quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Dos Princípios de Prazer e Realidade



A princípio o “eu” ilimitado, totalmente desembaraçado, totalmente desimpedido: o prazer que desconhece limites. Mas surge o “outro”, a realidade, aquilo que obsta, que faz oposição. O “eu” é prazer; o “outro” realidade. De Jean Paul Sartre a declaração: “o inferno são os outros”. Tem lugar o embate, a necessidade da convivência, da adequação à presença do “não-eu”. Desenvolvem-se os costumes, faz-se mister a lei, porque em face do “outro”, a realidade, o “eu” pode delinquir. Então justificam-se as sanções.
A realidade mostra-se-nos contundente, agressiva. Quando esta, ou seja, o “outro”, revela-se perversa, o “eu” busca uma fuga. O “eu” em-si é trânsfuga. E sobrevêm os delírios; delírios são nada mais que recursos utilizados por um “eu” em fuga, o que talvez explique nossas neuroses. É impossível não ser neurótico; a neurose é um fato.
A paixão, aqui entendida como inclinação afetiva, algo intenso e incontrolável, é quem governa o princípio de prazer. E a paixão, apesar do “outro”, tenta saciar-se, enriquecer-se, repletar-se. O prazer continua a não querer conhecer limites. E de que recurso pode o prazer valer-se para dar azo a seu desideratum? Da razão. A razão nada mais é do que um expediente da paixão; é construção tipicamente abstrata, uma hipóstase. Em verdade, não há divergência entre o apolíneo e o dionisíaco. Dionísio ainda governa; Apolo, mesmo sem o saber, ou fingindo não sabê-lo, dá continuidade a obra de Dionísio. A estupidez humana reside na pretensão de colocar a razão em patamar superior a paixão. E dessa vez me reporto a Nietsche: eis “A Origem da Tragédia”.

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