sábado, 26 de novembro de 2022

Sintomas

 

Alcançamos a marca de 8 bilhões de pessoas a povoar este “mundão de meu Deus”. Motivos para comemorar? Estou certo que não; só mesmo a hipocrisia e/ou ignorância para encarar tal recorde com entusiasmo. As preocupações são várias. A mais ingênua seria no tocante ao aumento do peso do planeta em face do aumento da população. Mas isso não acontece, afinal Lavoisier estava certo: a massa que ontem esteve no solo é a mesma que hoje está na folha e a mesma que estará amanhã ou depois no organismo que a ingeriu. “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.  

Contudo, algo grave parece reviver Malthus e sua teoria: 830 milhões de pessoas passam fome no mundo, ou seja, mais de 10% da população mundial. Independente da teoria malthusiana, da exaustão ou não de recursos naturais e demais tentativas para apontar as supostas causas da miséria alimentar, o fato permanece: mais de 10% da população passa fome. Não-declarados seguidores de Malthus apontam, através de encontros teatrais, causas climáticas advindas do aquecimento global como óbices à produção, e, por conseguinte, a uma melhor distribuição de grãos. Os mais pragmáticos apontam o controle populacional como solução. Outros falam em aborto, em eutanásia, etc. Seria, de fato? Afinal, cumprimos uma determinação da natureza: “Sede fecundos e multiplicai-vos!” (Gênesis 1: 22).

E como sempre existe um meio de piorar o que já está mal, sinto-me na obrigação de vos fazer recordar John B. Calhoun. Em 1947, em área pré-determinada, o etólogo construiu certo ambiente para criar 04 pares de ratos saudáveis; comida e água suficientes, temperatura constante. Evidentemente teve lugar o aumento populacional num mesmo espaço físico. Então foi observado não só o crescimento da agressividade, mas também o acréscimo no número de machos rejeitados pelas fêmeas. Sem papel social definido, entre os machos, percebeu-se o aumento considerável da homossexualidade, do estupro, da canibalização. As próprias fêmeas passaram a demonstrar extrema violência com seus filhotes. Doenças virais fizeram-se presentes... Bem, a taxa de mortalidade atingiu 100%.

Atentai: muito embora a enorme similaridade, o relato supracitado não se refere a qualquer sociedade humana. E antes mesmo de buscardes culpado ou culpados para o quadro que vivenciamos, perguntai-vos se o dito compromisso e rigorismo científico têm, de fato, sido benéfico à humanidade. A ciência quer brincar de Deus; quer a tudo curar, a todos salvar, quer a longevidade, a perpetuidade. A ciência perverte a natureza com um discurso que alega preservá-la. Mascarada de tecnologia, a ciência diz facilitar a vida humana, quando, na verdade, a torna mais e mais dependente. A tecnologia escraviza! Não permitais o engano: Todo e qualquer conhecimento, seja ele científico ou não, quando apartado da natureza, torna-se apenas sofrível compêndio de egos.  

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Papiros

 

Setenta anos! Data comemorativa? Não, não creio. Tenho vontades de produzir alguma coisa; o fato de trabalhar, de ter utilidade, cativa-me. Deve existir algo que eu possa fazer. Mas ... o quê? A saúde mostra-se a cada dia mais ausente: há um quê de cansaço, músculos doridos de modo contumaz, falha-me a memória e por vezes o perceptual. E a hipocrisia socializada - dita inclusiva - rotula-me de viver a “melhor idade”. Não, definitivamente esta não é a melhor idade. Moisés, há bem mais de 5000 anos, declarara: “A duração de nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado,...” (Salmo 90, versículo 10). A ciência médica, ao abandonar seu compromisso de restabelecer equilíbrio entre seres humanos e natureza, aplica-se à longevidade, à perenidade. Todavia, esquecida está a ciência de que a natureza é o limite do ser humano.

