O
presente texto poderia ter por título “Procedimentos Antipedagógicos”, ou
talvez “Paideia da Indiferença”. No entanto, parece-me que todos os títulos se revelam
como sinônimos em face da deplorável realidade no que concerne à educação no
país.
Uma
primeira observação diz respeito à mercantilização do ensino. Sim, neste caso
não há outro termo para definir tal realidade. Desde o ensino fundamental até o
terceiro grau, não há rígidos critérios para se autorizar o funcionamento de
instituições educacionais. Tanto na pré-escola como na alfabetização existe todo
um discurso, no qual as instituições se autodeclaram fiel seguidoras do
construtivismo. Balela; mera retórica. A maioria não sabe sequer de que trata o
processo cognitivo. No ensino fundamental não é diferente, os modelos
educacionais obedecem, via de regra, aos padrões estabelecidos por “educadores”
vinculados à ideologia marxista, onde tem início a linha de montagem do “analfabetismo
funcional”. O ensino médio vem dar um primeiro arremate ao que já fora iniciado
na etapa precedente, ou seja, intensifica-se o processo de manipulação
comportamental, no qual se busca alimentar a adolescência com forte carga
ideológica, e, mais uma vez, olvidando os conteúdos necessários à boa formação.
No
nível superior, quando em universidades públicas, o processo chega a seu auge,
principalmente nos cursos das áreas humanísticas, artísticas e educacionais. As
matrizes curriculares são montadas de tal forma que os conteúdos sempre
abrangem os mesmos aspectos e os mesmos autores. Não há espaço para pensadores
que divirjam nem para pensamentos dialéticos. A cobrança nas avaliações, apesar
de todo um discurso que diz contemplar o raciocínio crítico e a liberdade de
pensar, pauta-se em analisar apenas o nível de assimilação doutrinária, onde
mais uma vez, conteúdos fundamentais são deixados de lado. Eis o pensamento
crítico, isto é, aquele que desconhece qualquer antítese. E este processo que
difama a própria educação tem continuidade no mestrado e doutorado. Projetos
são analisados à luz de “linhas de pesquisa”, ou seja, dos interesses de alguns
em dar continuidade à farsa educativa. Um dos critérios ocultos nos processos
seletivos para os cursos de pós-graduação é o paternalismo, o nepotismo. Não há
espaço para o ineditismo, para o genuíno, pois ao final de tudo ainda existe
uma CAPES ou um CNPq. Não vos espanteis, pois é comum “doutores” falarem mal o português
coloquial. Escrever, então ... Outro idioma? Para que?
Quando
o ensino superior é proporcionado por instituição privada, o que se vê, por um
lado, é a preocupação do Estado em fabricar uma população “culta”, portadora de
diplomas de graduação; por outro, o empresário que visa apenas o lucro. Não há
o menor comprometimento em proporcionar ensino de boa qualidade. Os discentes
são tratados como clientes, e a conduta comercial é seguida à risca, ou seja: “o
cliente tem sempre razão”. Não há critérios para avaliações; o importante é o
“cliente” ficar satisfeito. Os professores são “orientados” (estou fazendo uso
de um eufemismo) a não reprovarem, a “facilitarem” a vida dos alunos. Aqui eu
lhes reclamo a atenção para a “Paideia da Indiferença”, pois a quase totalidade
dos professores acatam as exigências das instituições sem o menor
questionamento. Na verdade, as orientações pedagógicas se amoldam às demandas
dos clientes. Não se reprovam alunos por falta de comparecimento às aulas; as
avaliações devem ser as mais simples e objetivas possíveis; os conteúdos devem
se adequar à capacidade de assimilação do alunado; devem ser empregados todos
os recursos possíveis para se ter 100% de aprovação. Sim, importante: estes "brilhantes" alunos avaliam seus professores, algo que recebe acompanhamento da psicopedagoga.
Este lindo título é ostentado por aquele (a) que tem como papel fundamental
defender os interesses dos empresários; não se pode perder alunos, afinal o
FIES é garantidor de boa parte dos recursos das empresas. Professores
preocupados com suas avaliações e, dessarte, em manter o emprego, tornam-se
indiferentes às práticas profissionais.
Estes
“Procedimentos Antipedagógicos” - esta perversão - tem início ainda na época do
vestibular, ou melhor, no não vestibular. Em grande parte destas instituições
não se realizam provas; em algumas delas somente uma redação. Pasmai! A mor
parte das redações são escritas em um dialeto totalmente estranho ao português.
Os alunos não sabem juntar sujeito, verbo e predicado numa mesma oração. Tudo lhes é facilitado
para o ingresso nas instituições, bem como sua permanência até o final do
curso. Na verdade, o que temos? As pessoas compram seus diplomas a crédito, e a
maior parte delas custeadas pelo governo federal.
Houve
uma época, e isso faz muito tempo, que ao final do curso de graduação tinha
lugar uma banca para realizar arguição oral no formando. Recentemente, as
bancas se reuniam para arguir sobre o trabalho monográfico apresentado pelo
discente. Mas as reclamações dos alunos fez com que as ações pedagógicas se
adaptassem: não mais bancas, nem mais trabalhos monográficos; agora bastam
artigos. Os alunos reclamavam de que não se sentiam à vontade diante das
bancas, sentiam-se envergonhados, etc. Ora, tentai imaginar, alunos formandos
em Direito ou Pedagogia mas envergonhados no falar em público.
Bem,
por último, pretendo abordar o “Mau-caratismo Educacional”. O aluno pode, desde
que sob pagamento, encomendar via internet seu trabalho de conclusão de curso,
indiferente se artigo ou monografia para graduação, se dissertação de mestrado
ou se tese de doutorado. Todavia, qualquer professor pode - pois que deveria
conhecer o potencial de seus alunos - reconhecer, através do trabalho
apresentado, o plágio ou a não autoria do mesmo. Não, não há qualquer
referência a este tipo de atitude no código penal; não há crime. O que existe, de fato, em todo o nosso processo educativo é apenas a
manifestação de um enredo macabro que conta não apenas com o biltre que oferece a
confecção de semelhantes trabalhos pela internet, mas com a canalha que contrata os
referidos trabalhos e a patifaria de professores que fazem vista grossa a toda
esta pedagogia teratoide.
Eis
a pátria educadora!
Sensacional. Sintetizou com maestria o nosso "progresso" na educação nos últimos 40 anos. Lembro-me daquela música nos "stand-ups" do Juca Chaves, "...Este é um pais que vai pra frente, oh oh oh oh oh...". Mas enquanto tocava a música, o caranguejo, ah!!! o caranguejo....andava de costas!!!!
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