Verão, suor, cansaço... e eu insone. Busco alternativas; não quero mais aquela noite... outras talvez. Abandono o leito... seria melhor o conforto de um catre. Perambulo, esbarro, procuro. Nada! Está escuro. Por onde andam riscos, perigos, venturas? Logo me chega o acaso, o destino. Eis a verve fugaz, e então ensaio um poetar qualquer. Quisera ser um bardo, um trovador... alguém arrojado, destemido. Mas minha poesia não vinga; em breve arrefece. Preciso fazer-me herói. Salvar a mim não, mas a poesia. Preciso preservá-la. Aonde conduzi-la? Olho em torno: a sala escura, sobre a mesa um resto de repasto. Poesias, não poetas, necessitam ficar em destaque. Lamento, mas de um modo geral, a arte encontra-se instável; poetas, tanto quanto certo violinista, jazem sobre telhados. Sim, é isso: o telhado!
Subo, galgo alguns obstáculos. Sob
meus pés as telhas rangem, trincam, partem. Mas espera; há alguém ali... uma
senhora idosa. Aproximo-me. Tem lugar lacônico cumprimento. Sento-me a seu lado
e um saudável bem-estar experimento. A matrona enlaça-me o braço. Diz-se
perdida, deslocada. E ressalta: a técnica só me fez obnubilar; as muitas
informações alijaram-me. A senhora está a sucumbir... (percebo). Explica-me com
voz sumida: a mente humana não foi estruturada para assimilar ilimitadas
informações. Consequência? Um exacerbado pragmatismo, a inexplicável
desconfiança, um nefasto esquecimento. Notícias e/ou conhecimentos em excesso
ensombraram-me, limitaram-me, extinguiram-me, a mim, a poesia. E sem poesia o
ser humano entristece, adoenta-se, esmorece. Em pouco tempo esboça-se a espontânea
agressividade, manifesta-se a intolerância; a humanidade está a desenvolver um
processo de não suportar a si mesma. E vem a depressão, a auto piedade, o
abatimento... O suicídio como ápice. Infelizmente, não mais temos poesia e
poetas prenhes de excentricidades; apenas deformidades, anomalias, monstruosidades.
Uma ressonância completa das sociedades atuais. Sem referência e sem objetivo.
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