ocasião” e o lançam na conta da religião. Percebestes que a cristofobia virou moda? E por falar em moda, será que existe algo mais cultuado do que telefones celulares e redes sociais?

Fica evidente o contraste com os personagens de minha juventude! Os predicativos a mim destinados são vintage, ultrapassado, jurássico, etc., etc., etc. Pergunto-vos: será que os jovens têm tanta necessidade de estarem online, logados, ou coisa assim? Não seria uma espécie de fuga? Parece-me que as redes sociais cobrem as lacunas deixadas por uma educação (aqui entendida de forma ampla) irresponsável, ociosa, estapafúrdia, descompromissada. As pessoas querem apenas a posse, e para isso não medem esforços; desconhecem o que seja limites, escrúpulos. Penso na comunicação quando menino; vivíamos felizes ou não, informados ou não, realizados ou não, gratificados ou não, mas sem a necessidade de estarmos “pendurados” 24 horas por dia em aparelhos telefônicos. Ainda me recordo do único número de telefone que toda minha família utilizava...

Alguém grita a meu lado na tentativa de vender bilhetes “premiados” da loteria. Nesse caso, volto a pensar no desafio diário de alguns para enriquecer sem esforço e no número de telefone de minha avó materna. Podeis achar estranho os caminhos de meu pensar, mas surpreendo-me a fazer uso de meus parcos conhecimentos do “jogo do bicho”: os seis algarismos referentes ao número telefônico de então correspondem aos grupos do camelo, do galo e do peru. Com efeito, este meu caminhar conduz-me a lugar nenhum!  

domingo, 27 de setembro de 2020

A não dimensionalidade do mundo

 

Por definição, entende-se a geometria como parte da matemática que se ocupa em estudar as dimensões das linhas, superfícies e volumes das figuras que possam ocupar espaço. Dessarte, alguns elementos matemáticos revelam-se basilares à compreensão da geometria. São eles: ponto, reta, plano, espaço.

Comecemos pelo ponto. O ponto, segundo Euclides, não tem extensão, não tem partes; é apenas posição. O que é o inextenso? É não ocupar porção no espaço ou no tempo; é não estar contido por limites; é não ter dimensões. O ponto seria apenas o indeterminado; uma posição adventícia no espaço.

E a reta? Uma reta seria uma sucessão de pontos. E o que seria um sucessão de inextensos?

E o plano? Como falar em dimensões, se estas pressupõem comprimento e largura, que envolvem retas e estas, por sua vez, pontos?

E espaço? O que implica volume, terceira dimensão... Como?

Tendo a definição euclidiana de ponto como base de nossa compreensão, devemos reescrever a definição de geometria. Ei-la: Ciência que busca estudar dimensões, superfícies e volumes criados pela imaginação humana em sua tentativa de compreender e interagir com o mundo.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Presente de grego

 

Somente agora consigo entender porque Zeus puniu os irmãos Titãs por terem doado o fogo aos humanos. Sim, o presente, em si, era uma armadilha. Os seres humanos não estavam preparados para o conhecimento. O livro do Gênesis pode isso corroborar, haja vista o pecado original - provar da árvore da sabedoria do bem e do mal - e a expulsão do Paraíso. Fico a pensar no pobre Prometeu, acorrentado no cume do Cáucaso, a ver seu fígado - ainda bem que este órgão se regenera - devorado por abutres durante 30.000 anos. Este seria o tempo necessário para que os humanoides estivessem aptos para conviver com o entendimento? O irmão Epimeteu - o que pensa depois - por sua vez, não acatou os conselhos de Prometeu e casou-se com Pandora. Eis a origem de todo fracasso da raça humana!

O parágrafo acima, na verdade introdutório, pode (e deve) causar polêmica. Pensando melhor, talvez até certa repulsa, afinal o ser humano abunda em vaidade, sinal característico de sua pequenez. Contudo, observemos: Para que o ser humano exige “inteligência”? Para se afirmar, exibir poder, para conquistar, para obter lucro, para dominar. A inteligência não está ligada necessariamente ao conhecimento, porque o conhecimento, assim como a liberdade, pressupõe responsabilidade. Os seres humanos desprezam o conhecimento; querem apenas locupletar-se. Para que, afinal, estudar? Pergunto-vos e espero ter uma resposta sincera: quantos de vós, de fato, gostam de ler, de informar-se, de assimilar conhecimentos?

