Alguns
conceitos, por se fazerem amplos, acabam por transcender o entendimento humano.
O conceito de liberdade é exemplo disso. Uma singela definição nos diz que
liberdade é o direito de agir de acordo como nosso entendimento, contanto que
esse direito não interfira e avilte o direito de outrem. Mas se temos o direito
de proceder de acordo com nossa intelecção, por que a preocupação com o direito
do outro? Afinal, o simples fato de não poder agir em conformidade com nossa
razão para não ferir o direito de outrem, fere nossa liberdade. Em verdade, por
se tratar de um direito, estamos na presença de regras, normas, leis. Ora, mas
as leis tem por finalidade por limites à liberdade. Neste caso a liberdade
assimila a condição de dever e não mais um direito. Eis um primeiro obstáculo em face da amplidão do conceito.
No
entanto, gozar de liberdade é ser livre? Então perguntemo-nos: o que é ser
livre? Ora, ser livre é poder dispor de si, é propor-se, é resolver-se, é
resignar-se. Nesse caso, podemos nos sentir livres sem dispormos de nós mesmos.
Percebei? Ser livre é um sentir. Ser livre não é um direito, mas sim uma
condição, uma circunstância, uma autodeterminação, algo de foro íntimo; sentir-se
livre estaria vinculado à idiossincrasia. A sabedoria estoica diz-nos que
apesar de escravizados, os cidadãos podem sentir-se livres. O sentir-se livre
independe da liberdade, pois que liberdade é conduta social. A liberdade deve e
tem que passar pelo controle social para que não culmine no absoluto, no
libertário, no anarquismo.
Nossa
sociedade, no entanto, em face dos desmandos e da busca incessante por uma
liberdade que desconhece qualquer responsabilidade, já transpôs o anarquismo. Nossa
sociedade, e graças ao messianismo jurídico, aliado aos discursos escamoteados
por uma retórica irritante da esquerda, já prescinde das regras e adentra o
orbe da libertinagem. Sim, nosso comportamento social é totalmente desregrado,
o povo mostra-se como dissoluto, devasso, licencioso, indisciplinado,
negligente, imorigerado. Mas, curiosamente, a esquerda continua brandindo seu
gládio, instando por liberdade, liberdade, liberdade...
E
Eleútheros revelou-me em sussurro: “quando a verdadeira liberdade abrir suas
asas sobre nós, ficaremos, enfim, libertos desta esquerda doentia e leviana”.
Somos livres para pensar, agir nem tanto. Lembremo-nos da recomendação do apóstolo Paulo, "...tudo me é lícito, porém nem tudo me convem..."
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