Criaturas, apenas criaturas; difícil identificar uma raça. Até porque, já que de raça indefinida, ela pode assumir as características de qualquer outra. Manifestam-se como lobos, como hienas, como cobras, como agressivos felinos... Se bem que, por vezes, surge um humano; bem poucos, na verdade. Estes tornaram-se exemplos a serem seguidos: patriarcas, líderes e também profetas. Mas a sociedade - melhor falar em bando - de “mixta stirpe” (sem raça definida) negou-se a seguir os exemplos.
A desordem tomou vulto: indefinidos a dominar,
escravizar e explorar seus iguais. A violência fez-se presente; a anomalia
instituiu-se. As ditas criaturas, cientes e portadoras de uma degradação inata,
deram azo às mais primitivas inclinações. E quando os perseguidos buscavam um
novo líder para os libertar, surge um humano com atitudes similares a uma
ovelha. Sim, alguém que exemplifica a humildade, a honradez, a lhaneza; a ovelha
arquétipo do amor, da caridade, da compreensão...
Mas isso teve consequências, afinal o
bom exemplo dentre um bando de escroques, por certo “contaminará” todo o resto.
E o contágio veio; muitos indefinidos quiseram tornar-se também ovelhas. A repressão,
a perseguição como resposta. Acusações forjadas, prisão, tortura e morte. A
humilhação, contudo, foi de certo modo consentida, pois o humilhado negou-se a
abandonar sua condição de ovelha; o fato de negar-se a si mesmo foi seu principal
legado. Ele abriu mão de si e fez-se ovelha para nos ensinar como nos tornar
seres humanos e não meras criaturas.
Muitos dizem: o mundo continuou tal e
qual. Será? Houve melhoras? Não, evidentemente. Mas o que esperar de sociedades
que respiram aviltamento, depravação, corrupção? A indignidade é mais fácil de
ser seguida; probidade, integridade e lisura dão trabalho e não trazem
recompensas imediatas. Então o desvairamento cresce em progressão geométrica; a
apostasia assoberbou-se, tornou-se endêmica.
Não, nosso modelo não se ausentou;
apenas não mais temos dEle a presença física. Ele continua presente, atuante,
imanente. Todavia, em face de tantos desmandos a ovelha metamorfoseou-se: Cresceu
em tamanho, tem músculos mais pronunciados; não mais a lã para nosso conforto; não
mais o pálido balido, mas o rugido atemorizador. Devo lembrar-vos de que Aquele que dantes
mostrou-se como ovelha, em breve revelar-se-á como leão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário