Tornou-se rotineiro falar em “novas versões”, expressão muito utilizada pelos ditos “antenados”. Todavia, os politicamente instáveis preferem falar em “releituras”, na verdade versões ideologizantes, em uma clara tentativa de instaurar novos valores, e/ou demonizar a outros. Com isso, fica evidenciado a diferença entre boas e más versões, ou, se preferirdes, versões do bem e versões do mal. Mas se quisermos ter uma ideia, mesmo que superficial, acerca de tais versões, precisamos nos revestir de isenção, até para não sermos taxados de preconceituosos. Será?
E foi esse meu viés romantizado,
creio, o responsável pelo arrebatamento que vitimou-me. Sonho ou pesadelo? Sim,
eu fora levado quase que a força, afinal criar ambientes de êxtase, de
arroubamento, não deixa de ter as cores da violência. Uma entidade metafísica,
sei lá, levou-me a conhecer a nova versão do Olimpo. Quanta decepção! Minha
visão do antigo Olimpo era a de deuses ao redor da imagem do mundo estampado em
uma mesa redonda. (Atenção: O rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda é
outra história). Ali, ao redor, portanto, eram debatidas temáticas e questões.
Mas essa nova versão - seria uma
releitura? - pareceu-me tosca. A começar pelas roupagens. Deusas como Hera e
Atena, por exemplo, trajavam roupas leves, elegantes, belos designers, figurino
típico de um Yves Saint Laurent. As deusas atuais são enfatuadas, mas nada
elegantes. Os trajes negros, as togas, algo tão cliché, tornam-nas inda mais
antipáticas. Os deuses também as usam (as togas). Coitados, alguém deve tê-los
convencido de que o simples uso dos black
robes (togas negras) os fariam íntegros, imparciais, justos. Mas um detalhe
reclamou-me a atenção (coincidência?): o novo Olimpo é formado por 11 “deuses”;
o antigo Olimpo era composto por 12, se bem que Dionísio ascendeu mui
tardiamente. Não vos enganeis: os deuses pagãos eram aristocratas; os deuses
atuais são corporativistas.
Eu, inclusive, aproveito esta
oportunidade para sugerir a criação de um sindicato. Por que surpresos? Um país
que tem um sindicato para cuidar dos interesses dos sindicalistas, por que não
um sindicato para atender aos interesses dos magistrados? Imaginai! Se alguém
tentar acabar com as mordomias, festas, bebidas, viagens e hospedagens dos
togados (eis a presença do 12º deus). A presença de Dionísio torna-se evidente
com o fato de nossa Suprema Corte gastar mais do que a Família Real Britânica. A
SNM, leia-se Sindicato Nacional da Magistratura, entraria em cena, afinal
quereriam afastar Dionísio, um deus. Seria proposta (ameaça), então, uma
paralisação total: processos aos milhares parados, sem parecer ou sentença. Ué,
nosso judiciário está em greve há quanto tempo?
Porém, o desvio mais gritante em toda
essa releitura são as atitudes. Enquanto os antigos deuses tinham opiniões diferentes
e a elas mostravam-se fiéis, o que muito tentou explicar a natureza e psique humanas,
os novos “deuses”, a depender de interesses ideológicos-políticos, abraçam o
conceito de unanimidade. Pasmai: em temas os mais controversos, eles apresentam
decisões unânimes. Quanta “interação!” Esqueceram vossas estroinices de que a
unanimidade é burra. Outro detalhe: deuses antigos tinham alçadas bem
definidas; nossos “deuses” pós-modernos parecem deter todo o conhecimento do
mundo, pois sobre tudo pretendem discorrer. Quanta pretensão! A coisa mais preocupante: essa nova casta, ou
melhor, o Novo Olimpo, a contrariar dispositivos e agredir liberdades
garantidas, proíbe opiniões e comentários acerca de confessos ladrões, marginais,
corruptos, e justifica tais censuras falando em “defesa da democracia”. Lamentável!
Só mais um alerta: Deuses fazem-se
homens; a reciproca não é verdadeira!
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