Prolegômenos
Por vezes sou invadido por ideias
outras: seriam fugas completamente inauditas, o diverso do que fora
estigmatizado, algo que beira ao espantoso, que vai bem mais além do
anteriormente conceituado. Ponho-me à espreita do inesperado, da notícia
furtiva, da verdade mascarada. Quem sabe um novo dogma? Mas a coisa tem a ver
com o pensar vivido, com a gama de informações que se nos vão sendo
introjetadas. E é aí que surgem, de início, dúvidas; segue-se um sôfrego
pesquisar e nova teoria desabrocha a esbanjar peculiaridade.
A história tem mobilidade, é fluida;
por vezes lenta, por vezes célere. Mas, não seriam tais aspectos, na verdade,
fases de um mesmo fenômeno? Não se trata de completude, de dialética ou algo que
o valha. Ocorreria sim, algo como uma pausa, onde a retomada dar-se-ia em novas
condições, situações, circunstâncias, indiferente se fortalecimento ou
enfraquecimento. Acontecimentos originais vão surgindo e revelam-se como
inéditos. Portanto, estou certo de que ainda vivemos uma mesma revolução;
alguns episódios nos precederam, de outros participamos e dos próximos, talvez,
não mais sejamos testemunhas. É bom frisar que não falo em guerras. Guerras
seriam apenas epifenômenos, eventos pontuais. Foco-me em revolução: fenômeno
que envolve reformas, transformações, mudanças em estruturas socioeconômica
e/ou sócio políticas.
Episódio I
E tudo teve início com o Iluminismo,
séculos XVII e XVIII. Dizem as más línguas (e as boas também) que Descartes,
pai do racionalismo moderno, foi o primeiro iluminista. E quais seriam os
ideais iluministas? Defender a liberdade, o progresso, a tolerância, a
fraternidade, os governos constitucionais, o afastamento entre religião e
Estado, e o mais importante, a disseminação do conhecimento. Ufa! (falta-me o
fôlego) Que coisa linda! Estou pasmo. Mas ... entendo pertinente citar que a
primeira loja maçônica teria sido fundada em 1717, a Grande loja de Londres e
Westminster. Em 1776, mesmo ano da Independência dos Estados Unidos (quanta
coincidência), foi fundada uma sociedade secreta em Ingolstadt, na Alemanha, um
dos grupos que atende pelo nome de Illuminati. A Revolução Francesa,
efetivamente, foi uma tentativa pretensiosa de realizar os anseios iluministas,
visando o fim de privilégios e a queda do absolutismo europeu.
O período de 1789 a 1799 marcou a dita
revolução. Nela estavam presentes girondinos e jacobinos, ou seja, direita e
esquerda. Os girondinos representavam a alta burguesia, com posições moderadas,
nas quais buscavam preservar o poder econômico, até porque temiam que classes
populares assumissem o controle da Revolução. A direita queria uma Monarquia
Constitucional, a exemplo da Inglaterra, que também tivera sua revolução 100
anos antes (1688). Outro aparte faz-se mister: a classe burguesa teve origem
com o fim do feudalismo; muitas famílias foram obrigadas a se transferirem para
as cidades mais populosas (os burgos) e lá, livres da corveia, dedicaram-se ao
comércio. O surgimento da burguesia, a nova classe, foi simplesmente
consequência do fim do feudalismo. Prossigamos. A esquerda, representada pelos
jacobinos, isto é, pequena e média burguesia, bem como o proletariado urbano,
assumiam posições radicais em benefício da classe oprimida; pleiteavam por uma
República.
E tiveram início os embates. Muito
embora o lema da revolução: liberdade, igualdade e fraternidade, houve 200.000
mortes, dentre estas 18.000 na guilhotina, inclusive Robespierre, jacobino, representante
do terror, a face caótica da revolução francesa. Conseguis perceber o fracasso
de semelhante intento? Para se alcançar a fraternidade mata-se 200.000 pessoas.
(Falaciosos diriam: pra se fazer omelete alguns ovos têm de ser quebrados). A
liberdade aqui tratada está vinculada a liberdade de possuir. Como
contemporizar a liberdade de ter, de possuir, com a igualdade? A igualdade é
burra. Sociedade igualitária não existe; sociedade igualitária jamais será
justa. Justiça, segundo Aristóteles, é tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais. Toda e qualquer sociedade caracteriza-se pela
diversidade; a igualdade de possuir deve estar afeita ao mérito, e nunca a uma
imposição. E outra: como conjugar a liberdade de possuir com a fraternidade? O
ser humano é, por natureza, egoísta.
