Cada vez mais certifico-me de que toda e qualquer linguagem é apenas um paliativo para a comunicação. Repito: toda e qualquer linguagem; seja ela oral, seja escrita, através de sinais ou de gestos, independentemente de idioma ou cultura. Esse paliar, na verdade, dá-se em face dos conceitos; vocábulos ligam-se a conceitos. E o assimilar conceitos implica uma gama de variáveis, onde a carga valorativa e as crenças particulares exercem papeis fundamentais. Mas os vocábulos mesmos podem criar embaraços para quaisquer linguagens. É onde se revela certo aforismo: A comunicação requer muito boa vontade! Para melhor entendimento, recorramos a exemplos. É comum, na tentativa de elogiar determinado Estado, fazer-se uso da frase: Em o Estado (país) tal, a justiça é eficiente. Ora, justiça envolve virtude, retidão, prática do que é de direito, o justo, o merecido. Eficiente implica competência, a capacidade de produzir o efeito esperado. Sob rápida análise, fica claro que justiça eficiente é redundância; se a justiça não for eficiente não se tratará de justiça.
Por outro lado, atentemos às crenças e
valores. Nossas opiniões particulares podem nos tornar impermeáveis,
insensíveis, fleumáticos. Por vezes, percebe-se algo de impassibilidade em face
de esmeradas declarações. Algumas sentenças, mesmo que bem elaboradas, a
demonstrar requinte e a extrapolar eufemismos são tidas como injuriosas. Belas
frases também ofendem, diria o médio observador, ao pleitear a criação de um novo
aforismo. Valores, quando não bem trabalhados, fazem com que pessoas, haja
vista suas crenças putativas, rebatam com grosseiras declarações conteúdos
pueris e/ou meramente informativos. E mais uma vez o primeiro aforismo se nos
revela: A comunicação requer muito boa vontade!
Há, assim me parece, a depender dos
envolvidos na relação de comunicação, um desvio de função, ou melhor, a efêmera
mudança de significado em alguns vocábulos. A boa vontade reside em questões
como: O que fulano, o outro dialogante, espera ouvir? O quanto ele está
preparado para ouvir? Que conhecimento ele tem do assunto a ser abordado? O
quanto poderá ele assimilar do tanto que tenho a dizer? Parece-me, salvo melhor
juízo, que todo diálogo é uma resolução de conflitos. E tem lugar os enganos,
as má interpretações, os descuidos, o que pode culminar em inimizades ou mea culpas.
Por que isso? Perguntar-me-eis vós,
meus possíveis interlocutores. Atentai: palavras não se resumem a significados;
os verbetes apenas elencam possíveis acepções. Há que se fazer necessário a
vontade de dialogar, a predisposição a fazê-lo. Muitos não toleram a palestra.
Há os que desejam apenas falar e serem ouvidos - na verdade são conferencistas.
Um último alerta aos possíveis futuros palestrantes: palavras são eivadas de
sentidos e carregadas de intenções. Aqui não se levará em conta se boas ou más
intenções, até porque, a sabedoria popular nos alerta de que “O caminho do inferno
está pavimentado de boas intenções!”
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