Comecemos por discorrer sobre a contracultura e seus movimentos. É bom lembrar que a
contracultura, em si, é um movimento que nega a cultura (o status quo), pois tem por escopo quebrar tabus e superar normas e
padrões que determinam qualquer sociedade. Por sucedâneo, surgiram movimentos ad hoc, que ficaram conhecidos como:
Beatniks, Hippie, Punk e Anarquista. Todavia, assim o dizem, o fator que teria
dado lugar ao surgimento da Contracultura - ainda nos anos 50 - seria a Guerra Fria.
Sim, o mundo do pós-guerra mostrou-se dividido. O que os seres humanos, enfim,
poderiam esperar deste novo “ambiente”? A incerteza, a insegurança e a
efemeridade passaram a fazer parte do cotidiano.
Em face desta nova realidade, como
tratar a questão cultural? Bem, a cultura desempenha papel marcante em toda a
sociedade. Ora, em havendo declínio cultural, observar-se-á, ipso facto, declínio educacional, o que
dará ensejo à alienação. Então vos pergunto: A quem mais interessa a alienação
de toda uma sociedade? Lógico! A toda uma classe de manipuladores. Observai com
acurácia e percebereis claramente a alienação imposta. A alienação não só
manipula, mas também monopoliza. Os veículos, a serviço de manipuladores,
selecionam e editam o que deve ou não ser difundido. Máximas e chavões são
repetidos à exaustão; as músicas e os ritmos são sempre os mesmos; temáticas e
comportamentos insólitos são abordados com constância e recebem o “respaldo de
especialistas”. Reclamo vossa atenção para detalhe no mínimo curioso: A mídia
sempre encontra especialistas no inusual.
Bem, tendo em vista a abrangência da
temática, não distingo melhor opção senão limitá-la. Logo, dentro do panorama
cultural, voltemo-nos às artes e mais especificamente à música. Vejamos! Acima,
discorri acerca da contracultura, bem como de sua possível origem no
pós-guerra, contudo, longe de fazer um mea
culpa e retirar do imputável a responsabilidade pela manipulação, devo
ressaltar que o grande Platão já nos alertara no observar o tipo de música a
receber incentivo por parte dos governantes; existem boas e más harmonias, bons
e maus ritmos. E o que o filósofo, exatamente, queria nos dizer? Não, nada de
movimento próximo a uma contracultura rudimentar. Simples: com a cultura a
desempenhar papel fundamental na sociedade, a alienação pode vir a atender expectativas
diversas.
Convido a vos ater na patente
agressividade do mundo hodierno. Por que essa característica parece estar a
recrudescer em toda a sociedade humana?
Que ritmos estão a ser veiculados na contemporaneidade? Assim como o
“efeito Mozart” pode atuar de modo benéfico no cérebro, tornar seres humanos
mais inteligentes e até mesmo auxiliar no desenvolvimento cognitivo em bebês,
outros ritmos e melodias podem provocar resultados contrários. A música
estimula o humor, influencia comportamentos e promove sentimentos, tais com: raiva,
hostilidade, tristeza, medo, aversão, alegria, confiança, amor, compaixão,
empatia, etc. Os adolescentes precisam da boa música, pois esta proporciona
disciplina, um melhor foco e concentração, o que os afastaria do envolvimento
em crimes e do uso das drogas.
Está evidente que defendo uma
semântica musical, e o faço a partir de seus componentes. A melodia, com sua
sequência de sons, deve primar por um todo harmônico. A harmonia, por sua vez,
deve buscar promover o prazer, o agradável aos ouvidos (não estou a me referir
ao modismo dos apelos emotivos chamado sofrência). O ritmo, presença marcante
em nosso ser desde tenra idade, vem corroborar a declaração de Arquimedes: “Tudo
na natureza manifesta uma relação matemática”. Nossa vida é marcada pelo ritmo,
haja vista os batimentos cardíacos. O ritmo, portanto, deve regular a sucessão
de tempos fortes e fracos, bem como intensidade e cadência.
Voltemo-nos às canções: música e
poesia em consonância. Em se vinculando à poesia, a agora canção deve exigir
métrica e rima em versos estruturados e harmoniosos, de modo a comover e
despertar sentimentos positivos. Faz-se
mister frisar que nosso cérebro coordena os sons e a partir deles cria um
sistema de signos capazes de provocar prazer, sofrimento, alegria, dor, medo,
amor, raiva, etc. A música, assim como a canção, tem capacidade de atingir o
mais recôndito do ser humano, podendo afeiçoá-lo para o bem ou para o mal. A
educação musical pode abrandar irascíveis, afastar vícios e despertar virtudes.
Bem, a vós outros, motivados por
doutrinas ideológicas, alienados talvez por diletantismo, ou ainda imersos em
programada ignorância, que porventura defendeis não mais um movimento de contracultura,
mas uma guerra cultural, cuja finalidade específica é destruir e/ou
ridicularizar a arte e os valores conservadores, trago um esclarecimento: a
beleza não é relativa, e por mais que incomode aos “donos” do poder, ela está
presente na harmonia das proporções. Não permitais que a arte, a música em
particular, seja transformada em toxina social, onde o romancear poderia chamá-la
doce veneno. Parece-me, salvo melhor
engano, que os que exteriorizam uma percepção distorcida da realidade e,
consequentemente, padrões estéticos deturpados, os ideólogos deste movimento -
a guerra cultural -, apenas mascaram uma não conformação, na verdade, a revolta
contra as próprias limitações. Lamento, mas só consigo vislumbrar a simples manifestação
do fracasso travestido de inconformismo.