quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Um novo Canudos?



Pergunto-me pelo fenômeno social divulgado largamente pela imprensa nos dias atuais. Afinal, o que está acontecendo no Rio de Janeiro? E em São Paulo? A que se deve os shows de barbarismo?
Temperamentos instáveis advindo de uma súbita esquizofrenia? Parece-me que estes fenômenos representam exteriorizações de um grande conflito; algo interior travado entre impulsos e instintos que buscam a satisfação de outros desejos.
Creio que neste estado já não há mais a dita e afamada “personalidade”. Esta perdeu suas regras e se torna conflitante com as reações tidas por “normais” em face de solicitações exógenas. O “eu” desaparece, desintegra-se, e com ele todo controle mental - self control -; não há mais escrúpulos e inibições; a moral social se esgota.
E onde fica a consciência? Apaga-se diante do conflito do instinto e outros interesses. É o que Sorokin chamava de “a lei da diversificação e polarização dos efeitos”. Surgem então as psicopatias de faces distintas: os bandidos e os santos – sinners and saints. Podemos perceber sem muito esforço a quantidade de agremiações religiosas que a cada dia se tornam mais numerosas e com elas um certo grau de fanatismo. Podemos perceber também que nos dias de hoje não é o crime que nos causa espécie, mas o requinte de crueldade com que estes são praticados. No primeiro caso há uma exaltação moral instando por conjurar os instintos; no último uma crise de loucura sanguinária; a personificação de Amok.
Seria no mínimo inocente declarar que tal fato somente é observado na mancha periférica dos grandes centros urbanos; o fenômeno transcendeu aos “guetos”. Contudo, é dentre os aglomerados da população carente que se percebe o surgimento de líderes tribais. Afinal, numa esdrúxula lição de cidadania, os líderes tribais, os “Antonios Conselheiros” dos tempos modernos, distribuem alimentos, remédios, empregos, assistência médica e, como foi publicado recentemente, bolsas de estudo para cursos superiores. A educação não esteve sempre a serviço do Estado? Esse é o Estado paralelo que o Estado oficial teima em negar realidade.
 Mas qual seria a origem de tal fenômeno? Seria simplista demais falar unicamente em desemprego, fome, exclusão social e adjacências. Há ainda fatores como: a tecnologia que visa à satisfação individual prometendo um abstrato status quo; uma mídia que vende a idéia consumista estimulando a expectativa de fazer de cada jovem um Ronaldinho, um Leonardo De Caprio, uma Gisele Bündchen; o paraíso dos shoppings; a griffe renomada; o carrão importado etc.
Hoje se faz uma apologética negativa das drogas, como se estas fossem unicamente responsáveis pelas ações praticadas. Mas as drogas mais não fazem do que potencializar essas forças latentes; essa desorganização adquirida que desorienta e desajusta as relações sociais e familiares.
Seria muito cômodo colocar a educação como solução ao problema, mas a educação é ainda parte do problema. Falar em emprego como solução seria uma outra ingênua proposta, pois o emprego deve, além de atender às expectativas do profissional, fornecer condições dignas para o desempenho de tal função. Rogamos, além de uma reforma fiscal, da previdência, das instituições, que a sociedade pensante - não aquela que se acotovela diante da tv para “fofocar” e manter-se informado de tudo o que acontece no “Big Brother” - preconize aos mais jovens a necessidade de “colocar os pés no chão”. Caso contrário, a cada dia que passa, estaremos nos deparando com um novo “Canudos” e com novos “Antonios Conselheiros”.

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