Na falta do que fazer, ou melhor, ter o nada por fazer permitiu-me o desfrute de promissora ociosidade frente a TV. Notícias? Não, somente desgraças: assaltos, roubos, furtos, drogas, acidentes... Enfim, tudo que não deve fazer parte de um cotidiano saudável. Todavia, surpreende-me inda mais a carga comercial que alavanca e sustenta aquele repertório de deformações. Sim, a começar por removedores de sujeira. Depois vêm as fraldas para bebês. Algures, alguém oferece lanches, isto é, o mau hábito alimentar dos fast-foods. E em meio ao anúncio da rede que promete bons preços na aquisição de determinados presentes, surgem os divulgadores maquiados de ciência. Como? Explico-me! São oferecidas vitaminas, a reposição diária de energéticos; existem xaropes para todo tipo de tosse; creme dental com efeitos mágicos; o creme que hidrata o corpo, a pele; colírio para que os olhos não fiquem ressecados; aqueloutro promete acabar com as rugas, citando, inclusive, a lei da gravidade newtoniana. O mais curioso é que todos usam como recurso a descrição de seus componentes e respectivas atuações. Puxa vida, mas quanta informação! Ou seria protocolar desinformação? Estaríamos diante de verdades axiomáticas? Constato, e com grande pesar, que o discorrer científico auxilia na técnica de merchandising. Estariam as pessoas, de fato, interessadas em assimilar tais conhecimentos? Ah, e por se tratar de medicamentos, o aviso: “Em não desaparecendo os sintomas, o médico deverá ser consultado!” Pasmo, sou levado a identificar mais uma faceta da pós-modernidade: por conta da banalização da ciência, as pessoas não mais sabem viver sem um diagnóstico!
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