Fico aqui a matutar: quem teria recebido a pior condenação? Epimeteu, ao casar-se com Pandora, sentenciou toda a humanidade. Sim, com Pandora veio a ciência, responsável maior por toda a nossa desgraça. Como o ser humano tem apenas a “inteligência” - entre aspas porque trata-se de uma ironia - à sua disposição, a ciência mesma perverte toda e qualquer informação, isto porque não sabemos conviver com o conhecimento. A ciência, munida de mero discurso sofístico, a falar em evolução e desenvolvimento criou, por exemplo, uma substância chamada plástico: o artificial e, destarte, o prejudicial. Como os humanos adoram a desinformação, adotaram absolutamente o tal produto. Hoje, estou quase certo de que bebês já apresentam traços de matéria plástica em seus respectivos DNAs.

Ainda não estais convencidos? A ciência, a exibir a alcunha de tecnologia, criou e desenvolveu a informática. Pois bem, hodiernamente tudo está informatizado. Arquivos, documentos, livros, fatos, etc. estão nas “nuvens” ou em um negócio chamado Deep Web - seria essa a nova designação para o Scheol? Pois bem, dia virá em que todo essa carga informativa informatizada estará sob ataque, até porque isso é bem típico da “inteligência” humana. Pergunto-vos: o que nos restará? Qual o destino de nossa parca cultura? Que fim levará o que a duras penas conseguimos elaborar? Bem, certo de que a precocidade a nós concedida pelos Titãs foi sobremodo prejudicial - literalmente presente de grego - resta-me o consolo de que daqui a uns 20.000 anos, aproximadamente, voltaremos a nos entender.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Mãos e marcas

 

“A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhe seja dada certa marca sobre a mão direita, ou sobre a fronte ...  Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é o número do homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. (Apocalipse 13: 16,18)

Falemos de mãos, mas não a parafrasear o Monólogo das Mãos, de Giuseppe Ghiaroni, recitado à exaustão por Lúcio Mauro. Busquemos, portanto, outro enfoque, algo menos romantizado, mais pragmático. Enfim, examinemos o que representam as mãos: elas representam a vontade, força, poder, supremacia. É relevante ter em mente que a mão é o que dá forma às coisas, o que acaba por conferir poder ao ser humano. A mão, simbolicamente, exprime a ideia de atividade; mãos exercem domínio, potência, e, por sucedâneo, revelam o panorama moral do indivíduo que desempenha tais atividades.  

Agora falemos de marcas. A marca nada mais é que o sinal característico de um objeto para que este seja reconhecido; é um sinal distintivo, um símbolo, uma identificação. Marcas distinguem. Marcas são como assinaturas, são nada mais que representações. Conseguis entender que o panorama moral revelado por indivíduos que exercem atividades pode ser a própria marca?

Em relação à fronte, faz-se mister discorrer, mesmo que brevemente, sobre o TAU, a última letra do alfabeto hebraico. Os cristãos usam o sinal da cruz pela semelhança com a letra T. Esta revela valor simbólico; sinal colocado na fronte dos povos de Israel destacando-os como protegidos de Deus. A ausência deste sinal, também uma marca, significaria a falta de dignidade.

O número 666 – a numerologia era muita utilizada em se tratando dos alfabetos gregos e hebraicos – por sua vez, representa não só o imperador romano Nero, mas todo ser humano que retrate, através de suas atitudes, um panorama moral negativo. Ressalto aqui as palavras do próprio João: “... pois é número de homem.”

Em resumo: seres humanos e respectivos sectários que desempenhem poder ou atividade relevante, mas que revelem amoralidade ou imoralidade em suas condutas e/ou mostrem-se indignos da filiação divina, serão equiparados aos sequazes de um Nero, e estarão sujeitos às mesmas sanções reservadas aos párias.

