Ao
me voltar para a questão do tédio - essa sensação de desprazer e até de
repugnância, o desgosto inexplicável, o enfado contagioso - percebo que ele é
originado em expectativas criadas no dia-a-dia, seja através do abandono da religiosidade,
seja com a renúncia ao poder do inconsciente, seja com o fomento imoderado num
já contestado racionalismo, ou pela fé inabalável na tecnologia. Percebei, cada
um destes elementos ou mesmo a reunião de todos afeta, e de modo contundente, o
desempenho, a potencialidade criadora do ser humano. Seres humanos necessitam
viver suas energias e potencialidades criativas ao máximo. Quando tal não
acontece, tem-se o surgimento do tédio. Então o ser humano experimenta o
padecimento advindo de algo insólito, desconhecido. O ser humano quer viver em
ato e não em potência. Com efeito, o ser humano sente a dor causada por uma
imposta potencialidade, o que tende a provocar, portanto, a inutilidade de seu
talento.
Quanto
maior as expectativas, maior o tédio. As aptidões ficam como que num limbo.
Pessoas prendadas e criativas - falo de uma criatividade ímpar e original - que
demonstram inumeráveis aptidões, abundância de ideias e invenções, em geral, em
face dos elementos elencados, sentem-se reclusos, exilados; vivem em verdadeiro
ostracismo. Todavia, mesmo diante das adversidades impostas pela caótica ordem
social, eles tentam superar tais excessos, e como ferramenta valem-se da
imaginação. Então acontece a diversificação na criação; uma criação alternativa,
mas imensamente elevada, sublime. Estai atentos: a arte, a filosofia, o honroso
pensar sobrevivem fora da sociedade. Dentro do desbunde social, o que se vê, de
fato, é apenas sórdido refinamento, falsas realizações e aparente solidão. Isto
porque a solidão mesma é fruto da imaginação que cria o recurso da sensatez. O
sensato decreta seu auto insulamento e faz da solidão algo fecundo. A solidão
propicia o pensar, estimula o criar e provoca o agir.
Não
obstante, o tédio ainda estará presente. Todavia, revelar-se-á como criatividade
latente. O tédio, portanto, quando em ebulição, quando em efervescência e
exaltação, deve culminar em paixão. Para que o tédio não se nos torne
prejudicial, causando-nos estupidez, perversão, mesquinharia, ele deve implicar
paixão. Logo, a paixão mostrar-se-á como criadora. O que produz é paixão, é
estar em ato. Não sei, talvez seja precoce afirmar agora, mas o tédio
revela-se-me como fonte indireta do processo criativo. Sim, a paixão
exterioriza apenas o que teve origem no tédio. Grandes obras, grandes músicas,
grandes pensamentos se fizeram conhecidos por conta da paixão.
Em
síntese, o que temos? O tédio se nos invade, o que pressupõe solidão e lança
nossas aptidões numa espécie de limbo não escatológico. Para não nos deixarmos
abater pelo tédio, devemos dar azo à imaginação, onde aflorará um poder criador
diversificado. Neste passo, pode-se compreender porque seres humanos
diferenciados buscam a solidão, pois a solidão mostra-se sensata em face de uma
implacável imaginação. Portanto, prenhes de imaginação, enleados em ideias que
buscam frutificar-se, que instam por ação, tornamo-nos servos de uma paixão
criadora.
Fiat
Lux!
O tédio só enluta e desassossega aquele que nao se suporta e não e capaz de viver consigo mesmo.
ResponderExcluir