quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Da modéstia


Pergunto-me por que a exigência da modéstia? Por que as pessoas devem revelar-se como limitadas, obtusas? Por que o pejo, o ocultamento das inegáveis qualidades? Por que uma humildade forjada e/ou um fabricado sentimento de inferioridade? Por que a insistência em demonstrar ignorância se a sabedoria é reconhecida por seus pares? Por que aparentar fraqueza ou pusilanimidade se é sabida a coragem exacerbada? Por que manifestar pobreza se a riqueza é de conhecimento geral?

Parece-me que o agir modestamente agrega mais vaidade do que o valor daquilo que foi deliberadamente velado. A modéstia, em si, é a tentativa de dissimular o óbvio. Por que dos ímpios não se exige a modéstia ao confessarem suas impiedades? Por que aos impudicos, aos insensatos e aos covardes não se lhes exige modéstia ao exteriorizarem a impudicícia, a insensatez e a covardia? A resposta parece ser evidente: a nobreza de caráter é incômoda. Ora, mas se aparentar modéstia é mais considerável àqueles que optam por dissimular uma ação nobre, então, as ações nobres inexistem. O que há então é um recurso espúrio que se vale da modéstia para aparentar aquilo que de fato não é.
  
E o que seria, então, a falsa modéstia? É o dissimular de uma dissimulação. Ora, nesse caso, falsa modéstia é uma afirmação. Portanto, a falsa modéstia, tão abominada pelos moralistas de ocasião, ainda se revela menos escandalosa do que a própria modéstia, pois que ao falsear uma condição falsa, o falso modesto expõe a “virtude” da modéstia como simples ferramenta de desfaçatez social, que visa, acima de tudo, um reconhecimento parco, vazio, putrefato.


Ao modesto falta a modéstia para revelar sua imodéstia.   

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