Permito-me, outrossim, fazer minha conclusão: Se alguém enquadrar-se no viés degradante exposto neste texto, certamente Deus lhe acrescentará os flagelos descritos por João no Livro da Revelação.   

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Uma Caixa de Pandora

 

Houve quem dissesse – ou profetizasse? – lá pelos idos do século XVIII, que se os seres humanos seguissem à risca os preceitos da ciência, esta os tornariam felizes. Somos felizes? Ou melhor, alguma vez fomos felizes? Parece-me que emprestaram ao cientificismo um caráter divino, algo como uma apostasia. Eu poderia discorrer sobre o conceito de felicidade desde os antigos gregos até a grande farsa criada a partir da Revolução Francesa – falo na hipocrisia que atende pelo nome de direitos humanos – mas não querendo tornar-me enfadonho, (conseguirei?) vou tentar analisar perfunctoriamente ao que os seres humanos chamam ciência.

Já percebestes que o que a humanidade entende por ciência cria apenas expectativas? Vejamos: A medicina, de fato, cura? Ou o recurso das drogas são paliativos que mascaram sintomas e acabam por gerar efeitos secundários? As indústrias farmacêuticas adoram este descalabro. Já lestes uma bula? As recomendações são vastas; existem contraindicações, cuidados, avisos, efeitos secundários... Ciência? Creio que não. A dita ciência apenas cria expectativa, esperança naquele que nela deposita fé. E o que dizer das ciências da natureza? Enfim, quem tem razão; Ptolomeu ou Copérnico? O mundo é plano ou esférico?  A Terra gira ou é estática? Existe, de fato, uma Lei de Gravitação Universal? E a relatividade? Teorias são criadas, corroboram uma a outra, excluem, superam, contradizem uma a outra. E agora vem a Teoria Quântica pregar que não devemos buscar causas, pois que tudo é aleatório. O que a física propõe, enfim? Somente a “esperança” de um dia conhecermos os mistérios que nos cercam, de onde viemos e para onde vamos. E as ciências ditas exatas? Afinal, entre o 0 e o 1 encontramos o infinito; como entender o PI? Fazendo uso da lógica matemática cito: 1/0 tem como resultado um número que se aproxima do infinito. Ciência exata? Parece-me que mais uma vez estamos diante de expectativas, esperanças...

Outrossim, ainda a falar das ciências naturais? Alimentos – ervas, frutos, tubérculos, gorduras, etc. – que hoje são benéficos (os especuladores da indústria alimentícia adoram isso), amanhã tornam-se vilões. Ciência? Mais uma vez constatamos a vã esperança presente nos simplórios. E as ciência sociais? A sociologia carrega a pretensão de entender a natureza humana... Eu diria, sem nenhum constrangimento: Risível! A psicologia, à reboque, arroga-se em justificar todas as atitudes e perversões humanas... Sem comentários. A filosofia, por sua vez, muito embora não tratar-se de ciência, mas apenas de método, arvora-se em conhecer a natureza humana. Se não fosse cômico, seria trágico. Direito não é ciência, mas exercício sofístico. Política não é ciência, mas aberração. Enfim, o que nos sobrou? Mais uma vez a expectativa, a esperança.

A propósito: Zeus, para punir os irmãos Prometeu e Epimeteu, pois que estes apresentaram o fogo aos seres humanos, a proporcionar-lhes assim capacidade de pensar, presenteou-os com uma pequena jarra conduzida por bela mulher de nome Pandora. Pandora, a que possui todos os dons; a que tudo dá, a que tudo tira. Este recipiente, quando aberto, liberaria toda a sorte de malefícios para punir a humanidade. Sim, somente uma coisa ficaria presa à tampa da jarra: a esperança!    

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Feminização

 

É mais comum do que se pensa o fato de homens – reporto-me ao gênero – depilarem-se (boa parte do corpo), fazerem sobrancelhas (até mesmo designe), usarem cremes, cosméticos os mais variados e muitas das coisas que, até bem pouco tempo, faziam parte do universo feminino. Aqui permito-me um breve comentário: Eu não sei qual a utilidade dos pelos pubianos, mas certamente eles têm uma finalidade específica. Perdoai-me os antenados, os pós-modernos, mas minha saudosa mãe costumava dizer que “O homem (gênero) deve ter a beleza do burro”. Trocando em miúdos: ela queria dizer que o homem deve ser admirado por suas qualidades naturais.

