domingo, 9 de dezembro de 2018

Eleútheros




Alguns conceitos, por se fazerem amplos, acabam por transcender o entendimento humano. O conceito de liberdade é exemplo disso. Uma singela definição nos diz que liberdade é o direito de agir de acordo como nosso entendimento, contanto que esse direito não interfira e avilte o direito de outrem. Mas se temos o direito de proceder de acordo com nossa intelecção, por que a preocupação com o direito do outro? Afinal, o simples fato de não poder agir em conformidade com nossa razão para não ferir o direito de outrem, fere nossa liberdade. Em verdade, por se tratar de um direito, estamos na presença de regras, normas, leis. Ora, mas as leis tem por finalidade por limites à liberdade. Neste caso a liberdade assimila a condição de dever e não mais um direito. Eis um primeiro obstáculo em face da amplidão do conceito.

No entanto, gozar de liberdade é ser livre? Então perguntemo-nos: o que é ser livre? Ora, ser livre é poder dispor de si, é propor-se, é resolver-se, é resignar-se. Nesse caso, podemos nos sentir livres sem dispormos de nós mesmos. Percebei? Ser livre é um sentir. Ser livre não é um direito, mas sim uma condição, uma circunstância, uma autodeterminação, algo de foro íntimo; sentir-se livre estaria vinculado à idiossincrasia. A sabedoria estoica diz-nos que apesar de escravizados, os cidadãos podem sentir-se livres. O sentir-se livre independe da liberdade, pois que liberdade é conduta social. A liberdade deve e tem que passar pelo controle social para que não culmine no absoluto, no libertário, no anarquismo.

Nossa sociedade, no entanto, em face dos desmandos e da busca incessante por uma liberdade que desconhece qualquer responsabilidade, já transpôs o anarquismo. Nossa sociedade, e graças ao messianismo jurídico, aliado aos discursos escamoteados por uma retórica irritante da esquerda, já prescinde das regras e adentra o orbe da libertinagem. Sim, nosso comportamento social é totalmente desregrado, o povo mostra-se como dissoluto, devasso, licencioso, indisciplinado, negligente, imorigerado. Mas, curiosamente, a esquerda continua brandindo seu gládio, instando por liberdade, liberdade, liberdade...

E Eleútheros revelou-me em sussurro: “quando a verdadeira liberdade abrir suas asas sobre nós, ficaremos, enfim, libertos desta esquerda doentia e leviana”.

Um comentário:

  1. Somos livres para pensar, agir nem tanto. Lembremo-nos da recomendação do apóstolo Paulo, "...tudo me é lícito, porém nem tudo me convem..."

    ResponderExcluir