sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Questões pontuais

 


Cada vez mais certifico-me de que toda e qualquer linguagem é apenas um paliativo para a comunicação. Repito: toda e qualquer linguagem; seja ela oral, seja escrita, através de sinais ou de gestos, independentemente de idioma ou cultura. Esse paliar, na verdade, dá-se em face dos conceitos; vocábulos ligam-se a conceitos. E o assimilar conceitos implica uma gama de variáveis, onde a carga valorativa e as crenças particulares exercem papeis fundamentais. Mas os vocábulos mesmos podem criar embaraços para quaisquer linguagens. É onde se revela certo aforismo: A comunicação requer muito boa vontade!  Para melhor entendimento, recorramos a exemplos. É comum, na tentativa de elogiar determinado Estado, fazer-se uso da frase: Em o Estado (país) tal, a justiça é eficiente. Ora, justiça envolve virtude, retidão, prática do que é de direito, o justo, o merecido. Eficiente implica competência, a capacidade de produzir o efeito esperado. Sob rápida análise, fica claro que justiça eficiente é redundância; se a justiça não for eficiente não se tratará de justiça. 

Por outro lado, atentemos às crenças e valores. Nossas opiniões particulares podem nos tornar impermeáveis, insensíveis, fleumáticos. Por vezes, percebe-se algo de impassibilidade em face de esmeradas declarações. Algumas sentenças, mesmo que bem elaboradas, a demonstrar requinte e a extrapolar eufemismos são tidas como injuriosas. Belas frases também ofendem, diria o médio observador, ao pleitear a criação de um novo aforismo. Valores, quando não bem trabalhados, fazem com que pessoas, haja vista suas crenças putativas, rebatam com grosseiras declarações conteúdos pueris e/ou meramente informativos. E mais uma vez o primeiro aforismo se nos revela: A comunicação requer muito boa vontade!

Há, assim me parece, a depender dos envolvidos na relação de comunicação, um desvio de função, ou melhor, a efêmera mudança de significado em alguns vocábulos. A boa vontade reside em questões como: O que fulano, o outro dialogante, espera ouvir? O quanto ele está preparado para ouvir? Que conhecimento ele tem do assunto a ser abordado? O quanto poderá ele assimilar do tanto que tenho a dizer? Parece-me, salvo melhor juízo, que todo diálogo é uma resolução de conflitos. E tem lugar os enganos, as má interpretações, os descuidos, o que pode culminar em inimizades ou mea culpas.

Por que isso? Perguntar-me-eis vós, meus possíveis interlocutores. Atentai: palavras não se resumem a significados; os verbetes apenas elencam possíveis acepções. Há que se fazer necessário a vontade de dialogar, a predisposição a fazê-lo. Muitos não toleram a palestra. Há os que desejam apenas falar e serem ouvidos - na verdade são conferencistas. Um último alerta aos possíveis futuros palestrantes: palavras são eivadas de sentidos e carregadas de intenções. Aqui não se levará em conta se boas ou más intenções, até porque, a sabedoria popular nos alerta de que “O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções!”

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