Não mais me surpreende o linguajar utilizado em nossa sociedade. Parece-me, salvo melhor juízo, que nossa linguagem foi infectada por uma espécie de indiferença; algo instituído e protocolarmente estimulado. Estou ciente de que alguns chamar-me-ão preconceituoso e tentarão tornar plausível o desregramento dizendo-o um sotaque regionalista; outros, além de batizar-me com o predicativo “purista” (seria isso uma ofensa?), justificarão os excessos a discorrer sobre uma linguagem coloquial. Todavia, posso vos afiançar que não estou a falar de sotaques e/ou discursos informais.
Mas, enfim, de que se trata? De início
- e aqui arrisco-me sobremaneira - receio que o mesmo espírito imbuído em fazer
do “jeitinho brasileiro” algo cultural, é responsável pela indisciplina
verificada em nosso linguajar. A coisa atingiu tal patamar que os tropeços na
ortoépia e prosódia são vistos como regionalismos. As silabadas conquistaram
seus lugares ao Sol e têm até seguidores. Alunos e alunas de nível superior,
até mesmo os já detentores de títulos acadêmicos, fazem uso de verbos no
infinitivo sem pronunciarem a letra R no final. E para rematar, transformam os
verbos no infinitivo em palavras oxítonas, o que vem alterar o sentido da
oração.
Outrossim, gostaria de que ficasse evidente
não se tratar de um apelo à utilização constante da norma culta. Apenas a fazer
uso do bom senso, ficamos cientes de que ocasiões há em que regras e padrões
linguísticos são imprescindíveis. Então, tendo como supedâneo recursos
pragmáticos (minha didática particular) passo a vos relatar exemplos em que a
linguagem oral está de tal modo viciada que parece até mesmo ter contaminado a
linguagem escrita; tais causos poderiam ser classificadas como risíveis. Vamos
a eles!
Certa feita, ao volante de meu
automóvel, parado por conta da cor vermelha do semáforo, pude observar um
adesivo colado ao vidro traseiro do carro imediatamente à minha frente. O
motorista deveria ser uma daquelas vítimas midiáticas, pois fazia questão de corroborar
a “cautela” de um certo terrorismo pandêmico. E o adesivo informava em letras
vermelhas: “Me vacinei!” Lamentei deveras. Lamentei pelo fato da frase ter
começado com um pronome oblíquo, o que revela total desconhecimento do idioma;
lamentei também porque se a pessoa tivesse conhecimento da língua, certamente
não teria tomado a vacina.
Em outro momento, recebi certa
mensagem pelo WhatsApp. Uma coisa consegui aprender: quando a notícia vem de
encontro às nossas aspirações ela tem grandes chances de ser falsa. Então
ponho-me a observar detalhes. O título: “Se prepare pra guerra!” E lá está o
pronome Se a iniciar a oração. Errado! A frase correta seria: “Prepare-se para
a guerra!” Sim, eis o pronome reflexivo utilizado de maneira correta. O
despreparo na língua pode, inclusive, conduzir despreparados à guerra. Bem, por
uma questão de elegância, eu condenaria igualmente o uso da preposição para (pra
- contraída).
Para finalizar, o que deve ser com
chave de ouro, eu cito a propaganda de certa instituição de ensino superior
veiculada na TV. Duas jovens entram em cena e declamam - melhor dizer: Lá vem
bomba! “A gente se juntou pra criar algo inédito pra você entrar na faculdade”.
Recordo-me dos personagens de Friends: - “Oh my God”. Não, não é pela aversão
que nutro pelas jovens, mas pela linguajar esdrúxulo utilizado para se atrair
possíveis alunos para a dita instituição. Em face de semelhante português,
pergunto-vos: Como levar a sério tal faculdade? A locução a gente (o grifo é meu), que corresponde ao pronome pessoal nós e
gramaticalmente a terceira pessoa do singular, foi sabiamente utilizada pela
Banda Ultraje a Rigor. “Inútil, a gente somos inútil!” O refrão parece
confirmar minhas suspeitas: A locução é, de fato, inútil. Isso sem falar na
contração da preposição “Pra” e na omissão da letra R nos verbos no infinitivo.
Bem, ficam aqui minhas condolências a
vós que perdestes ou perdereis tempo em desacreditar-me. E como não guardo
rancor, estai atentos à dica: “Arrasta pra cima e brilha!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário