quinta-feira, 29 de maio de 2025

Terminologia

 

Sou favorável a uma possível normatização no uso da linguagem. Por que? vós me perguntaríeis. Simples: o mau uso do idioma só faz apequená-lo, degradá-lo, torná-lo medíocre, tão medíocre quanto os que dele se valem. Exemplifiquemos, pois! Pessoas presas em flagrante, que inegavelmente temem pela própria vida e não querem delatar os parceiros no crime, falam em LEALDADE. Criminosos confessos bradam por DIREITOS e exigem JUSTIÇA. É tão comum ouvir políticos falarem em HONESTIDADE, LISURA, TRANSPARÊNCIA. “Os modernos socialistas clamam: ‘LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE’, e negam algo mais que a unidade humana, desenvolvimento e cultura” (Strong). Para terminar cito os neófitos, incipientes e insipientes ditadores que amam discorrer sobre DEMOCRACIA.

Anacronismo

 

Procuro por referências, mas onde? Só no passado. O que de positivo a modernidade tem a oferecer? Desenvolvimento tecnocientífico? A arte como um todo? Programas socioeducativos? Seriedade nas políticas públicas? Uma melhor distribuição de rendas? Ora, fazei-me um favor! Tudo não passa de um extenso e cansativo blá-blá-blá. Mas aqui devo fazer um mea culpa; sim, durante anos permiti-me crer em narrativas mítico-enganosas. E com sério sentimento de culpa observo as novas gerações. Enfim, o que esperar de potenciais suicidas que em tudo reconhecem-se como vítimas; que se negam a cumprir normas e serem gerenciados; que pretendem usufruir de total liberdade, se bem que distantes de qualquer responsabilidade?

Recordo-me, então, que o ser humano ainda precisa de heróis, de ídolos, de mitos. Todavia, onde encontrá-los? Mesmo ciente de estar a cometer um grave erro de anacronismo, volto-me ao século XIX. Oh Deus, quanta decepção! Imaginai que ao conversar com um jovem acerca dos antigos personagens, disse-me ele que, ao invés de um D’Artagnan, preferiria deixar o cavanhaque crescer, colocar uma venda no olho esquerdo, uma bandana na cabeça, uma espada na cintura e encarnar Hook, o Capitão Gancho.

Tudo se resume a uma questão de valores!

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Insídia

 

Alertaram-me quanto a acidentes, pois que, para “modelos antigos” como eu, não mais existiriam peças de reposição. Como responder? De início agradecido, pois isso, de fato, procede. Minha geração, pessoas como eu, apesar dos inúmeros malfeitos, dificilmente serão substituídas. Trata-se de valores, de princípios; trata-se de integridade, uma disposição - assim creio - até então desconhecida pela “nova classe”.

Bem, mas neste passo deparo-me com um dilema: devo entender-me como alguém singular? Em face da patente degeneração social, confesso realmente estar inclinado a sentir-me assim. Todavia, como ficaria a modéstia? Modéstia, um termo insidioso. Explico-me: negar-se a ser modesto é arrogância; assumir a modéstia, decerto seguir-se-á a acusação de falsa modéstia; negar a falsa modéstia, por certo receberá o epíteto de hipócrita.

Logo, outra constatação se me apresenta: como está difícil conviver com tantos adjetivos!   

Escritos intempestivos

 

A coisa é mais séria do que parece. Tornei-me atemporal somente porque o hábito de ler caiu em desuso. É preocupante! Não por sentir-me alijado em meus escritos intempestivos, mas porque não só a leitura, como também os demais bons hábitos estão sendo relegados ao ostracismo. Sem entender o porquê, percebo que a comunicação mostra-se cada vez mais necessária. Se bem que uma comunicação rota, superficial, desnutrida, numa linguagem banal, capenga, distante até mesmo da coloquialidade. Infelizmente, além do abandono da leitura, incorpora-se dia-a-dia um sem número de estrangeirismos. (Alguém sugeriu-me um novo título para o presente texto: “Timeless Writings”). Aquém do desinteresse linguístico, a subserviência inata, a mentalidade colonial.  

Ser brasileiro é isso: é empenhar-se em não ser; é lutar por uma não identidade! 

Vazio


Esvaziei-me do mundo, da mundanidade. Fiz-me ausente; ausente até da literatura, das artes... Afinal, o que o mundo tem a nos oferecer? E, por favor, deixemos de lado o romantismo, a fantasia, o clichê. Pelo mundo somos ludibriados, enganados... Realidades são forjadas, verdades manipuladas, histórias distorcidas. Somos reféns de modismos, de ardis. O recurso midiático enaltece o crime, os desvalores; o individualismo e a vaidade são estimulados. Até mesmo a indústria assimilou o idiotismo passageiro ao voltar-se à obsolescência programada.  E, infelizmente, as artes desvirtuaram-se, pois cumprem um papel ideológico.

A pergunta então seria: esvaziei-me do que? 

sábado, 24 de maio de 2025

Id bonum est (Isso é bom)

 

Ando a pensar - a divagar talvez - em escrever um projeto de lei, onde o latim voltasse a ser ministrado nas escolas. Loucura? Mesmo? Meu argumento: já que a língua inglesa, gradativamente, conquistou seu espaço em nosso idioma, levando com isso a criação de inúmeros cursos em nosso país, por que não o latim? Pois caso não tenhais percebido, a novidade agora - uma tendência? - é usar títulos e/ou nomes genéricos em uma língua considerada morta. Quereis exemplos? Vamos a eles!

Uma bela cantora e também atriz, depois de brilhar mais que a própria “Purpurina”, presta-se a fazer comerciais de medicamentos valendo-se do latim de extintos bucaneiros europeus. Estaria ela em busca do brilho perdido? Coisa interessante, o nome do laboratório é uma mistura de latim com inglês. Outro exemplo volta-se à Pereskia Aculeata, uma trepadeira folhosa, rústica, indicada em casos de anemia, melhora do funcionamento intestinal, perda de peso e envelhecimento precoce. Pois bem, a planta ficou conhecida como Ora Pro Nobis, ou seja, Orai Por Nós.  

Esses são, de fato, pecadores! Estaria eu exagerando?  


quinta-feira, 22 de maio de 2025

Alimento-base

 

Perdoai-me o molesto, mas acredito estarmos diante de grave problema alimentar. Afinal, as pessoas necessitam de nutrientes para que as funções vitais também do intelecto sejam mantidas. Não falo em carboidratos, vitaminas, proteínas ou sais minerais; falo em conhecimento, em livros como alimento. Todavia, receio ter sido aberta uma janela, a Janela de Overton, e por ela o apedeutismo tornou-se parte integrante de nosso cotidiano. A ignorância agora é mainstream; o conhecimento está marginalizado.

Senão vejamos: como reconstruir uma sociedade estável e feliz a partir de pessoas egoístas, fracas, desonestas, miseráveis, corruptas? A fazer minhas as palavras de Aristóteles, cito: “A iniquidade perverte o juízo e faz os homens errarem no que se refere aos princípios práticos, de modo que aquele que não é bom não pode ser sábio e judicioso”. E Spurgeon pode então corroborar: “A sociedade jamais será melhor do que os indivíduos que a formam”. De que precisamos, então? Execuções? Não! Alimentos, livros, livros, livros...

Por onde andam nossas bibliotecas de referência? O fechamento de bibliotecas é sintoma grave de degeneração social. Nossa maior referência literária - ABL - virou “puxadinho” ideológico. Temos livrarias, bem poucas na verdade, mas estas não oferecem o alimento necessário. Dando prosseguimento à metáfora, declaro que livrarias oferecem apenas fast foods. As obras hodiernas são alimentos nocivos. A crise na criatividade também pode ser explicada: enfim, como pode uma sociedade desprovida dos mínimos valores produzir algo de referência? Livrarias vendem tira-gostos que contemplam o Eu. E isso é grave, pois “o Eu é um princípio de isolamento”. Como pensar uma sociedade justa e harmônica quando esta contempla somente o interesse de alguns Eus?

Lamentavelmente, em nosso país, como em muitos outros, seres humanos, além de famintos, estão sendo envenenados.     

Teen reborn

 

A nova febre chama-se bebê reborn. Tem vovó irritada porque os postos de saúde negam-se em vaciná-los. Calculo que essas vovós sejam herança (ou consequência) viva (muita droga) de Woodstock. Mas voltemos aos bebês, ou melhor às bonecas. Tem gente exigindo creches para deixarem as bonecas enquanto trabalham. Outros querem atendimento pelo SUS. E essa agora é de cair o queixo: tem bebê reborn recebendo pensão alimentícia.

