Os
viveres caninos e humanos têm em comum a expectativa. O cão vive a expectativa
do reencontro com aquele que elegeu como dono; o homem vive a expectativa de
desfrutar da convivência daqueles que elegeu como referência, ou como condição ideal,
seja o próximo (mulher, amigo, parentes, vizinhos, amante etc., nada mais do que fetiches) ou
Deus (uma entidade abstrata).
Pelo
menos o cão não se vale de fetiches nem de entidades abstratas.
A
vida é isso: expectativa. Criamos expectativas quanto ao futuro, quanto à posse
de objetos, quanto à convivência, quanto à preferência, quanto às realizações
destas expectativas, quanto à própria viva, seja em função da longevidade, da saúde
e da não morte. Ao criar expectativas acerca da vida, que em si é um emoldurar
de expectativas, criamos expectativas de expectativas.
E por que não escarnecer da expectativa? Teria o ser humano tal habilidade, tal destreza? O
cínico é aquele que, muito embora criar expectativas, zomba não só das suas,
mas também da expectativa alheia. Enfim, zomba do próprio viver. Filosofar é
preciso; viver não é preciso, a não ser que seja uma vida canina. Um voto de
aplauso aos cínicos!
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