Episódio II
Do exposto pode-se extrair dois detalhes.
Primeiro: comete-se erro crasso ao entender a humanidade sendo detentora de boa
índole, como declarara o apátrida Jean-Jacques Rousseau. Segundo: percebe-se aí
a inspiração para a proposta de Karl Marx. Fato é que, menos de 50 anos depois
(1848), fomos “presenteados” com um Manifesto Comunista. E a falácia marxista,
em apontar a sociedade como base determinante nas relações socioeconômicas,
busca o respaldo do fracassado e o reiterar da fraqueza e opressão.
O início do século XIX traz-nos a
novidade: corrente filosófica declara o conhecimento científico como único
conhecimento verdadeiro. Falo do Positivismo; chegou-se a dizer que somente a
ciência poderia proporcionar a felicidade e o desenvolvimento humanos. O Brasil
incorporou a ideia, pois até uma nova bandeira foi confeccionada com um dos
lemas positivistas: “Ordem e Progresso”. Pergunta-se: somos felizes? A falácia,
tão criticada por pensadores clássicos, foi assimilada pela filosofia.
Episódio III
Pois bem, 30 anos depois, creio que
não intencionalmente, Wilhelm Wundt lança a psicologia ao nível científico,
inclusive com a criação de laboratórios. Ele, Ernst Heinrich Weber e Gustav
Theodor Fechner fundam a psicologia experimental, tornando-a independente da
filosofia. Todavia, Wundt e Cia. Ltda. não esperavam que a dita ciência fosse
utilizada, anos depois, por Sigmund Freud que, em 1895 começou a publicar suas
obras. Eis a descoberta dos traumas. Meu Deus, e haja trauma; tudo provoca
trauma. A família é fonte de traumas, a educação cria traumas, revoltas,
psicoses. Todos os homens têm problemas com suas respectivas mamães; as
relações são incestuosas. E tem lugar os complexos: complexo de Édipo, de Don
Juan, de herói, de Cinderela, etc., etc., etc. A partir daí estão identificados
os fracassados, os sofredores, as vítimas sociais. Tudo que o comunismo queria;
doravante a família será demonizada.
Episódio IV
Em 1917, na Rússia, eclode a revolução
bolchevique. A finalidade foi colocar o proletariado no poder. Mesmo? E foi
isso o que aconteceu? Balela; pura falácia. Um governo provisório totalmente
incapaz de retirar a Rússia da I Guerra Mundial e distribuir terras entre os
camponeses ensejou o conflito. A população saiu às ruas em São Petersburgo a
protestar contra Nicolau II, o czar. Os bolcheviques, que defendiam uma
revolução socialista e aspiravam por uma ditadura do proletariado, entendiam
que o governo deveria ser entregue aos trabalhadores. Pois bem, liderados por
Lenin e Trotsky, organizaram um congresso e tomaram o poder. Primeiro ato do
governo bolchevique foi a execução da família imperial. Em novembro de 1917
foram registradas 7 milhões de mortes somente entre camponeses e trabalhadores
russos. Lênin, depois de impor uma industrialização e coletivização de terras,
perseguiu opositores e minorias étnicas. Os mortos somaram 20 milhões, mortes
atribuídas a Stalin, que tomou o poder a partir de 1928. E quando foi que
entregaram o governo aos trabalhadores?
Episódio V
No Brasil, os artistas e intelectuais
orgânicos afagados e afetados pelo novo modelo (afinal tudo é moda), para não
se oporem ao discurso marxista, que apontava a base material como causa da
discriminação e separação entre uma elite intelectualizada e proletários,
resolveram apelar para o movimento artístico. Refiro-me a Semana da Arte de
1922, onde as deformações tornaram-se obras de arte; o bizarro fez-se alvo de
admiração e respeito. Em 1924 inicia-se, na França, um movimento artístico e
literário chamado surrealista. André Breton e seguidores entendiam que o
pensamento deveria expressar-se apenas guiados pelos recursos do subconsciente
(eis o delírio dos pupilos de Freud), a desprezar a lógica ou padrões morais e
sociais. A banalização da arte foi de tal monta que, doravante, a arte ficaria refém
de intérpretes. Mal sabiam eles que estas primeiras deformidades na poesia, na
música, na pintura, etc. desaguaria numa deformidade de caráter a ser imitada
pela juventude despreparada. A música experimenta o degrado. De repente a arte
começa a manifestar tendências ideológicas. O realismo afasta-se do jornalismo
e fica refém da sétima arte.