Mas o espirito produtivo é combativo, pelo menos o meu. Ele quer seguir adiante, tornar-se ainda criador, fazedor... E a pergunta que se me visita com constância: O que ainda posso fazer? Simples: Escrever! Contudo, percebo a complexidade que envolve tal resposta. Graças a tecnologia da informação, às redes sociais, aos aplicativos e a toda esta técnica que nos escraviza, certos hábitos foram tornados démodé. O imagético está em alta; textos são lidos e/ou mensagens escritas em claudicante e incipiente linguagem. As pessoas não mais gostam de ler. Então convenço-me: Meu tempo passou! O que esperar de mim, o que esperar da vida, doravante? E aqui faço minhas as palavras de Jó: “Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o meu fim, para que prolongue a minha vida?” (Jó 6:11). Definitivamente, minha força não é a força da pedra; minha pele não é de cobre.

Súbito, no pensar de minhas limitadas forças, ocorre-me: E se não houvessem tais obstáculos? O que seria de mim? Ora, são os obstáculos que me alicerçam, que me constroem, que me moldam. Seria saudável um viver livre de desafios? Sem dificuldades, por certo, eu estaria vazio, oco, tão hipócrita quanto àqueles que há pouco critiquei. O mero passar pela vida não é um viver. Ainda segundo Jó, obstáculos são as águas, o lodo que dá viço ao papiro. Portanto nós, papiros, agradeçamos o lodo (estorvos) nosso de cada dia. “A cada dia o seu mal”, ou melhor, o seu lodo. São os impedimentos que nos fazem florescer. Sim, e esse florescer é único, intransmissível.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Evolução

 


             “Assim também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo”. Gálatas 4:3

 

A humanidade teve sua infância. O ser humano de então sujeitava-se a um mundo indiferente, desabrido, rude. O lento passar do tempo, todavia, permitiu que esses seres, pouco a pouco, transformassem o mundo; isto é, atuassem na natureza, interferissem no meio ambiente. Teve lugar o fabrico de ferramentas, armas... enfim, um agir cultural. Enquanto servil, no entanto, a humanidade temia a natureza; todo e qualquer fenômeno natural era tido por sobrenatural. As explicações para tais fenômenos variavam do mitológico ao religioso. Eis o início do paganismo. Sim, a cada fenômeno inexplicado associava-se a existência de um deus específico.

Mas a inteligência humana experienciou e logrou desenvolver-se. Despontaram conhecimentos: a ciência afinal. A cada descoberta científica, enigmas naturais iam sendo desvendados. O conhecimento arrancou a humanidade de sua condição servil em relação à natureza, pois o conhecimento liberta. O paganismo experimentou sua superação. Um único Deus fez-se presente. Alguns, contudo, entendiam - e ainda entendem - que o desenvolvimento pautado no advento das ciências bastaria para explicar todos os fenômenos e, por conseguinte, banir todo e qualquer resquício de explicação metafísica. Mas nem tudo correu à contento: muito embora o vasto conhecimento assimilado, seres humanos descobriram-se limitados em relação não só à natureza, mas também ao mundo. E essa limitação veio, de certa forma, através de uma exigência racional, corroborar a existência de um Deus.

A presença de Deus, portanto, faz-se necessária não só para preencher lacunas de uma ciência em eterna superação, mas também para consolidar nossa mudança de status, ou seja, abandonarmos a mera posição de criaturas para tornarmo-nos filhos deste Deus. A óbvia existência de ateus, agnósticos e similares dá-se em função da vaidade, da arrogância, da presunção. A crença na multiplicidade de deuses constata apenas a insegurança em relação ao conhecimento. O servir a outros deuses revela tão somente lamentável ignorância. O crer no único Deus vem manifestar, consequentemente, uma notável evolução.       

Benignus malus

 

É-me difícil dizer com correção há quanto tempo vivencio este processo. O processo? Sim, por vezes acordo no meio da noite com vontades de escrever; o tema me surge como que por encanto, assim como os personagens, as circunstâncias, os desfechos, etc. Em verdade, tenho compulsão por escrever; é algo que me realiza, me conforta. O não escrever incomoda-me, avilta-me... Porém, ao esboçar de uma atípica autoanálise, parece-me que a referida compulsão tem origem na solidão, se bem que uma solidão bem vinda, procurada, cultuada... Então surge um primeira questão: cultuo a solidão pra que me torne prolífico ou é a prolixidade mesma responsável pela minha solidão?

