A ter como premissa que à arte associa-se um objeto, e que este objeto deve revelar-se como lenitivo, fica evidente o imenso desafio encarado pelos verdadeiros artistas na atualidade. Antes mesmo de ser interpelado por alguns de vós acerca do que entendo por verdadeiros artistas, bem como pelo objetivo da arte, adianto-vos. Grandes artistas são aqueles que veem a arte como fim em si mesma e não como meio, seria a arte pela arte; não buscam valer-se da arte para conquistarem glória, reconhecimento, fama, etc. O objeto da arte reside na própria arte; não necessita de intérpretes ou experts para explicá-la. A arte simplesmente deve proporcionar refrigério, conforto, alento aos que dela tornam-se próximos.
O desafio a que me refiro tem por base
a mentalidade hodierna: seres humanos parecem ser atraídos pelo indelicado,
pelo rude; pessoas, independentemente da classe social ou nível educacional,
mostram-se seduzidas pelo banal, pelo vulgar. A humanidade, de um modo geral,
aprecia e tem prazer em agressões, sejam elas reais ou representadas. O
impactante rouba a cena em qualquer modalidade artística: danças, músicas,
canções, poesias, teatro, cinema... Até mesmo os designers e publicidade atuais
mostram um quê de incitação. E qual seria a origem de tais representações?
Inversão de valores, ou se assim desejarem, uma transvaloração bem ao estilo
nietzschiano.
Em face do cenário apresentado, o
desafio que a boa e verdadeira arte encara nos dias de hoje vai muito além de
proporcionar alento, alívio; ela deve conseguir demover incautos dessa
afiliação nefasta à vulgarização; deve dissuadir os menos esclarecidos acerca
do perigo à submissão de valores nocivos. A arte deve, de uma vez por todas,
desvendar a vera liberdade, confundida muitas vezes com a catarse psicologista.
Se optarmos por um silogismo na arte, a premissa maior seria a beleza que
conforta, a premissa menor o banimento dos desvalores e a conclusão seria a
pureza e o enobrecimento moral.
Para corroborar minhas declarações,
cito alguém bastante conhecido dos sul-americanos; cito um engenheiro de
formação, mas famoso como ator, compositor, escritor e poeta. Refiro-me a
Roberto Gómez Bolaños. Durante certa entrevista na sua residência em Cancún,
revelou-nos que a construção de personagens ingênuos e com pureza moral é
bastante difícil. Acrescentou ainda que as pessoas, em geral, não aplaudem o
diálogo inteligente, mas sim o que é grosseiro, o que é rude. Em defesa da arte, portanto, convoco os veros
artistas a não permitirem que a mesma se degenere.
Nenhum comentário:
Postar um comentário