Há muito identifiquei, haja vista o
insistente estridular, a presença de um Gryllidae Acheta Domesticus em minha biblioteca. Acalmai-vos,
trata-se de inofensivo grilo, apesar de ostentar esta belíssima e charmosa alcunha.
Permito-me tal convivência, até porque nada existe de incômodo ou insalubre
nesta interação. Atualmente, em várias cidades do país, e também no mundo, tornou-se
recorrente a presença não só de grilos, mas de uma grande variedades de insetos.
Curioso é como as reportagens exibem em seus “ensaios” a falta de predadores
naturais como causa desta insólita invasão. A seguir tal aconselhamento,
doravante, deveremos estimular a criação de lagartixas e/ou sapos em nosso
lares.
Nada obstante, nenhum ser humano
parece querer assumir sua parcela de culpa nesse desequilíbrio
natural/ambiental. Os humanos ainda não atentaram para um simples detalhe: eles
são os principais responsáveis por tal descalabro. E por trás de tudo existe a
ciência, que promete tornar-nos longevos, quiçá imortais. Lamentavelmente e de
fato, a ciência é nossa Caixa de Pandora. Os moradores dos grande centros, não
só desinformados, mas também incomodados, refutam as sugestões de biólogos e apelam
para a dedetização.
Na contramão desse insetívoro
genocídio, preparei confortável lugar para meu visitante. Sim, inspirado nas
cenas de “O último Imperador”, premiada película de 1987, dirigida por Bernardo
Bertolucci, instalei em canto estratégico da singela biblioteca uma quartinha
de barro sem tampa. Assim, eu e meu fiel companheiro, igualmente solitário,
solidarizar-nos-emos em noites insones e lugares ermos. E quem sabe um dia, não um
último imperador como Puyi, mas eu mesmo, depois de me reeducar e aprender a
viver uma vida comum e em total disponibilidade, possa reencontrar o amigo,
mesmo envelhecido, a estridular ainda em busca de companhia?
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