Será que ainda pode piorar? Prometo que vou me esforçar. Que tal um adolescente reborn? Educação? Teriam direito ao Programa Pé-de-Meia? Fariam o quê nas universidades? Pergunto-me também pela ideologia escolhida (escolhida?). Conseguiriam trabalho? Que tal como jovem aprendiz? Seriam também aficionados em mídias sociais? Fãs de Alok, com sua música eletrônica?  Drogas? Pera aí!

Não, nada de assombro! A adolescência (teen) reborn (renascida) apesar de carne e osso, partilham do nosso dia-a-dia.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Surpresas?

 

A vida é repleta de surpresas. Quem poderia imaginar Darth Vader pai de Luke Skywalker e da princesa Léia? Quem diria então que os gregos, criadores da Filosofia, nos brindariam com um Cavalo de Tróia chamado democracia? Há os que comemoram as chuvas, enquanto outros cantam “Here comes the Sun”. Quanto tempo faz que estamos em guerra? Nossa história, a dos seres humanos, parece ser pontuada apenas pelo mal. Não, a vida não é só surpresas; há consequências! Quem diria, ator famoso, após a harmonização facial (cara de cebola), presta-se a fazer comercial de estimulante sexual; cantora a usar latim de cabaré para vender medicamentos e apresentadora no ostracismo com um comercial de margarina. Carecemos de heróis; os ídolos são fabricados. Até mesmo a nova geração de pregadores, ao simplificar a essência religiosa, foi responsável pelo declínio espiritual. Valores se perderam, a arte está em crise, o fim está próximo...  


terça-feira, 20 de maio de 2025

O turista

 

Os telejornais não falavam outra coisa: Clark Kent a passear pelo calçadão em Copacabana! Mas ele não podia dar um passo; fãs de todas as idades querendo fazer selfies. E a primeira pergunta ocorreu-me: onde estaria Lois Lane? Os antenados apressaram-se em informar: “Acabou, ela agora está com o Lex Luthor. Parece que Lois desconfiou de um affair entre o marido e a ex Lana Lang”. É, a fila anda...

Já próximo do Forte Copacabana, uma meia dúzia de engraçadinhos disfarçados de fãs tentaram furtar o turista. A coisa complicou! Clark distribuiu tapas para todos os lados. Um deles sacou da arma, uma Glock Echelon e atirou repetidas vezes. Mas ali, afinal, estava o super-homem, e os tiros de nada adiantaram. Então os pilantras pediram ajuda.  E eis que surge um comboio da facção a que pertenciam. Gente correndo, tiro pra todo lado, alguns feridos.

Nesta altura, talvez levado pelo hábito, Clark procura por uma cabine telefônica para trocar de roupa. Mas... não mais existem cabinas telefônicas; o negócio agora resume-se a cell phone. O herói invade a portaria de um prédio residencial para arrancar o “paisano”. Mulheres gritam e o acusam de atentado ao pudor e exibicionismo. Por debaixo dos panos estavam o macacão azul com o escudo no peito e a capa vermelha. Superman entra em cena, destrói os comboios, distribui pancadas e prende todos os meliantes. Não muito distante, a milícia observa.

A polícia chega, prende todos os delinquentes, apreende armas, munições, etc. O flagrante é lavrado. Clark é obrigado a comparecer à delegacia para prestar queixa. Os detentos são conduzidos à audiência de custódia. Então, pasmai: os marginais são postos em liberdade. A mídia, que horas antes locupletava-se com a notícia do ídolo a caminhar pelas ruas, agora o acusa de “uso excessivo da força”, pois afinal aquelas pessoas eram “vítimas de uma sociedade desigual” (risos). Uma repórter, a falar em “jornalismo com ética e credibilidade”, exibe fotos do Clark a se trocar na portaria do prédio. O ativismo “social-pata” exige punições para o herói.

Por tratar-se de estrangeiro e alguém famoso, a Polícia Federal foi acionada, até porque Clark foi acusado de espionagem. Donald Trump, inclusive, já foi citado como mandante em algumas reportagens. Mas, apesar das acusações feitas pelo Ministério Público, ninguém se mexeu. Enfim, quem se exporia a levar porrada? A Procuradoria Geral da República já ofereceu denúncia e o STF reuniu-se. Dizem que o Xandão já encomendou 1 Kg de kriptonita para poder prender o fascista que atentou contra o Estado Democrático e colocá-lo na Papuda. Um outro ministro, quando consultado acerca do processo, respondeu: “Ora pois, a extradição será negada”.

A mais recente e boa notícia foi a de que Clark subiu ao telhado do Copacabana Palace, trocou de roupa e voou para casa.         

