Pergunto-me pelo fenômeno social divulgado largamente
pela imprensa nos dias atuais. Afinal, o que está acontecendo no Rio de
Janeiro? E em São Paulo? A que se deve os shows
de barbarismo?
Temperamentos instáveis
advindo de uma súbita esquizofrenia? Parece-me que estes fenômenos representam
exteriorizações de um grande conflito; algo interior travado entre impulsos e
instintos que buscam a satisfação de outros desejos.
Creio que neste estado já
não há mais a dita e afamada “personalidade”. Esta perdeu suas regras e se
torna conflitante com as reações tidas por “normais” em face de solicitações
exógenas. O “eu” desaparece, desintegra-se, e com ele todo controle mental - self control -; não há mais escrúpulos e
inibições; a moral social se esgota.
E onde fica a consciência?
Apaga-se diante do conflito do instinto e outros interesses. É o que Sorokin
chamava de “a lei da diversificação e polarização dos efeitos”. Surgem então as
psicopatias de faces distintas: os bandidos e os santos – sinners and saints. Podemos perceber sem muito esforço a quantidade
de agremiações religiosas que a cada dia se tornam mais numerosas e com elas um
certo grau de fanatismo. Podemos perceber também que nos dias de hoje não é o
crime que nos causa espécie, mas o requinte de crueldade com que estes são
praticados. No primeiro caso há uma exaltação moral instando por conjurar os
instintos; no último uma crise de loucura sanguinária; a personificação de
Amok.
Seria no mínimo inocente
declarar que tal fato somente é observado na mancha periférica dos grandes
centros urbanos; o fenômeno transcendeu aos “guetos”. Contudo, é dentre os
aglomerados da população carente que se percebe o surgimento de líderes
tribais. Afinal, numa esdrúxula lição de cidadania, os líderes tribais, os
“Antonios Conselheiros” dos tempos modernos, distribuem alimentos, remédios,
empregos, assistência médica e, como foi publicado recentemente, bolsas de
estudo para cursos superiores. A educação não esteve sempre a serviço do
Estado? Esse é o Estado paralelo que o Estado oficial teima em negar realidade.
Mas qual seria a origem de tal fenômeno? Seria
simplista demais falar unicamente em desemprego, fome, exclusão social e
adjacências. Há ainda fatores como: a tecnologia que visa à satisfação individual
prometendo um abstrato status quo;
uma mídia que vende a idéia consumista estimulando a expectativa de fazer de
cada jovem um Ronaldinho, um Leonardo De Caprio, uma Gisele Bündchen; o paraíso
dos shoppings; a griffe renomada; o carrão importado etc.
Hoje se faz uma
apologética negativa das drogas, como se estas fossem unicamente responsáveis
pelas ações praticadas. Mas as drogas mais não fazem do que potencializar essas
forças latentes; essa desorganização adquirida que desorienta e desajusta as
relações sociais e familiares.
Seria muito cômodo colocar
a educação como solução ao problema, mas a educação é ainda parte do problema.
Falar em emprego como solução seria uma outra ingênua proposta, pois o emprego
deve, além de atender às expectativas do profissional, fornecer condições
dignas para o desempenho de tal função. Rogamos, além de uma reforma fiscal, da
previdência, das instituições, que a sociedade pensante - não aquela que se
acotovela diante da tv para “fofocar” e manter-se informado de tudo o que
acontece no “Big Brother” - preconize aos mais jovens a necessidade de “colocar
os pés no chão”. Caso contrário, a cada dia que passa, estaremos nos deparando
com um novo “Canudos” e com novos “Antonios Conselheiros”.
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