Escrevo este texto em sala próxima ao estúdio onde eu acabara de conceder a entrevista de minha vida. Eu estava na Harpo Studios, localizado em West Hollywood, California. Sim, exatamente, estive com Oprah no famoso The Oprah Winfrey Show. E vós me perguntais: Por que? Respondo-vos. Eu fora indicado ao Prêmio Nobel de Literatura. Então posso ouvir vossa expressão interjetiva em uníssono: Prêmio Nobel!? Por que não? Depois que um cantor/compositor de rock fanhoso e um crítico ferrenho (eufemismo para fofoqueiro), pautado unicamente em interesses ideológicos, foram agraciados com o referido prêmio, por que não eu? Creio que o próprio Alfred não concordaria com nada disso, mas ... fazer o quê? Sinais dos tempos. A pergunta seguinte: Por que não concedeste nenhuma entrevista no Brasil? Simples, escolhi manter-me anônimo. Nada de tornar-me celebridade, pessoa pública, com a vida pessoal revirada. Até porque nada me envaidece em minha vida passada. Se bem que, pelo menos em meu país, esta seria a condição sine qua non para alguém ser lançado à condição de Very Important People, um exemplo, um influencer.
E foi durante a entrevista que acabei
por revelar todo meu passado tenebroso. Nada pude esconder de Oprah; além de
atriz e jornalista ela é psicóloga e sabe como conduzir a conversa. Abri-me
como se em seção terapêutica. Comecei por narrar os pecadilhos quando ainda
pequenino. Cresci, e aos pecadilhos tão característicos das condutas
religiosas, somaram-se pecadões. A fase da adolescência, sempre responsabilizada
por quaisquer desmandos, apequenou-me o caráter. Eu transgredi valores, princípios,
condutas. Criminalmente falando, experimentei o furto. Mostrei-me briguento,
transgressor, violento. Agredia psíquica e fisicamente, e com alguma frequência,
a diversos familiares. Mais não fiz porque faltou-me talento. Como conquistador
barato, na verdade um pervertido, trouxe a desgraça para muita gente. Mesmo quando
constituí família, dei continuidade aos desmandos e acabei por destruir outras
famílias. Como filho, fui péssimo; como marido, um traste; como pai, um fracasso.
Nunca fui exemplo para ninguém. Recordo-me de certo tio que chamava-me “marginal”,
mesmo quando em tom de chacota.
Arrependido? Perguntar-me-eis. Sim, e
muito. Minha vida é uma mentira; eu sou uma farsa; tudo em mim é embuste. O que
mais lamento é o afastamento das filhas; certamente tomaram ciência de meus
desregramentos, de minhas tropelias. Certa vez, uma namorada (sei lá), alguém
com quem desabafei, tentou convencer-me de que minha criatividade, que meus
escritos contundentes e originais procediam deste passado que me soava tão vil.
É isso, pude constatar: A paixão constrói falácias! Mas perdoai-me, devo interromper
e/ou encerrar estas anotações. Meu advogado chegou; outras autoridades acabam
de chegar. Autoridades!? Sim, claro, explico-me. O programa que participei foi
transmitido ao vivo. Afinal, estamos na era das redes sociais, da informação em
tempo real. Alguém em meu país gravou a entrevista bombástica em que confessei a
série de crimes. Ainda desconheço um sem número de detalhes, mas um magistrado,
o trajar da negra toga, solicitou minha extradição ao governo norte-americano. According to my lawyer, durante o decorrer da entrevista, fui acusado,
investigado, julgado e condenado. Incrível como a justiça brasileira é célere!
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