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Similaridade

 

Teria sido um sonho? Desde aquela noite faço-me a mesma pergunta, o que atesta minha patente dessabença. Estaria eu sendo estimulado pela vera realidade? Sim, de início pareceu-me real, mas depois... imagens, circunstâncias e situações rápidas, porém nítidas. Estava em um funeral; via pessoas, familiares a vagar. Então procurei localizar-me. Foi quando ergui-me do esquife. E lá estava meu corpo, ou melhor, o que até então me servira de invólucro. Assustei-me com a cena: meu rosto sereno, mãos cruzadas sobre o peito, o terno e a gravata a servir de adorno. Dir-se-ia uma mórbida elegância. Pisei o chão da capela e pus-me a vagar por entre os visitantes. Ninguém dava por mim. Se eu pertencesse a recente geração, por certo consideraria: “Pior do que estar morto é não ser notado!”

Súbito um olhar a encarar-me: menino de 4 anos talvez, aloirado, bonitinho. E ele falou alto e em bom som: - “É o vovô; ele está aqui!” Meu neto?! Desconhecia aquela descendência. Gritos, choros e olhares vagando a minha procura. Eu não tinha onde nem porque refugiar-me, pois passavam por mim, esbarravam em mim... Não, não esbarravam. Passavam através de mim. E dizem que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Se bem que... meu corpo repousava no ataúde. A agitação tomou vulto; alguém apressou-se em chamar um padre. Só me faltava essa: ser exorcizado depois de morto. E quando a balbúrdia mostrava-se inadministrável, acordei.

E a pergunta: Acordara de fato? Ou despertara para a verdadeira não-vida? De pé ao lado da cama eu buscava por um corpo, pelo meu corpo. Mas o corpo estava em mim, ou eu no corpo... sei lá. E dali em diante, o que seria, de fato, viver? Quem sabe uma morte mascarada? Dúvidas perseguem-me, contudo uma quase certeza se me apegou: vivemos apenas o arremedo do que chamam vida!   

domingo, 4 de maio de 2025

Genus indefinitum

 

Criaturas, apenas criaturas; difícil identificar uma raça. Até porque, já que de raça indefinida, ela pode assumir as características de qualquer outra. Manifestam-se como lobos, como hienas, como cobras, como agressivos felinos... Se bem que, por vezes, surge um humano; bem poucos, na verdade. Estes tornaram-se exemplos a serem seguidos: patriarcas, líderes e também profetas. Mas a sociedade - melhor falar em bando - de “mixta stirpe” (sem raça definida) negou-se a seguir os exemplos.

A desordem tomou vulto: indefinidos a dominar, escravizar e explorar seus iguais. A violência fez-se presente; a anomalia instituiu-se. As ditas criaturas, cientes e portadoras de uma degradação inata, deram azo às mais primitivas inclinações. E quando os perseguidos buscavam um novo líder para os libertar, surge um humano com atitudes similares a uma ovelha. Sim, alguém que exemplifica a humildade, a honradez, a lhaneza; a ovelha arquétipo do amor, da caridade, da compreensão...

Mas isso teve consequências, afinal o bom exemplo dentre um bando de escroques, por certo “contaminará” todo o resto. E o contágio veio; muitos indefinidos quiseram tornar-se também ovelhas. A repressão, a perseguição como resposta. Acusações forjadas, prisão, tortura e morte. A humilhação, contudo, foi de certo modo consentida, pois o humilhado negou-se a abandonar sua condição de ovelha; o fato de negar-se a si mesmo foi seu principal legado. Ele abriu mão de si e fez-se ovelha para nos ensinar como nos tornar seres humanos e não meras criaturas.

Muitos dizem: o mundo continuou tal e qual. Será? Houve melhoras? Não, evidentemente. Mas o que esperar de sociedades que respiram aviltamento, depravação, corrupção? A indignidade é mais fácil de ser seguida; probidade, integridade e lisura dão trabalho e não trazem recompensas imediatas. Então o desvairamento cresce em progressão geométrica; a apostasia assoberbou-se, tornou-se endêmica.

Não, nosso modelo não se ausentou; apenas não mais temos dEle a presença física. Ele continua presente, atuante, imanente. Todavia, em face de tantos desmandos a ovelha metamorfoseou-se: Cresceu em tamanho, tem músculos mais pronunciados; não mais a lã para nosso conforto; não mais o pálido balido, mas o rugido atemorizador.  Devo lembrar-vos de que Aquele que dantes mostrou-se como ovelha, em breve revelar-se-á como leão.