Baseado
em fatos reais
Talvez a inconformidade com a situação
leve este meu amigo a tornar pública sua genealogia. De antemão posso vos
afiançar que não se trata de ambição, promoção ou busca por estilo de vida
diferenciado. Conhecendo-o como eu conheço, sabendo-o alguém tão voltado ao
conhecimento e ligado à família, sou levado a crer em suas informações, por
mais estapafúrdias que estas pareçam. Sem mais delongas, portanto, dou início à
narrativa.
E tudo teve início quando Gabriel leu
uma publicação dos Diplomados pela Academia Brasileira de Letras. Neste
impresso, um breve artigo de sua tia-avó que durante muitos anos fora
secretária da ABL. A matéria relatava, e de modo muito sutil, a história de uma
menininha que participara de um sarau com o então Imperador Pedro II. Ao final
do evento, o Imperador pegou a criança nos braços e tentou iniciar uma
conversa. - “Diga a todos o seu nome!” A menina olhou em torno e falou bem
baixinho: - “Maria”. O soberano provocou: - “Não tenhas receio”. E a criança
respondeu: - “Todos me disseram para chamar o senhor de Majestade, mas como é
seu nome?” E ele então, entre sorrisos, afagos e carinhos, falou: - “Chama-me
somente Pedro!”
Não obstante a leveza, o texto
discorria, inclusive, sobre os pais da menininha: ambos eram cegos. A tia-avó
de Gabriel terminava a narrativa com a frase: - “E esta menina era minha mãe!” Eis
aí a origem de toda a investigação realizada, pois afinal o amigo acabara de
saber um pouco mais sobre sua bisavó. Então teve lugar a busca por documentos,
livros, biografias, cartas... A pesquisa revelou que D. Pedro II foi um homem
voltado à leitura, ao conhecimento, à música. A política não era de seu agrado;
o mesmo não se pode dizer da filha Isabel. Como homem voltado às artes, pessoa
de bastante sensibilidade, acabou por se envolver com outras mulheres; poucas,
na verdade. Diferentemente do pai, D. Pedro I, ele não colecionava amantes.
Gabriel, em suas diligências,
deparou-se com um certo lado “oculto” de sua própria história. O envolvimento
de Pedro II com a esposa de um jardineiro do palácio suscitou uma gravidez;
gravidez esta que originou dois filhos gêmeos, ambos cegos de nascença. Talvez
isso explique o porquê do Imperador ter inaugurado o Instituto Benjamin
Constant, para cegos, em 1854. E os filhos do regente lá estudaram e lá
conheceram suas esposas, também cegas. Pois bem, um dos deficientes visuais,
músico e compositor fora o pai de sua bisavó, neta do Imperador.
Aqui voltamo-nos à reflexão: seria de
tal monta a imaginação e/ou criatividade a ponto de perverter a história? Bem,
e como informação adicional, omitindo, por certo, a condição de ilegítimo, o amigo
Gabriel está pensando fazer constar em seu Curriculum Vitae o título de
pentataraneto de Pedro II.
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