É-me difícil dizer com correção há quanto tempo vivencio este processo. O processo? Sim, por vezes acordo no meio da noite com vontades de escrever; o tema me surge como que por encanto, assim como os personagens, as circunstâncias, os desfechos, etc. Em verdade, tenho compulsão por escrever; é algo que me realiza, me conforta. O não escrever incomoda-me, avilta-me... Porém, ao esboçar de uma atípica autoanálise, parece-me que a referida compulsão tem origem na solidão, se bem que uma solidão bem vinda, procurada, cultuada... Então surge um primeira questão: cultuo a solidão pra que me torne prolífico ou é a prolixidade mesma responsável pela minha solidão?
E em meio a toda esta mescla de
sentimentos descobri que a dita compulsão é uma doença, e tem nome:
Hipergrafia! Doença?! Mas doença não é falta de saúde, uma moléstia, um
defeito? Desculpai-me, mas não consigo ver a coisa assim. Desde quando o
cultuar das letras é insalubre? Seria a Hipergrafia uma espécie de tabagismo,
alcoolismo, o vício da cannabis ou de droga alucinógena, ou seja, um vício que
proporciona prazer? A sabedoria popular assinala que: “Há males que vem para o
bem”. Neste caso específico, a falar de Hipergrafia, a meu ver, há males que
são o bem. A dita doença estaria associada a distúrbios neurológicos. Fecundos
escritores estariam inseridos nesta categoria, dentre estes, Flaubert, Vitor
Hugo, Balzac, Charles Dickens, Proust, Dostoievski. Deus meu, quem sou eu, este
pobre rabiscador, para estar ladeado por tão famosos romancistas?
A pergunta que não quer calar: Esta
doença deixa sequelas? Sim, em minha opinião, a pior coisa para alguém vitimado
pela Hipergrafia é não ser lido por seus iguais. Cobramo-nos por uma possível
não aceitação, a olvidar que o outro, leitor em potencial, tenha lá seus afazeres,
outras preocupações, quiçá outros distúrbios. Talvez aí se explique a imposta e
igualmente bem vinda solitude. Efetivamente, há carência de limites entre causa
e efeito. Não obstante, a Hipergrafia é prazerosa, e mesmo que ligada a distúrbios
neurológicos, mostra-se gratificante. É bom lembrar que esse motim neurológico
é o que imprime genialidade em alguns seres humanos. A propósito, outra faceta
nossa, escritores e escritoras (não necessariamente nessa ordem), já que agraciados
e designados com a alcunha cientifica de personalidades borderline, seria uma justificada falta de modéstia. Afinal, “Sou, mas... quem não é?”
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