De início, parece que tudo é fruto -
consciente ou inconsciente - de uma confusão conceitual, pois que expressivo
número de pessoas confunde autoridade com poder. A autoridade tem como fonte o valor
pessoal, a importância, e por isso mesmo, desperta a atenção, a admiração, o
respeito; a autoridade impõe-se sem constranger, sem coagir, sem obrigar. Já o
poder é coator, vincula-se à posse, ao domínio, à força, ao vigor. Daqui
pode-se inferir que as pessoas se colocam contra a autoridade por entenderem-na
sinônima do poder.
Mas por que tal confusão? O poder é
entidade abstrata, oriunda de um mandato, de uma função específica,
característica de um império ou de uma soberania, mas seu exercício precisa ser
delegado. O poder sempre é delegado. No entanto, aquele que detém o poder nem
sempre consegue manifestar autoridade. E ciente de sua não autoridade,
simplesmente exerce o poder impondo sua vontade, dizendo-se autoridade, e demonstrando,
acima de tudo, uma grande dose de arbitrariedade. Eis a origem da perturbação.
As pessoas ao se colocarem contra a autoridade, na verdade, estão se pondo
contra o poder.
Autoridade é conquista. No entanto, no
mundo atual, a autoridade vê-se achincalhada, desrespeitada, execrada. E por
quê? Despreparados para o exercício do poder, carentes de autoridade, os
poderosos se permitem cair no ridículo, seja no ridículo das ações ou dos pensamentos,
pensando assim atender às exigências caricatas do populismo. Aliado a isso, percebe-se algo como um esconso
propósito, um protocolo dissimulado que vem sendo cumprido fielmente, disposto
a alienar a civilização, transformando o mundo numa barbárie, onde a insensatez
deverá criar uma elite de oligofrênicos.
A autoridade, seja do síndico, do pai,
do papa, do presidente, do professor, do chefe etc., caiu em desgraça. Todavia,
tudo começa em casa, a partir da autoridade paternal. Mas esta há muito foi
solapada. O pai já não pode, mesmo que o queira, exercer sua autoridade,
autoridade esta que pressupõe orientação, educação, introdução de valores. Não,
autoridade do pai foi suprimida por um psicologismo social estrambólico, senão
ridículo. Seu lema: “a autoridade do pai, ao impor valores e castigar os filhos
causam traumas irreparáveis”. Esquecem os psicologistas, no entanto, que os
traumas de uma não educação são muito mais nocivos, não só aos deseducados,
como também à família e à sociedade. Os psicologistas, coitados, ainda vivem
sob a égide do “é proibido proibir”; ainda se submetem ao guante do laissez faire.
Depois disso veio o recurso infamante,
espúrio e covarde de um expediente jurídico: o conselho tutelar! E o pano de
fundo para semelhante recurso é outra doença: direitos humanos das crianças e
adolescentes. Se o objetivo de tais recursos é obstar a ação dos pais que se
mostram violentos, pois que eles mesmos confundem autoridade e poder, então que
sejam punidos. Hoje não mais se educa filhos; eles ficam à mercê da televisão,
da orientação dos colegas e das prerrogativas de uma sociedade que se diz “bem
antenada”.
Bem, e essa nova geração sem limites
adentrou os muros das escolas. Ainda aí o psicologismo deixou sua marca,
disseminando o discurso de um enganoso construtivismo, que nada tem a ver com
Piaget, ensejando igualmente depreciar o poder, confundindo-o com a autoridade
intrinsecamente vinculada à função professoral. E como desdobramento,
valendo-se deste “benefício”, os deseducados se desinteressaram por assimilar quaisquer
conhecimentos; querem apenas todas as facilidades. Os conselhos de classe, por
sua vez, alinhados a um sociologismo barato, algo próximo de um messianismo,
aprovam os incapazes porque entendem que os mesmos passam por situações
difíceis no lar e outras bobagens. Enfim, o mérito foi banido do léxico.
No curso superior não é diferente; mal
sabem formar uma simples frase. Contudo, são aprovados em “mágicos”
vestibulares, pois o governo permite a criação de IES em toda e qualquer
esquina ociosa. Ora, a educação tornou-se presa fácil de empresários que visam
unicamente o lucro, apesar das frases de efeito divulgarem missões, visões e
lemas em seus murais e folders. O
MEC, sequaz da postura do politicamente correto, do hipossuficiente etc., consubstanciou
de maneira inescrupulosa um modo dos alunos avaliarem seus professores. Pasmem:
o professor é avaliado pela espontânea e estimulada incultura, que vê nessa
ocasião oportunidade para ridicularizar a autoridade.
Sem exercer autoridade, a relação
professor/aluno - uma relação também de poder - se extingue. O que pode fazer o
professor para não cair em desgraça com a coordenação pedagógica? Ou ele se
torna refém deste esquema aviltador ou fica desempregado. A escolha é lógica e
evidente. A manipulação leva o professor a aprovar todos os seus discentes,
olvidando quaisquer critérios para fazê-lo. Os alunos, satisfeitos, avaliam
positivamente os docentes. A instituição agradece o fortalecimento de seu caixa,
a coordenação pedagógica fica feliz e os professores mantêm seus empregos. Em
suma: professores fingem ensinar; alunos fingem aprender; o mercado finge
contratar; os salários pagos aos recém-formados fingem retribuir.
Monteiro Lobato foi o homem que melhor
caracterizou este país: o Sítio do Pica-Pau Amarelo. É isso: vivemos um eterno
faz de conta!
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