sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Presente de grego

 

Somente agora consigo entender porque Zeus puniu os irmãos Titãs por terem doado o fogo aos humanos. Sim, o presente, em si, era uma armadilha. Os seres humanos não estavam preparados para o conhecimento. O livro do Gênesis pode isso corroborar, haja vista o pecado original - provar da árvore da sabedoria do bem e do mal - e a expulsão do Paraíso. Fico a pensar no pobre Prometeu, acorrentado no cume do Cáucaso, a ver seu fígado - ainda bem que este órgão se regenera - devorado por abutres durante 30.000 anos. Este seria o tempo necessário para que os humanoides estivessem aptos para conviver com o entendimento? O irmão Epimeteu - o que pensa depois - por sua vez, não acatou os conselhos de Prometeu e casou-se com Pandora. Eis a origem de todo fracasso da raça humana!

O parágrafo acima, na verdade introdutório, pode (e deve) causar polêmica. Pensando melhor, talvez até certa repulsa, afinal o ser humano abunda em vaidade, sinal característico de sua pequenez. Contudo, observemos: Para que o ser humano exige “inteligência”? Para se afirmar, exibir poder, para conquistar, para obter lucro, para dominar. A inteligência não está ligada necessariamente ao conhecimento, porque o conhecimento, assim como a liberdade, pressupõe responsabilidade. Os seres humanos desprezam o conhecimento; querem apenas locupletar-se. Para que, afinal, estudar? Pergunto-vos e espero ter uma resposta sincera: quantos de vós, de fato, gostam de ler, de informar-se, de assimilar conhecimentos?

Fico aqui a matutar: quem teria recebido a pior condenação? Epimeteu, ao casar-se com Pandora, sentenciou toda a humanidade. Sim, com Pandora veio a ciência, responsável maior por toda a nossa desgraça. Como o ser humano tem apenas a “inteligência” - entre aspas porque trata-se de uma ironia - à sua disposição, a ciência mesma perverte toda e qualquer informação, isto porque não sabemos conviver com o conhecimento. A ciência, munida de mero discurso sofístico, a falar em evolução e desenvolvimento criou, por exemplo, uma substância chamada plástico: o artificial e, destarte, o prejudicial. Como os humanos adoram a desinformação, adotaram absolutamente o tal produto. Hoje, estou quase certo de que bebês já apresentam traços de matéria plástica em seus respectivos DNAs.

Ainda não estais convencidos? A ciência, a exibir a alcunha de tecnologia, criou e desenvolveu a informática. Pois bem, hodiernamente tudo está informatizado. Arquivos, documentos, livros, fatos, etc. estão nas “nuvens” ou em um negócio chamado Deep Web - seria essa a nova designação para o Scheol? Pois bem, dia virá em que todo essa carga informativa informatizada estará sob ataque, até porque isso é bem típico da “inteligência” humana. Pergunto-vos: o que nos restará? Qual o destino de nossa parca cultura? Que fim levará o que a duras penas conseguimos elaborar? Bem, certo de que a precocidade a nós concedida pelos Titãs foi sobremodo prejudicial - literalmente presente de grego - resta-me o consolo de que daqui a uns 20.000 anos, aproximadamente, voltaremos a nos entender.

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