Talvez por força do hábito – não sei se bom ou mau hábito – venho buscando um porquê para as atitudes humanas. Por exemplo, pergunto-me por que as pessoas discutem, na mor parte das vezes, por coisas insignificantes; há enorme empenho de ambos os lados em provarem suas teorias. Sim, apenas teorias, ou seja, argumentos especulativos, conjecturas, algo de difícil comprovação. E pasmo diante do óbvio, descubro um “eu” que quer subjugar um outro “eu”. Mais estupefato fico ao perceber que, com isso, a verdade está relativizada.
Nada obstante, e não raramente, a
porfia assimila a face da discórdia, da mágoa, do rancor, do ódio, do
ressentimento. E lá, furtivo e maquiado por termos como autorrespeito, brio,
dignidade, subjetividade, etc., percebo não mais um “eu”, mas um ego, ou
melhor, uma egolatria sem limites. Neste caso, o “eu” deseja o mal do outro. No
entanto, podemos ir ainda um pouco mais adiante, uma situação não só possível mas
também provável: é quando o ódio toma matizes de vingança. Nesse caso, o “eu”
tem por objetivo a aniquilação do “outro”. Atentai vós outros possíveis
leitores! A tal subjetividade, ou melhor, o interesse subjetivo mascara não só
o próprio egoísmo, mas igualmente o orgulho, o cinismo, a vaidade, a
arrogância, a prepotência, etc.
Então tem início meu questionamento:
como uma sociedade que contempla sobremodo o indivíduo, que se empenha em
colocar o indivíduo em destaque, em atender aos interesses individuais
sobrepondo-o às demandas da sociedade, a disseminar enfim o individualismo,
pode falar em respeito ao outro, falar em paz, em amor, em fraternidade, em
igualdade, em justiça, em solidariedade? Devo reclamar vossa atenção para o
detalhe: individualidade é característica; individualismo é doença. É
exatamente disso que se trata. O individualismo abandonou sua condição endêmica;
alastrou-se e foi agraciado com leis que o fortalecem.
Bem, e o que fazer? Banir a
individualidade para extinguir o individualismo? Afinal, o indivíduo é
princípio consciencial; é autoconstrução de um “eu” a partir do mundo, do
outro... Evidentemente que não falo em extinção da individualidade, mas
tentemos, de início, viver a anular nossas opiniões. Sim, eis o porquê da
máxima cristã: “Não julgueis para não
serdes julgado”. As palavras de Marco Aurélio podem nos servir de esteio: “Lembra-te: suprimindo a opinião, suprimirás
a queixa: ‘Fui ofendido’. Suprima o teu ‘fui ofendido’ e suprimirás o agravo”. Faz-se mister, portanto, o "negar-se a si mesmo" para que o perdão seja possível. Exercitemo-nos na humildade. Determinada oração propõe-nos: “Que eu procure mais consolar que ser
consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado”.
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