Não sei se por imensa
pretensão ou por lamentável ingenuidade, os seres humanos criaram e se
vincularam a estereótipos com os quais não se identificam. Há, com certeza, uma
espécie de conflito interior em cada ser humano na tentativa de atingir esses
“status” idealizados. Mas esta tem sido, até o momento, uma luta inglória. Na
verdade, estes estereótipos revelam-se simplesmente como preconceitos, isto
porque carecem de qualquer fundamento sério ou imparcial. E, como corolário
destes inconsequentes estereótipos, temos a agravante criação de axiomas.
Identificamos de início
a tão falada racionalidade. Somos, de fato, racionais? Se o fôssemos, ficariam
banidos todos os assomos de passionalidade, todo e qualquer verniz social;
haveria um esvaziamento de emoções, sentimentos ou o que quer que se lhes
assemelha. Enfim, se tal acontecesse, já não seríamos considerados seres
humanos. Os atores sociais buscam adaptarem-se às imposições da racionalidade,
mas não o conseguem efetivamente. A racionalidade tornou-se apenas um título a ser
ostentado sem a menor relação com sua efetividade. Todavia, carregamos o fardo
existencial de nos mostrar como seres racionais.
Um segundo engodo na
natureza humana, e, consequentemente seu respectivo axioma, parte do equívoco
de que os seres humanos são naturalmente bons. Jean-Jacques Rousseau foi muito
infeliz em fazer semelhante declaração. E não foi a vida em sociedade que
despertou semelhantes impulsos; ela apenas os potencializou. Ora, se os seres
humanos têm uma bondade inata, eu vos pergunto: por que leis, religiões,
governos, normas morais? Por que tanta guerra? Bem, aqui poder-se-ia argumentar
que a tal bondade inata é apenas uma generalização, pois existem exceções. Sim,
por certo, contudo me parece que as exceções revelam-se como regras. E mais uma
vez os seres humanos lutam para manifestar um estereótipo que dista
sobremaneira de seu arcabouço puramente animal, de sua característica
intrínseca, isto é, o egoísmo A partir desta irresponsável teoria tem-se a
criação de utopias. Sim, porque qualquer projeto que entenda os seres humanos
como seres de boa vontade, equilibrados, imparciais, justos, honestos,
altruístas, etc., estaria atrelado a expectativa de um dever-ser, uma utopia
irrealizável. Eis o fracasso do projeto humano.
Racionalidade e bondade
como características de seres humanos são delírios que, em si mesmos, revelam
os torpes mecanismos de uma passionalidade exacerbada. A bondade é apenas
recurso sofístico para produzir resultados que possibilitem maior poder àqueles
que se dizem possuidores de racionalidade.
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