Façamo-nos mudos; eu planeio uma sociedade de mudos. Não desejo ouvir vozes, por mais sensuais que sejam; nada mais de discursos, mesmo que afetados ou pomposos; nada mais de narrativas, sejam verdadeiras ou falsas. Opiniões? nem pensar, independentemente se genuínas ou pautadas na insinceridade. Porém, este meu projeto tem origem não em mim, mas na sociedade que me alberga. Por que? Simples. São tão comuns os slogans a enaltecer respeito e liberdade de opinião; são contumazes os sermões e as prédicas a falar sobre franqueza, desassombro, sinceridade nas relações e tudo mais. Todavia, o que se observa é a criminação do pensar. Sim, às opiniões vinculam-se adjetivos os mais variados, predicativos, títulos, etc.
Poderíeis perguntar-me: como atribuir
crime ao pensamento? Ora, pensar é ato, é faculdade, é ideia, é raciocínio, é reflexão,
é julgamento, manifestado através de palavras, assertivas, declarações. Certo
estou de que tal faculdade é inerente a todo ser humano. Teria alguém o poder
de calar toda uma sociedade? Não, evidentemente. Nada obstante, percebo que não
são as opiniões que dão origem aos rótulos, aos atributos, mas sim as “características”
de algumas opiniões. Ora, a sociedade não quer que as pessoas se calem, mas
querem fazer com que o pensamento das mesmas sejam unânimes. Deus meu, a
unanimidade é burra! O que leva qualquer sociedade ao desenvolvimento é sua
típica dialeticidade. Mas a sociedade hodierna não quer isso; quer apenas seus
cidadãos usando uma mesma “embalagem”. Motivo? julgam que, com a homogeneidade
do pensar seria mais fácil o domínio, a manipulação.
E para justificar o mutismo com que imagino
a sociedade ideal, reclamo vossa atenção para considerável detalhe: Curiosamente,
- e por certo havereis de dar-me razão - na atualidade, creio que em quase toda
superfície do globo, independentemente do idioma, a palavra mais proferida,
grafada, anunciada, bradada aos quatro cantos é democracia (mesmo que para
desmoralizá-la). Pergunto-vos, então, do alto de minha patente ignorância: esta
mesma sociedade, que esforça-se por calar o pensamento divergente, saberia, de
fato, o que é democracia? A resposta é: Lógico, sabe! Acontece que o termo democracia
deve, obrigatoriamente, figurar em todo discurso daquele que busca oportunizar
um regime de exceção.
Tende em mente as palavras do
Imperador Marco Aurélio: “O que não é útil para o enxame não pode ser útil para
a abelha”.
Shut
up!
É o admirável mundo novo de Huxley que se aproxima meu amigo. E portanto devemos nos comportar como o admirável gado novo de Zé Ramalho. É o processo de transição.
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