segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Taedio passion



Ao me voltar para a questão do tédio - essa sensação de desprazer e até de repugnância, o desgosto inexplicável, o enfado contagioso - percebo que ele é originado em expectativas criadas no dia-a-dia, seja através do abandono da religiosidade, seja com a renúncia ao poder do inconsciente, seja com o fomento imoderado num já contestado racionalismo, ou pela fé inabalável na tecnologia. Percebei, cada um destes elementos ou mesmo a reunião de todos afeta, e de modo contundente, o desempenho, a potencialidade criadora do ser humano. Seres humanos necessitam viver suas energias e potencialidades criativas ao máximo. Quando tal não acontece, tem-se o surgimento do tédio. Então o ser humano experimenta o padecimento advindo de algo insólito, desconhecido. O ser humano quer viver em ato e não em potência. Com efeito, o ser humano sente a dor causada por uma imposta potencialidade, o que tende a provocar, portanto, a inutilidade de seu talento.  
  
Quanto maior as expectativas, maior o tédio. As aptidões ficam como que num limbo. Pessoas prendadas e criativas - falo de uma criatividade ímpar e original - que demonstram inumeráveis aptidões, abundância de ideias e invenções, em geral, em face dos elementos elencados, sentem-se reclusos, exilados; vivem em verdadeiro ostracismo. Todavia, mesmo diante das adversidades impostas pela caótica ordem social, eles tentam superar tais excessos, e como ferramenta valem-se da imaginação. Então acontece a diversificação na criação; uma criação alternativa, mas imensamente elevada, sublime. Estai atentos: a arte, a filosofia, o honroso pensar sobrevivem fora da sociedade. Dentro do desbunde social, o que se vê, de fato, é apenas sórdido refinamento, falsas realizações e aparente solidão. Isto porque a solidão mesma é fruto da imaginação que cria o recurso da sensatez. O sensato decreta seu auto insulamento e faz da solidão algo fecundo. A solidão propicia o pensar, estimula o criar e provoca o agir.

Não obstante, o tédio ainda estará presente. Todavia, revelar-se-á como criatividade latente. O tédio, portanto, quando em ebulição, quando em efervescência e exaltação, deve culminar em paixão. Para que o tédio não se nos torne prejudicial, causando-nos estupidez, perversão, mesquinharia, ele deve implicar paixão. Logo, a paixão mostrar-se-á como criadora. O que produz é paixão, é estar em ato. Não sei, talvez seja precoce afirmar agora, mas o tédio revela-se-me como fonte indireta do processo criativo. Sim, a paixão exterioriza apenas o que teve origem no tédio. Grandes obras, grandes músicas, grandes pensamentos se fizeram conhecidos por conta da paixão.

Em síntese, o que temos? O tédio se nos invade, o que pressupõe solidão e lança nossas aptidões numa espécie de limbo não escatológico. Para não nos deixarmos abater pelo tédio, devemos dar azo à imaginação, onde aflorará um poder criador diversificado. Neste passo, pode-se compreender porque seres humanos diferenciados buscam a solidão, pois a solidão mostra-se sensata em face de uma implacável imaginação. Portanto, prenhes de imaginação, enleados em ideias que buscam frutificar-se, que instam por ação, tornamo-nos servos de uma paixão criadora.

Fiat Lux!

Um comentário:

  1. O tédio só enluta e desassossega aquele que nao se suporta e não e capaz de viver consigo mesmo.

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