sexta-feira, 4 de março de 2022

Simulatio

Encantamo-nos com pouco, com nada...ou quase nada. Hollywood nos encanta: corpos musculosos enleva-nos, corpos sensuais seduz-nos, lábios bem desenhados em harmônicas faces extasia-nos. Estão criados os padrões de beleza. Para que divulgá-los? Óbvio, o consumo aumenta, a competição aumenta, a alienação alastra-se em proporções geométricas. Diz-se que beleza é harmonia e perfeição de formas. Dizem também que beleza é poder. Será? Vejamos! A mídia transforma meninas em Barbies ou em Cinderelas na busca por príncipes encantados. E a que custo? Salões de beleza, academias e clínicas de estética lotadas... O que almejam? Lábios carnudos, seios fartos e empinados, nádegas volumosas... E a mídia tem cumprido seu papel.

Os homens, por sua vez, desde a antiga Grécia, têm granjeado corpos ágeis, fortes, velozes. As guerras assim o exigiam: atletas robustos, seres com destreza, solidez, energia... As olimpíadas revelavam novos heróis, novos mitos, novos deuses. Percebe-se então o despontar de uma velada vaidade - rota filosofia eivada de irresponsável falácia declara que, nesse caso, a vaidade é benéfica. Fato é que, independentemente de estar vinculado ou não a esportes, o que subjaz em todo o processo é a busca por glória, fama, poder.

Mas... os padrões de beleza estão afeitos ao tempo; padrões aliam-se a modismos, a mutações, a demandas sociais. Novos padrões, inclusive, veem a reboque de conflitos. A sociedade, por vezes, parece cansar-se de certos estereótipos de beleza... Alguns dos membros - servis - mergulham de cabeça; seria melhor dizer escravizam-se a novas exigências. Outros, revoltados com a sociedade, colocam-se frontalmente contra a mesma e, destarte, dedignam quaisquer imperativos estéticos. Então surgem os esgares, ou o modismo de escárnio. São corpos cobertos de agressivos atavios, das mais estranhas figuras, das mais bizarras pinturas. Despontam e proliferam os tattoos. A contra-moda também angaria prosélitos.  E a mídia, a serviço da Matrix, continua a desempenhar seu papel de forma magistral.

Do exposto, pode-se inferir que, em verdade, padrões de beleza - mesmo em face da patente degradação - não passam de recursos. São disfarces, são personas, as máscaras, o fingimento; fingimento este característico de toda e qualquer sociedade. (E alguém teve a infeliz ideia de declarar que o ser humano é um animal social - pobre animal, pobre ser humano, podre sociedade). A busca pela glória e fama, hodiernamente, é estimulada por selfies; postagens em redes sociais tem por objeto angariar seguidores, likes, curtidas, etc. Rende-se culto apenas às aparências, a uma exterioridade torpe e repulsiva, que visa, simplesmente, dissimular a busca por um ignaro poder. E nada mais!


Um comentário:

  1. Pois é, primo. Nascemos perfeitos, pois, segundo consta, somos a imagem e semelhança de Deus e Deus e perfeito. O culto ao externo é pessoal, alguns querem a eterna face e forma juvenil, outros cobrem seus corpos de imagens de significado pessoal, tem gente que prefere deixar a natureza seguir seu curso (me representam). Não classifico de fúteis, acredito que estão em busca de algo maior que lhes traga a felicidade. Mas eu prefiro talhar meu ser em busca de meu engrandecimento interior, me fazendo melhor a cada dia deixando brilhar, cada vez mais, a minha Centelha Divina.

    ResponderExcluir