Bem, mesmo a correr o risco de, mais uma vez, ser acusado de apelar para teorias conspiratórias, declaro-vos que a feminização do homem obedece a um processo. Aqui solicito vênia para adequar certa frase de Shakespeare. Direi, portanto, “Há mais mistérios dentre as relações que pautam as ações humanas, do que nossa vã filosofia pode imaginar!” Sim, mas de volta ao processo de feminização, digo que os sintomas se manifestaram lá pelos anos 60, com a “moda” dos cabelos longos. Teve início também a ruptura com os valores familiares; a liberação sexual. Não devemos esquecer da publicização do uso de drogas alucinógenas. Presenciamos novos hábitos, vivenciamos rupturas conceituais e comportamentais em ritmo frenético.

Existem rumores (seria outra teoria conspiratória?) de que a indústria alimentícia, a ter como recurso corantes, conservantes, adstringentes e mais uma expressiva gama de produtos químicos, bem como os agricultores no uso constante de pesticidas, herbicidas e tudo o mais, auxiliam em muito a emasculação do homem. Uma possível investigação, neste caso, estaria interdita, pois seria contrária a interesses de ordem científica, empresarial, financeira e ideológica. 

Nada obstante, tornaram-se famosos os “especialistas” em explicar e justificar qualquer comportamento humano. Sim, uma inventada casta de psicologistas, que, na verdade, desempenham com propriedade a função de influenciadores. A mídia de então representava apenas papel passivo, porém as ideologias tomaram fôlego e arrebataram corações e mentes. Atentai: o movimento feminista vem de muito longe; ele precede em muito o Women’s Liberation Front. Esquecestes de que as Escolas Normais atendiam à expectativa da feminização do magistério? A profissão docente pode testemunhar minha assertiva.  Àqueles que insistem em falar de teoria conspiratória, peço observar a inegável feminização da sociedade, através da atualíssima feminização das profissões.  

A mulher, por meio, inclusive, da feminização da velhice, foi vitimizada. O homem tornou-se inimigo declarado. As leis assim o determinam, pois há diferença entre agredir um ser humano qualquer (no caso, o homem) e agredir uma mulher. Falo em feminicídio. E porque não o título pomposo de Gerontocídio e suas leis específicas para quem agride idosos? Pergunto-vos ainda: Qual seria o escopo de todo esse intrincado processo? Simples: eliminar as diferenças entre gêneros; tornar o homem um “igual”, não um semelhante, mas um “similar”. E com essa “aproximação”, o feminismo exacerbado proporcionou ensejo para que forças políticas e classes que se entendem por dominantes ponham em prática seu maior vitupério: a Ideologia de Gênero. Não mais permiti o engano, a manipulação. Caso ainda tenhais dúvidas, sabei que transgêneros já se valem de cirurgia para uma feminização da voz.  

Dei misereátur nostri.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

A Nova Classe

 

