quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Sátiras e Epigramas - revivendo Bocage

                     I

Tinha uma dor muito aguda

Um homem. Veio o doutor,

E disse: “Com três regrinhas

O livro já dessa dor”.

 

Corre a lançar mão da pena,

Eis diz o enfermo a tremer:

“Ai! Nada senhor doutor;

Antes penar do que morrer!”

         

                  II

Uma terra dizem que há,

Onde a fome acerba e dura,

Cabo dos médicos dá:

Por que é isto? É porque lá

Pagam somente a quem cura.

      

                    III

Homem de gênio impaciente,

Tendo uma dor infernal,

Pedia para matar-se

Um veneno ou um punhal.

 

“Não há (lhe disse um vizinho,

Velho, que pensava bem),

Não há punhal ou veneno;

Mas o médico aí vem”.

                

                IV

Lê-se numa sepultura

De antiguidade Afonsina:

“Aqui jaz quem não jazera,

Se jazesse a medicina”.

 

                  V

“Fábio, o meu dileto amigo,

(Dizia Alfeu consternado),

Dos médicos mais insignes

Está já desamparado”.

 

– “Oh, sai dali um sujeito,

De circunspecta presença,

Feliz se o desamparassem

No princípio da doença!”

* * * 

Então eu vos pergunto: Por que Manoel Maria Barbosa du Bocage, o poeta de Setúbal, nascido no século XVIII, faria tantas críticas a médicos e à medicina? Profecia ou pragmatismo? Bem, independente de qual seja resposta, fica aqui esta singela homenagem a OMS, ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a Dráuzio Varella e muitos mais. 

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