quinta-feira, 1 de julho de 2021

Fashion diseases

 

Confesso-me um tanto inseguro para abordar e/ou dar início ao tema. Pensei na modalidade conto, pois, muito embora a gravidade do assunto, teria nuanças algo lúdicas e sobremodo satíricas. Formulei, inclusive, ideias acerca de um personagem animal, um bicho selvagem, um protagonista poderoso (ou seria apenas mero coadjuvante?). Pois bem, este seria o leão, batizado por Adão, se bem que a fera perderia muito de sua característica no que tange à dieta. Sim, eu falo de um leão vegano. Este leão, apesar de toda reconhecida ferocidade, tornar-se-ia refém de astuciosa falácia. E quem seria este outro personagem, (protagonista ou coadjuvante?) capaz de manipular aquele que detém o título de “rei dos animais”? Lógico, só poderia ser um charlatão traiçoeiro que atende pelo nome de Dráuzio, uma hiena macho, com cara de sofredora e com achaques de pieguice social. Não, nada pessoal, apenas a personificação de uma medicina midiático-curandeirística.

Todavia, percebo que o pretendido conto não atenderia a abrangência que o assunto requer. Então, assim que abandono os personagens da vida selvagem, vem-me à mente um fato assaz interessante que, certamente, tornou-se marco de uma distante juventude: houve uma época em que a moda exigiu da mulher a obrigatoriedade na companhia de motociclistas. E como comprovar o status de acompanhante? Simples, tornou-se comum as jovens exibirem como troféu a pele das pernas queimadas pelos escapamentos das motos. Algumas, as não vitimadas pelos “escrupulosos” pilotos, usavam a lâmina de uma faca fumegante para implantar queimaduras na pele das próprias pernas. Atentai! Estou a falar de seres humanos que detêm como apanágio a racionalidade.

Ainda bem que esta moda tornou-se démodé. Sim, o modismo é isso: conhece rápida ascensão, arrebanha prosélitos, estabelece comportamentos e em curto período de tempo entra em declínio. Quando professor, enquanto aguardava o início da aula, sentado próximo a entrada da sala, percebi que as alunas, de um modo geral, vestiam-se do mesmo modo: calça jeans de cintura baixa e uma blusa curta, independente da cor, com o umbigo de fora. A imagem de uma manada surgiu instantaneamente diante de meus olhos. Enfim, essa é uma geração que clama por liberdade.  

Nada obstante, deve-se ter em mente que a moda não se limita ao uso de roupas, palavreados ou comportamentos; atualmente partilhamos nosso dia-a-dia com as “doenças da moda”. Pergunto-vos: O modismo nas doenças sempre existiu? Pode ter acontecido, é óbvio, mas sinceramente não me recordo. E pautado nas minhas não recordações, arrisco-me a declarar que as Fashion Diseases são características da pós-modernidade. Parece-me que a pós-modernidade traz esse viés antípoda, isto é, a tudo contraria, a tudo se opõe. E a justificativa para tal oposição é o vazio de uma falácia que se autodeclara ideológica.

Mas voltemos a falar de assuntos sérios. Falemos, portanto, das doenças da moda: Os seres humanos foram declarados mamíferos porque possuem glândulas mamárias e produzem leite para alimentar suas crias. Desde tenra idade e até muito antes, sempre soube que o leite, não só o materno, mas também o leite de gado é imprescindível na alimentação humana. Meu pai, meu avô, o bisavô, o pai dele e assim por diante poderiam corroborar o que digo. Contudo, os dias atuais com sua estropiada ciência optaram por demonizar a lactose. Eu nunca ouvi esta mesma ciência - por isso estropiada - questionar os produtos químicos misturados ao leite e laticínios para necessária conservação. A indústria alimentícia agradece; eles criam um leite sem lactose, uma café sem cafeína, uma cerveja sem álcool. Sim, e quando as não vítimas da lactose apresentarem carências, será a vez da indústria farmacêutica desfazer-se em mesuras e em lucros, evidentemente.

Falemos agora do glúten. Este componente tornou-se famoso, sendo apontado como único culpado pelo ganho de peso e mal-estar intestinal dos glutões. Curioso é como os criminosos são considerados suspeitos de crimes mesmo quando os confessam; o glúten já foi apontado, indiciado, julgado e condenado. Conceitualmente falando, esta proteína está presente em alguns cereais como trigo, a cevada, o centeio e o malte. Após o processo de demonização midiático-curandeirístico, a pseudo ciência jamais questionou a validade e/ou apontou seus dedos para os alimentos transgênicos. Pergunto-vos: a engenharia genética pode mensurar as consequências futuras nas alterações provocadas no DNA das sementes? Creio corrermos o risco de uma futura geração de X-Men.

Mais uma vez a indústria alimentícia vem nos “socorrer” e cria alimentos sem glúten. Contudo, assim acredito, não mais teremos cevada, centeio, trigo ou malte, mas uma outra coisa qualquer. Lancemos mão, portanto, de uma situação hipotética: para corrigir o andar do caranguejo, o bichinho que só anda para trás, modificou-se geneticamente o movimento em suas articulações. Agora o caranguejo terá o andar de uma Gisele Bündchen quando em passarelas da vida. E a pergunta que não quer calar: mas ainda tratar-se-á de um caranguejo? E quando as carências surgirem nos “acautelados” com o glúten, a indústria farmacêutica, por certo, de muito boa vontade, apresentará um substitutivo aos “bem informados”.

Abri vossos olhos ó raça embrutecida e na ignorância mantida; buscai pensar por vós mesmos. Bem, não sou de dar conselhos, sugestões ou algo que o valha. Apenas um alerta: vossa saúde, bem estar, longevidade, etc., a ninguém preocupa. Sois apenas números sem valor, que em face de protocolar condução, forneceis números para um balancete que visa somente valores.

5 comentários:

  1. Gostaria de ressaltar que o modismo hipocondríaco não é privilégio brasileiro. Em países árabes, em função das características peculiares à raça, as mulheres, para se ocidentalizarem, se submetem à rinoplastias. Esse fato se tornou uma moda tão arraigada que as mulheres sem condições financeiras para realizar a citada cirurgia saem a rua, com esparadrapos cobrindo os narizes, fazendo com que os outros acreditem que se submeteram à cirurgia.

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  2. A moda é importante. Uso a moda no meu trabalho. Ela é importante nas decisões técnicas que tomo e na analise dos resultados destas decisões. A moda é utilizada na Engenharia. Dario.

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  3. Ah, moda é a função matemática utilizada em análise estatística. É uma medida de probabilidade que trata o evento de maior ocorrência em um conjunto, determinado, de eventos. Dario.

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  4. Bem destacado Dario, o modismo hipocondríaco é pernicioso. Destaco também que não esqueçamos que o comportamento de demonizar uma coisa para valorizar outra é uma das piores, senão a pior característica do ser humano, que denota sua total incapacidade de coexistência. Ao invés de fazer melhor, a destruição total do "concorrente" torna-se paradigma. E este defeito genético humano está impregnando instituições e sociedades.

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