O tempo traz em si a característica ímpar da
incomensurabilidade. Santo Agostinho
assim o demonstrara: como medir algo que não mais existe, o já decorrido, que
atravessa o que não tem extensão, o presente, e chega ao que ainda não
aconteceu, o porvir? O tempo é uma dimensão puramente perceptual, pois que
implica movimento. Para cada um de nós o tempo decorre de modo diferenciado. Todavia,
insistimos em mensurá-lo, e isso só e possível através de convenções. Na
verdade, nós espacializamos o tempo.
Mas muito embora não possa ser medido, nós
com ele travamos uma relação. Ora, longe de qualquer jocosidade, podemos
afirmar que o tempo é filho de seu tempo. Houve uma época em que o tempo nos
era parceiro, companheiro; podíamos passear ao longo das alamedas e observar
detalhes, avisos, letreiros, outdoors.
Hoje o tempo nos precede; já não mais desfrutamos de sua companhia, já não mais
passeamos. Atualmente, corremos atrás do tempo, pois as coisas se transformam
em velocidade vertiginosa. E, ipso facto,
abandonamos detalhes, porque as transformações assim o exigem.
Isso nos leva a uma “corrida contra o tempo”.
Aproveitamos sempre o momento presente, porque “o tempo voa; escorre pelas
mãos”. Nós adensamos todas as nossas relações porque o tempo fluente - a
transformação sistêmica - assim o requer. E não é diferente quando se trata da
paixão. A fluidez do tempo nos torna apaixonados. A paixão aqui é totalmente
abrangente, mas inegavelmente efêmera. Tratamos de tudo - não só as relações
amorosas - intensamente, mas também momentaneamente. Somos súditos do império
da efemeridade. Carpe Diem!
Amamos (?) intensamente porque o momento
presente é o único que acreditamos ser acessível; amanhã a pessoa, o amor, a
paixão, todas as relações, enfim, podem estar indisponíveis. Nada cômoda essa
situação. Não obstante, o ser humano a tudo se amolda, se adequa, se acomoda.
Então seguimos nossa vidinha agitada, confusa, carente, sorrindo na tentativa
de demonstrar bem estar. Não esqueçamos, no entanto, que o fugaz, exatamente
por ser fugaz, banaliza as relações, sejam elas de companheirismo, de amizade,
de família, de amor e sexo.
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