segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Em boa companhia

 

Há muito identifiquei, haja vista o insistente estridular, a presença de um Gryllidae  Acheta Domesticus em minha biblioteca. Acalmai-vos, trata-se de inofensivo grilo, apesar de ostentar esta belíssima e charmosa alcunha. Permito-me tal convivência, até porque nada existe de incômodo ou insalubre nesta interação. Atualmente, em várias cidades do país, e também no mundo, tornou-se recorrente a presença não só de grilos, mas de uma grande variedades de insetos. Curioso é como as reportagens exibem em seus “ensaios” a falta de predadores naturais como causa desta insólita invasão. A seguir tal aconselhamento, doravante, deveremos estimular a criação de lagartixas e/ou sapos em nosso lares.

Nada obstante, nenhum ser humano parece querer assumir sua parcela de culpa nesse desequilíbrio natural/ambiental. Os humanos ainda não atentaram para um simples detalhe: eles são os principais responsáveis por tal descalabro. E por trás de tudo existe a ciência, que promete tornar-nos longevos, quiçá imortais. Lamentavelmente e de fato, a ciência é nossa Caixa de Pandora. Os moradores dos grande centros, não só desinformados, mas também incomodados, refutam as sugestões de biólogos e apelam para a dedetização.

Na contramão desse insetívoro genocídio, preparei confortável lugar para meu visitante. Sim, inspirado nas cenas de “O último Imperador”, premiada película de 1987, dirigida por Bernardo Bertolucci, instalei em canto estratégico da singela biblioteca uma quartinha de barro sem tampa. Assim, eu e meu fiel companheiro, igualmente solitário, solidarizar-nos-emos em noites insones e lugares ermos. E quem sabe um dia, não um último imperador como Puyi, mas eu mesmo, depois de me reeducar e aprender a viver uma vida comum e em total disponibilidade, possa reencontrar o amigo, mesmo envelhecido, a estridular ainda em busca de companhia?  

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