E em meio a toda esta mescla de sentimentos descobri que a dita compulsão é uma doença, e tem nome: Hipergrafia! Doença?! Mas doença não é falta de saúde, uma moléstia, um defeito? Desculpai-me, mas não consigo ver a coisa assim. Desde quando o cultuar das letras é insalubre? Seria a Hipergrafia uma espécie de tabagismo, alcoolismo, o vício da cannabis ou de droga alucinógena, ou seja, um vício que proporciona prazer? A sabedoria popular assinala que: “Há males que vem para o bem”. Neste caso específico, a falar de Hipergrafia, a meu ver, há males que são o bem. A dita doença estaria associada a distúrbios neurológicos. Fecundos escritores estariam inseridos nesta categoria, dentre estes, Flaubert, Vitor Hugo, Balzac, Charles Dickens, Proust, Dostoievski. Deus meu, quem sou eu, este pobre rabiscador, para estar ladeado por tão famosos romancistas?

A pergunta que não quer calar: Esta doença deixa sequelas? Sim, em minha opinião, a pior coisa para alguém vitimado pela Hipergrafia é não ser lido por seus iguais. Cobramo-nos por uma possível não aceitação, a olvidar que o outro, leitor em potencial, tenha lá seus afazeres, outras preocupações, quiçá outros distúrbios. Talvez aí se explique a imposta e igualmente bem vinda solitude. Efetivamente, há carência de limites entre causa e efeito. Não obstante, a Hipergrafia é prazerosa, e mesmo que ligada a distúrbios neurológicos, mostra-se gratificante. É bom lembrar que esse motim neurológico é o que imprime genialidade em alguns seres humanos. A propósito, outra faceta nossa, escritores e escritoras (não necessariamente nessa ordem), já que agraciados e designados com a alcunha cientifica de personalidades borderline, seria uma justificada falta de modéstia. Afinal, “Sou, mas... quem não é?”  

Notícia possível


Bom Dia! Venho apresentar-vos uma possibilidade que eu classificaria de bombástica. Não, não há comprovação. Antes de tudo reclamo vossa atenção para o fato de eu não viver de likes, de inscrições em meu inexistente canal, de ter seguidores, etc. Meus contatos são reduzidos e não pretendo tornar-me celebridade ou influencer; tenho apenas compromisso comigo e com a verdade, quando esta se dá a conhecer. Nenhum de vós está obrigado a crer no que estou a lhes falar, e ficai à vontade para repudiar a sugestão ou até mesmo bloquear-me. O que aqui está divulgado é unicamente de minha responsabilidade; são minhas as ilações, inferências, a pesquisa e/ou especulação.   

Há coisa de dois dias comecei a receber uma série de breves notícias de que Lula estaria internado em estado grave no Hospital Sírio Libanes, sem que especificassem se em São Paulo ou Brasília, e a unidade em que teria ocorrido a dita internação. Comecei a descartar a notícia, tendo-a como falsa, até porque o site do hospital refere-se ao paciente, declarando o último atendimento realizado há um bom tempo. Contudo, comecei a perceber que Lula, falastrão por natureza, estava sumido; a não menos verborrágica Janja igualmente quieta. E dado início a transição de governos, perguntei-me pelos apoiadores, pelos militantes. Deparei-me com um incômodo silêncio, onde ninguém nega nada, afirma nada, apaga posts... Como, depois de tanto empenho da esquerda para voltar ao poder, veríamos atividades políticas sem Lula? Até Randolfe parou de fazer queixinhas nos ombros dos ministros do STF. A imprensa emudecida foi o que mais chamou-me a atenção, afinal o silêncio de um papagaio falante é de causar espécie.

