Por vezes, algumas expressões me
incomodam sobremodo, e justamente por se tornarem expressões. Uma dessas é o já
decantado decoro parlamentar.
Se falássemos apenas em decoro,
estaríamos nos reportando à dignidade, à nobreza, à honradez, a alguém de moral
ilibada, à pessoa de extrema decência. Mas quando unimos tal verbete a outro,
que, por sua vez envolve tantas imposturas, a coisa não só não soa de modo
agradável, bem como parece perverter a própria morfologia. Os conceitos teimam
por se excluírem mutuamente.
Parlamentar
é o membro de um parlamento, que, no exercício de sua função, entra em
negociações. Ora, parece-me que o simples fato de negociar envolve o muito
falar, o tagarelar, uma certa irreverência, a tergiversação. E porque não
impudência? A tagarelice em si já demonstra sinais de falta de honradez, de
falta de nobreza, pois recende a vaidade, a dissimulação, a emulação. Enfim,
falamos do parlapatão.
E como se misturar água ao óleo? Ou
melhor, como entender o decoro parlamentar? Um tagarela negociador que tem como
característica ser digno e honrado! Sim, mas então o que seria a falta de
decoro parlamentar? Utilizar-se da mendacidade enquanto exercer a atividade de
parlamentar, isto é, de negociador. Mas qual é a novidade? O parlapatão não
demonstra nenhum traço de dignidade, decência, ou algo que o valha. Em
perfunctória análise etimológica, parlamentares não devem demonstrar nobreza,
honradez etc. Quando o fazem, fogem a regra, e então manifestam decoro
parlamentar. Falta de decoro parlamentar, em si, é apenas redundância. Portanto,
deixemos os rapazes à vontade; são ossos do ofício.
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