quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Da revolta contra a autoridade e o faz de conta educacional


De início, parece que tudo é fruto - consciente ou inconsciente - de uma confusão conceitual, pois que expressivo número de pessoas confunde autoridade com poder. A autoridade tem como fonte o valor pessoal, a importância, e por isso mesmo, desperta a atenção, a admiração, o respeito; a autoridade impõe-se sem constranger, sem coagir, sem obrigar. Já o poder é coator, vincula-se à posse, ao domínio, à força, ao vigor. Daqui pode-se inferir que as pessoas se colocam contra a autoridade por entenderem-na sinônima do poder.

Mas por que tal confusão? O poder é entidade abstrata, oriunda de um mandato, de uma função específica, característica de um império ou de uma soberania, mas seu exercício precisa ser delegado. O poder sempre é delegado. No entanto, aquele que detém o poder nem sempre consegue manifestar autoridade. E ciente de sua não autoridade, simplesmente exerce o poder impondo sua vontade, dizendo-se autoridade, e demonstrando, acima de tudo, uma grande dose de arbitrariedade. Eis a origem da perturbação. As pessoas ao se colocarem contra a autoridade, na verdade, estão se pondo contra o poder.

Autoridade é conquista. No entanto, no mundo atual, a autoridade vê-se achincalhada, desrespeitada, execrada. E por quê? Despreparados para o exercício do poder, carentes de autoridade, os poderosos se permitem cair no ridículo, seja no ridículo das ações ou dos pensamentos, pensando assim atender às exigências caricatas do populismo.  Aliado a isso, percebe-se algo como um esconso propósito, um protocolo dissimulado que vem sendo cumprido fielmente, disposto a alienar a civilização, transformando o mundo numa barbárie, onde a insensatez deverá criar uma elite de oligofrênicos.

A autoridade, seja do síndico, do pai, do papa, do presidente, do professor, do chefe etc., caiu em desgraça. Todavia, tudo começa em casa, a partir da autoridade paternal. Mas esta há muito foi solapada. O pai já não pode, mesmo que o queira, exercer sua autoridade, autoridade esta que pressupõe orientação, educação, introdução de valores. Não, autoridade do pai foi suprimida por um psicologismo social estrambólico, senão ridículo. Seu lema: “a autoridade do pai, ao impor valores e castigar os filhos causam traumas irreparáveis”. Esquecem os psicologistas, no entanto, que os traumas de uma não educação são muito mais nocivos, não só aos deseducados, como também à família e à sociedade. Os psicologistas, coitados, ainda vivem sob a égide do “é proibido proibir”; ainda se submetem ao guante do laissez faire.

Depois disso veio o recurso infamante, espúrio e covarde de um expediente jurídico: o conselho tutelar! E o pano de fundo para semelhante recurso é outra doença: direitos humanos das crianças e adolescentes. Se o objetivo de tais recursos é obstar a ação dos pais que se mostram violentos, pois que eles mesmos confundem autoridade e poder, então que sejam punidos. Hoje não mais se educa filhos; eles ficam à mercê da televisão, da orientação dos colegas e das prerrogativas de uma sociedade que se diz “bem antenada”.

Bem, e essa nova geração sem limites adentrou os muros das escolas. Ainda aí o psicologismo deixou sua marca, disseminando o discurso de um enganoso construtivismo, que nada tem a ver com Piaget, ensejando igualmente depreciar o poder, confundindo-o com a autoridade intrinsecamente vinculada à função professoral. E como desdobramento, valendo-se deste “benefício”, os deseducados se desinteressaram por assimilar quaisquer conhecimentos; querem apenas todas as facilidades. Os conselhos de classe, por sua vez, alinhados a um sociologismo barato, algo próximo de um messianismo, aprovam os incapazes porque entendem que os mesmos passam por situações difíceis no lar e outras bobagens. Enfim, o mérito foi banido do léxico.

No curso superior não é diferente; mal sabem formar uma simples frase. Contudo, são aprovados em “mágicos” vestibulares, pois o governo permite a criação de IES em toda e qualquer esquina ociosa. Ora, a educação tornou-se presa fácil de empresários que visam unicamente o lucro, apesar das frases de efeito divulgarem missões, visões e lemas em seus murais e folders. O MEC, sequaz da postura do politicamente correto, do hipossuficiente etc., consubstanciou de maneira inescrupulosa um modo dos alunos avaliarem seus professores. Pasmem: o professor é avaliado pela espontânea e estimulada incultura, que vê nessa ocasião oportunidade para ridicularizar a autoridade.

Sem exercer autoridade, a relação professor/aluno - uma relação também de poder - se extingue. O que pode fazer o professor para não cair em desgraça com a coordenação pedagógica? Ou ele se torna refém deste esquema aviltador ou fica desempregado. A escolha é lógica e evidente. A manipulação leva o professor a aprovar todos os seus discentes, olvidando quaisquer critérios para fazê-lo. Os alunos, satisfeitos, avaliam positivamente os docentes. A instituição agradece o fortalecimento de seu caixa, a coordenação pedagógica fica feliz e os professores mantêm seus empregos. Em suma: professores fingem ensinar; alunos fingem aprender; o mercado finge contratar; os salários pagos aos recém-formados fingem retribuir.


Monteiro Lobato foi o homem que melhor caracterizou este país: o Sítio do Pica-Pau Amarelo. É isso: vivemos um eterno faz de conta!

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