Geraldo Alckmin tomou a frente de tudo, afinal o vice é encarregado pelo governo de transição. O general Mourão, vice de Bolsonaro, senador eleito, adianta-se a Alckmin para dar-lhe boas-vindas. Curioso, não? E Ciro Nogueira, presidente nacional licenciado do Progressistas, atual ministro da Casa Civil, depois de nomear Alckmin, desfaz-se em mesuras... Continua estranho. E onde está Lula? Onde seus correligionários? Simples, trabalho com a possibilidade de Lula ter falecido; passou desta para melhor ou para pior. Lamentar? Ainda não sei dizer. Todavia, estai atentos: não há o menor interesse em divulgar a possível morte de Lula, pois seus “apoiadores” não saberiam como agir neste caso. Bem, e se isso, de fato, aconteceu, nossos problemas não estariam terminados; melhor: agravaram-se. Vamos a eles!

Nossa Constituição não é clara quanto à circunstância aqui descrita. O candidato foi declarado pelo TSE eleito em segundo turno, mas não foi diplomado. Isto independe se as eleições foram ou não fraudadas. O que fazer agora? Bolsonaro continua como presidente? Alckmin assume, pois que era vice na chapa do de cujus? Ou será chamada uma nova eleição? De uma coisa podeis estar certos: vai haver muita choradeira e mutreta, pois Alckmin, em condições normais de temperatura e pressão, não conseguiria ser eleito nem para síndico de edifício sem elevador. Bolsonaro é execrado pelos poderosos que querem tomar o Brasil de assalto. Os globalistas, a NOM quer Alckmin, aliás foi por isso que ele abandonou o PSDB e aceitou ser vice na chapa de Lula, mesmo a odiá-lo.

Por certo confirmareis todo o circo armado, pois excetuando-se a vitimada por inibição perceptiva chamada Marina Silva, os demais declarados “apoiadores” de Lula, na verdade, querem o candidato do globalista George Soros. São eles: a oportunista Simone Tebet, o jagunço Ciro Gomes, o pascácio do Henrique Meireles, a múmia ambulante que atende pelo nome de José Sarney, o repulsivo Michel Temer, o hipócrita Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa mergulhado em uma repugnante ductilidade, os saltitantes Randolfe e Dória. Aliados a grande maioria de ministros ideologizados do STF, à mídia amarronzada por interesses espúrios, aos artistas ex assalariados da Lei Rouanet, aos banqueiros, aos políticos de carreira, aos interesses da esquerda internacional, estai certos de que farão dessa transição governamental um inferno.


sábado, 5 de novembro de 2022

Belas e adormecidas

 

Sem necessidade de um muito pensar, percebo que nossos jovens, nossos filhos e filhas, já nascem amaldiçoados. Visitantes não convidados e/ou ofendidos, se bem que presentes em suas vidas desde os nascimentos, anunciam que elas, as crianças, serão picadas não pelo fuso de um tear, mas por algo bem pior. E, de fato, o são. Afinal, por onde anda a dimensão da puerilidade, da ingenuidade? O que fizeram do universo infantil? Apontai-me, eu vos suplico, um grupo musical infantil, uma música infantil. Se algum desavisado, até mesmo presente em reunião familiar, solicitar uma música infantil, certamente ouvirá Anitta. Por onde anda o grupo Dominó? E o Trem da Alegria? Onde as cantigas de roda?

Nosso filhos dormem, e não em berços esplêndidos. Onde a criatividade infantil? Dar-se-ia, porventura, diante de aparelhos celulares e/ou telas de joguinhos eletrônicos? Há quanto tempo não se vê crianças em quintais? De que modo uma menina por nome Dorothy e seu pet seriam levados para uma terra mágica? Como encontrariam um Mago, um Espantalho sem cérebro, um Homem de Lata sem coração e um Leão covarde? Não, em nome de uma tutela doentia, afastaram nossas crianças do contágio com o chão, com a terra, com o natural. E ainda por cima chamam as antigas mães de superprotetoras!

