É bastante comum usar como argumento justificador da educação, independente se em escolas fundamentais, secundárias ou de terceiro grau, o desenvolvimento do espírito crítico. Todavia, a meu ver, o afamado espírito crítico tem como pressuposto certo grau de informação. O conhecimento seria, portanto, conditio sine qua non para a realização desta exigência pedagógica.
E como referi-me à pedagogia, lanço
mão de uma ferramenta sobremodo eficaz no ensino-aprendizagem: vou desenvolver
o conceito de crítica, valendo-me de sua raiz histórico-etimológica. Vejamos!
Iniciarei pelo idioma grego, e mais especificamente pela medicina grega. Pois bem,
a ciência grega que procura debelar ou atenuar os males, a medicina, busca
antes de tudo pautar-se na natureza. O fato de estar doente manifesta apenas um
desequilíbrio entre ser humano e natureza, a physis. Pois bem, pergunto-vos: qual o termo médico utilizado para
nos referirmos a uma doença qualquer, ou seja, a um desequilíbrio? Patologia, isso
é, o estudo das doenças. A palavra patologia tem sua origem no termo pathos, empregado na medicina grega para
falar em excesso, sofrimento, ou seja, um desequilíbrio.
E vós, creio que por mera curiosidade,
perguntar-me-ás: E o que isso tem a ver com crítica? Continuo. Já a saber o que
é uma doença, um pathos, pergunto-vos:
E como as doenças se manifestam? Muito bem, bravo; todos vós respondestes: Através
de sintomas! Curiosamente a palavra utilizada na medicina grega para designar sintoma
é krisis, isto é, um desequilíbrio
sensível, a fase decisiva de uma doença. Devo lembrar-vos da crise de
amígdalas, das crises renais, etc. Então observo vossa insistência: E onde
entra a crítica nesse estudo linguístico? Pois bem, a fazer-me célere,
respondo-vos: Já identificamos a doença, o pathos,
através de seus sintomas, krisis, falta-nos
apenas o tratamento da mesma, ou seja, o reequilíbrio. A palavrinha grega seria
crítica, kritiki, a prática médica
que leva à prevenção. A crítica portanto, está ligada à análise, à prevenção, à
capacidade de julgar.
Em face do exposto, posso afiançar-vos
que a capacidade de atenuar males e reequilibrar disfunções exige conhecimento.
Assim como o médico, que demanda vários e vastos saberes para promover curas,
todos aqueles que se propõem a sanar “desequilíbrios sociais” devem procurar
conhecer em profundidade a temática em questão, a deixar de lado, inclusive, as
ideologias. Muito embora a apologia feita ao espírito crítico nas escolas e
universidades, as instituições vinculadas à prática educacional não contemplam
o conhecimento. A vida escolar/acadêmica preocupa-se sim em desenvolver o sentido
figurado do conceito de crítica, ou seja, a opinião desfavorável, a censura, a
condenação. Esse apequenar do conceito depõe contra o próprio conceito, que
acaba maquiado por um manto de fofoca.
Doravante, portanto, tenhamos atitudes
maturadas, responsáveis, consequentes; deixemos de lado o vício contraído no
trato com comadres e seus fuxicos ornamentais. Empenhemo-nos no aprendizado, no
assimilar os mais variados saberes. Alguém, certa feita, declarou: “O saber não
ocupa lugar!” Não mais exerçamos esta atípica “medicina ilegal” recheada de
intrigas. Sejamos sóbrios em nossas apreciações, em nossas análises. E Ludwig
Wittgenstein vem corroborar todo meu empenho: “A crítica pressupõe conhecimento”.
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