I have News! Ainda não vos posso afirmar ser boa ou má notícia, mas a tenho. Ei-la: o socialismo transformou-se – evolução seria exagero. Deixou de ser sistema político e econômico para tornar-se classe social. Nada obstante, um tanto atípica, pois a dita Nova Classe mostra-se dividida, seccionada. São duas partes distintas, se bem que muito bem ajustadas e uma da outra dependente. Seria uma classe versão “dois em um”. Difícil? É vero! Mas vamos lá. Muito embora o socialismo defender o método isonômico, ou seja, uma administração que prime pela coletivização dos meios de produção e a sucedânea distribuição de bens, a visar uma sociedade igualitária, com oportunidades iguais para todos os indivíduos, parte desta Nova Classe adora viagens internacionais, – França e Estados Unidos, principalmente – e, se possível, de primeira classe. Mas não se contentam apenas com isso: curtem bons vinhos, carrões, iates, boas roupas (aquele papo de grife), charutos, etc. Enfim, eis o famoso socialista de i-phone. Mas eles precisam de outro tipo de socialista para dar embasamento e “sustentação” a sua causa: são os socialistas que vivem em comunidades, em acampamentos; são os que invadem propriedades, frequentam comícios, movimentos, defendem cegamente os “companheiros” celebridades, porque estes, através de sindicatos e de outros recursos espúrios, arranjam-lhes colocações – Atenção! Eu não falei em trabalho – para que possam viver “humildemente”, “apertando um baseado” e mostrando ao mundo o que é viver na miséria, o que é exclusão social. Bem, aqui caberia uma infinidade de adjetivos: cinismo, incoerência, mau-caratismo, esperteza, se bem que nada disso seria capaz de ofendê-los ou demovê-los de seus desideratos, pois alimentam-se dessa ideologia ultrapassada e repetem a exaustão frases e chavões há muito refugados, porque, acima de tudo, são vítimas do bloqueio cognitivo tão presente nos fanáticos.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Legado Cultural

Se interrogado fosse acerca dos motivos que me levam a escrever sobre temas como este, eu diria uma única palavra: saudades! Sim, saudades. Meu pais deixaram saudades. Tive, como todo adolescente, ainda mais numa geração como a dos anos 60, “problemas” com meus pais, mas nunca deixei de admirá-los. Foram maravilhosos: exigentes, atenciosos, severos quando necessário; conseguiram, de fato, educar-nos por exemplos. Transmitiram-nos valores, muito embora à época tudo nos parecesse bobagem. Éramos companheiros; a companhia, a convivência faz com que descubramos afinidades, das afinidades vem a admiração e o respeito, e daí surge o amor. Meu saudosismo, contudo, volta-se às nossas escapadas culturais. Este conceito é por mim utilizado, porque aproveitávamos as visitas de minha mãe a casa de seus parentes.  

Uma primeira oportunidade surgiu quando aluno da Marinha; pude ir com meu velho a um teatro em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, para que assistíssemos a Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros executar a “Abertura 1812” de Tchaikovsky. Durante a execução pude observá-lo: ele vibrava a cada compasso; seus olhos, de úmidos se fizeram em lágrimas, quando os canhões russos derrotaram o exército napoleônico. Ainda de Tchaikovsky, pudemos assistir Nelson Freire no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A primeira parte do programa foi o Concerto Nº 1 para piano e Orquestra. Na segunda parte, Béla Bartók deu sequência ao espetáculo, mas não conseguiu cativar-nos, até porque somos (eu e meu pai) classificados como românticos.

A música que meu pai mais gostava, no entanto, tinha como compositor Bedrich Smetana. Sim, ele parecia viver cada frase, cada variação, cada trecho do Moldávia. Suas reações davam a entender que ele conhecia cada parte do rio, cada curva; ele mergulhava e nadava naquele rio. Aprendi a amar a música clássica por influência de meu pai. Eu falo em influência, não em obediência, isto porque eu presenciava seu entusiasmo, algo como um arrebatamento. Na Sala Cecília Meireles pudemos assistir a um concurso de violonistas; a música a ser executada pelos participantes era o Concerto para Aranjuez de Rodrigo. Meu pai encantou-se.

Em uma das minhas visitas ao Rio, isto porque eu viva embarcado, tivemos oportunidade única de assistir na íntegra o Messias de Handel, na Igreja da Candelária. O ambiente em muito auxiliou na execução do obra, apesar das mais de três horas de concerto. Meu pai parecia remoçar quando em presença da música. Para presenteá-lo, trouxe do Japão um walkman, equipamento muito utilizado nos anos 80. Eu deliciava-me surpreendê-lo a fazer paciência e a ouvir o Requiem de Mozart ou o Novo Mundo de Dvorjak.

Não, as saudades não me entristecem, isto porque eu sinto a boa saudade. O que preocupa é porque, talvez, eu não seja competente o suficiente para transmitir a meus filhos o mesmo legado cultural deixado por meu pai.