quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Bondade e Racionalidade Humanas


Não sei se por imensa pretensão ou por lamentável ingenuidade, os seres humanos criaram e se vincularam a estereótipos com os quais não se identificam. Há, com certeza, uma espécie de conflito interior em cada ser humano na tentativa de atingir esses “status” idealizados. Mas esta tem sido, até o momento, uma luta inglória. Na verdade, estes estereótipos revelam-se simplesmente como preconceitos, isto porque carecem de qualquer fundamento sério ou imparcial. E, como corolário destes inconsequentes estereótipos, temos a agravante criação de axiomas.  

Identificamos de início a tão falada racionalidade. Somos, de fato, racionais? Se o fôssemos, ficariam banidos todos os assomos de passionalidade, todo e qualquer verniz social; haveria um esvaziamento de emoções, sentimentos ou o que quer que se lhes assemelha. Enfim, se tal acontecesse, já não seríamos considerados seres humanos. Os atores sociais buscam adaptarem-se às imposições da racionalidade, mas não o conseguem efetivamente. A racionalidade tornou-se apenas um título a ser ostentado sem a menor relação com sua efetividade. Todavia, carregamos o fardo existencial de nos mostrar como seres racionais.

Um segundo engodo na natureza humana, e, consequentemente seu respectivo axioma, parte do equívoco de que os seres humanos são naturalmente bons. Jean-Jacques Rousseau foi muito infeliz em fazer semelhante declaração. E não foi a vida em sociedade que despertou semelhantes impulsos; ela apenas os potencializou. Ora, se os seres humanos têm uma bondade inata, eu vos pergunto: por que leis, religiões, governos, normas morais? Por que tanta guerra? Bem, aqui poder-se-ia argumentar que a tal bondade inata é apenas uma generalização, pois existem exceções. Sim, por certo, contudo me parece que as exceções revelam-se como regras. E mais uma vez os seres humanos lutam para manifestar um estereótipo que dista sobremaneira de seu arcabouço puramente animal, de sua característica intrínseca, isto é, o egoísmo A partir desta irresponsável teoria tem-se a criação de utopias. Sim, porque qualquer projeto que entenda os seres humanos como seres de boa vontade, equilibrados, imparciais, justos, honestos, altruístas, etc., estaria atrelado a expectativa de um dever-ser, uma utopia irrealizável. Eis o fracasso do projeto humano.

Racionalidade e bondade como características de seres humanos são delírios que, em si mesmos, revelam os torpes mecanismos de uma passionalidade exacerbada. A bondade é apenas recurso sofístico para produzir resultados que possibilitem maior poder àqueles que se dizem possuidores de racionalidade. 

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