Há como que uma imposta maturação. Querem tornar responsáveis seres humanos com tenra idade. Incontestavelmente, percebe-se a agressão à infância. A invalidação emocional seria apenas consequência e não causa. O Estado e o psicologismo invadiram lares: conselhos tutelares ditam normas educacionais; psicologistas de plantão sugerem ações e esbanjam aconselhamentos. Onde poderemos encontrar uma Nova Cinderela? Como? O bullying é que fornece amadurecimento necessário ao estapafúrdio viver. Desde quando Chapeuzinho Vermelho, pelo panorama atual, aceitaria dialogar com o lobo faminto sem antes vitimizar-se?  

E o quadro tende a piorar. Sim, a agressão não para por aí. Apontai-me, por favor o que seria um vestuário tipicamente infantil? Onde estaria o lúdico? Onde o estímulo ao imaginário? O imagético é supedâneo do imaginário. Lojas de departamentos, em suas seções infantis, vendem modelos kim Kardashian em miniaturas. Mais uma agressão à infância: o licencioso. Seria o incasto demonstração de maturidade? Não vos perguntarei do porquê dessa fabricada e precoce erotização de nossas filhas, talvez porque eu já saiba a resposta. O impudico melhor atende às demandas da sociedade; o indecoroso reveste-se de astúcia e sagacidade; o velhaco atende aos interesses do capitalismo perverso; o corrompido diz-se guiado pela injustiça social e acaba por realizar os planos de seus pretensos coadjutores.

Reitero, portanto, vossa atenção. Pequenos seres, estejam eles a sorrir, a chorar, a correr, a pedir nos semáforos da vida, serão mais do que crianças: serão belas e, de certo modo, estarão adormecidas.    

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Etimologia singular

 

Por vezes, vejo-me obcecado pelo estudo do Étimo, ou seja, pela origem das palavras. Confesso-me tomado de certo encanto, quiçá arrebatamento, em analisar termos e atentar para o emprego correto dos mesmos. Então vós, investidos de algum finesse, podeis pensar: “cousa estranha”. Outros, talvez mais pragmáticos, dirão: “cada doido com sua mania”. Os antenados, por sua vez, signatários da cultura de viés populista, a fazer uso de cáustica ironia, dirão: “neste caso justifica-se uma terapia”.

Aí está meu mote: TERAPIA. De onde teria surgido tal vocábulo? Originalmente, o termo grego therapeía, implica atendimento, tratamento e cura. No entanto, em se tratando de minha etimologia particular, volto-me ao estudo em separado dos componentes: Tera + pia. Tera, do grego téttara, isto é, tetra, quatro. O número quatro, segundo a numerologia, significa organização, atitude disciplinada. Para Pitágoras, o algarismo 4 simbolizaria Lei e Ordem. Pia, por sua vez, significa pedra escavada com lugar para escoamento de águas sujas. Bem, se pia implica pedra escavada para dar vazão a líquidos maculados, sórdidos, emporcalhados, então o termo pia pode ser substituído por sanitário. A pôr de lado a vertente pândega, podemos dizer que terapia seria a ação disciplinada que nos permite o “escoar” de nossos piores eflúvios psicológicos.  

E então, estamos indo bem? Nada obstante, existem algumas “peripécias” dentro da etimologia. Vejamos. Coitado, particípio do verbo coitar (causar sofrimento, aflição ou dar guarida), não pode ser entendido como vitimado pelo coito. Uma pessoa pode ser entendida como coitada, não por ser vítima de coito não consentido, mas por ser digna de pena ou compaixão em face do ocorrido. O coito não consentido torna as pessoas desventuradas, desgraçadas, mas não coitadas. Curioso, não? E quanto às mulheres vítimas de estupro (aqui pode-se observar a bizarra criatividade de certo magistrado tupiniquim) culposo? Como é isso? Exatamente o que ledes: o magistrado, em seu singular despacho, entendeu que ocorrera estupro culposo, ou seja, o estuprador não teve intenção de fazê-lo. Peripécia jurídica? Quem seria, então, nesse caso específico, digno de pena ou compaixão, ou seja, o coitado? Exatamente, o juiz que redigiu tal veredito.