Inúmeras as vezes em que observei lágrimas a acompanhar momentos chamados felizes; incontáveis as oportunidades de mudo pranto no concorrer com a tristeza. O choro, não raramente, brinda não só o amor, mas também o ódio. Há o carpir sequaz ao lamento, à querela, ao arrependimento; por vezes a revolta e o ressentimento revelam-se no plangitivo. Outrossim, o pranto faz-se presente entre o calmo e o ruidoso. E não esqueçamos o recurso das dissimuladas lágrimas, mesmo que distante dos ambientes cenográficos. Enfim, percebo multíplice feições no prantear.
Logo, atônito com tal descoberta,
começo por investigar o desdobrar-se do exercício prantivo. Há que se notar, de
início, a importância que Wolfgang Amadeus Mozart deu ao fenômeno, haja vista o
movimento intitulado “Lacrimosa” em seu inigualável Requiem. Então ouço alguém,
em meio a um comentário banal, proferir com desembaraço: “Lágrimas são
palavras!” Sim, de fato o são. Se bem que tais unidades linguísticas não
pertencem a uma classe gramatical; não têm correspondentes no conjunto de sons
articulados ou sinais gráficos. Há como que uma multiplicidade de signos
originados em variegados sentimentos. A riqueza comunicativa do pranto
transcende ao lexical. Trata-se de invulgar revelação ágrafa, por vezes afônica,
por vezes com emissão específica. Arrisco-me dizê-la um singular sentimento não
vozeado.
"...É mais sublime a lágrima Que exprime as nossas emoções
ResponderExcluirAmenizando a alma cheia de ilusões
Do que sorrir para esconder a mágoa
Que o olhar não diz..." (Lágrimas - Orlando Silva)