Episódio VI
Não coincidentemente, no ano de 1923, estreia uma nova escola: a Escola de Frankfurt, na verdade um Instituto
de Pesquisa Social, cujo objetivo seria estabelecer novos parâmetros sociais a
partir de uma releitura do marxismo. Ao perceber que os ideais do Iluminismo e
do Positivismo haviam falhado, os teóricos da nova escola propuseram-se divulgar
teorias críticas contra o capitalismo, bem como atualizar as leituras sobre o
marxismo. Herbert Marcuse, um dos pilares da Escola de Frankfurt, chegou a
publicar o livro “Eros e Civilização”, na verdade um mix entre marxismo e a
sexualidade tão presente na psicanálise de Freud. Em dias atuais, Jürgen
Habermas tenta manter de pé os destroços da escola, mas é apenas conhecido como
o “Guardião da tumba da escola crítica”.
Episódio VII
Na década de trinta surgem “Os
cadernos do cárcere”, de Antonio Gramsci. Este, um dos fundadores do Partido
Comunista Italiano, nos anos em que esteve preso, a observar a quantidade de
vítimas da ideologia pela qual se encantara, traz um nova proposta para que o
comunismo instale-se em qualquer sociedade sem uso da força. A teoria
gramsciana defende a disseminação da ideologia marxista de modo lento, a invadir
silente e discretamente a educação, a cultura, onde se pressupõe toda e
qualquer expressão artística. A proposta de Gramsci está presente em clubes, na
família, em reuniões de condomínio e até mesmo dentro das igrejas. Na educação,
por exemplo, os gramscianos se valeram de psicologistas para subverterem o aprendizado e enfraquecer os laços familiares.
Uma fraca ilação
Em face de todo o conteúdo supracitado,
pergunto-vos: Até quando assistiremos impávidos os episódios de uma mesma
revolução fadada ao fracasso? Atentai ó obscuras mentes: o iluminismo
fracassou; ele não iluminou. A liberdade então proposta foi assimilada pelos
anarquistas; a liberdade tornou-se libertária, algo como a “liberdade da raposa
no galinheiro”. O progresso tem que estar ligado a uma evolução moral, a
valores. E a tolerância; qual é o limite da tolerância? Será que a humanidade
está pronta para ser fraterna? Estarão os seres humanos aptos para seguirem uma
constituição, algo que coloca limites às liberdades? O positivismo foi
negativado pelo viés místico, talvez apanágio de todo ser humano. O que fazer? Perseguir
as religiões? Banalizá-las? Desmenti-las? Desmoralizá-las? Será que mesmo
depois da queda do muro em 1989 e o advento da Nova Ordem Mundial, onde a
bipolaridade capitalismo x socialismo deixou de existir, ainda insistirão nesta
marmota?
Não vos permiti ao engano! Tanto
direita quanto esquerda, girondinos e jacobinos da atualidade, são financiados
pelas mesmas grandes e multimilionárias famílias. Rockfellers, Rothschilds,
Vanderbilts e similares patrocinam estes e outros episódios da mesma revolução.
Globalistas manipulam seus fabricados líderes a bel prazer; eles dizem conviver
com todas as manifestações ou ideologias. É mesmo? Quão magnânimos eles são! Observai
com alguma atenção: governos são apoiados e banidos, economias experimentam o
ápice e a derrocada, criam-se heróis e anti-heróis, mitos e impostores. Nunca
as verdades afloram; embustes permeiam nossa existência. Há séculos
participamos e assimilamos uma mesma farsa. Entre a primeira e segunda
guerras mundiais surge a ideia de construir uma comunidade internacional
institucionalizada para alcançar a paz, a reiterar os mesmos ideais
iluministas. Todavia, o iluminismo fracassou, a modernidade colapsou, e a
pós-modernidade, na tentativa de cobrir os rastros da alquebrada modernidade,
caminha a passos largos para um desastre de dimensões globais.
Resta-me assomar vossas consciências
com a visão da grande meretriz montada sobre a besta escarlate. “Na sua fronte achava-se escrito um nome,
mistério: Babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra”.
(Ap. 17:5)
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