Evidentemente,
uma das maiores preocupações dos seres humanos é alcançar a felicidade. Mas a
felicidade, em si, seria uma meta, ou um simples estágio para se chegar ao
objetivo intentado? Parece-me que a felicidade é o objeto final. No entanto, e
já nos alertara o grande Aristóteles, as pessoas confundem a felicidade com os
meios para atingi-la. A felicidade é algo único, concebida como bem supremo; os
meios para alcançá-la é que variam de acordo com os desejos, volições e valores
de cada ser humano. Alguém entende que ser feliz é possuir bens materiais; na
verdade, os bens materiais seriam um meio para este alguém alcançar ou pensar ter
alcançado a exigida felicidade. Aqueloutro entende que a felicidade está na
riqueza; contudo a riqueza é somente um meio para que ele declare ter atingido
a felicidade.
Nada
obstante, voltemo-nos para a etimologia da palavra, o que nos remete ao termo
grego eudaimonia. Eu, no idioma grego significa bem, bom, boa; daimon seria o espírito. Em resumo, eudaimonia, felicidade é estar acompanhado por um bom espírito, por
um espírito do bem. Neste caso, fazem-se necessários alguns esclarecimentos: a)
que o espírito de que falavam os gregos em nada se assemelha ao espírito, alma ou
anjo da guarda presentes na religião judaico-cristã. b) a palavra daimon, que mais tarde adquiriu uma
conotação negativa, originou o termo demônio, igualmente presente no religião
judaico-cristã.
Mas
voltemo-nos à felicidade. Mesmo antes de Aristóteles, Pitágoras já aliava a
felicidade ao conhecimento, ao aprendizado, isto é, àquilo que nos importa e
nos leva à perfeição pessoal. Observemos, portanto, tal assertiva. Se a
riqueza, ou a honra, ou o prazer for, de fato, origens da felicidade,
pergunta-se: um ser humano coberto de joias ou proprietário de muitos bens, mas
vítima de doença terminal dir-se-á feliz? Evidente que não. Logo, a felicidade
não está na riqueza, nem em honras ou prazeres. Ora, então como alcançá-la?
Através de bens que não sejam nem revelem efemeridade. Enfim, voltamo-nos ao
conhecimento, pois que este, depois de adquirido, torna-se bem inalienável. O
conhecimento conduz à busca da perfeição, e quando a perfeição pessoal é enfim
alcançada, contemplada, o ser humano acaba por experienciar a felicidade. A felicidade, portanto, assimila a condição de
Soberano Bem. O saber seria a conditio
sine qua non para atingir-se o mais alto bem; a verdade, o valor supremo.
No
entanto, hodiernamente, com a ajuda da ciência e da tecnologia, as pessoas são
levadas a confundir o soberano bem com o bem-estar. Ciência e técnica se
esforçam em realizar constante manutenção nesse bem-estar, provocando,
evidentemente, um abrandamento, uma deterioração, um depauperar da consciência
mesma, e, destarte, um apequenar, um recrudescer da atividade cognitiva.
Contudo, as pessoas ainda se declaram felizes; felizes não por ter, não por
conquistar. As pessoas se importam com as conquistas efêmeras; elas desejam o
agora, o minuto de fama, o amor feito às pressas, as relações passageiras, o selfie que lhes emprestam notoriedade. E
o mais alarmante: as pessoas não querem mudanças, pelo menos por ora, pois que
a mudança ameaçaria esta pseudo estabilidade - felicidade. A própria ciência,
quando propõe transformações radicais, é encarada como inimiga em potencial.
Então
vós me perguntais: e como fazer para conquistar a verdadeira felicidade?
Simples, façamos o que não mais é tido como “normal”; façamos o que é démodé, o que é antiquado, o que é vintage. Dediquemo-nos à leitura, aos
estudos, à compreensão, ao conhecimento. Resgatemos a verdade que há muito foi
relativizada. Reconciliemo-nos com os valores hoje transvalorados. Aliado a
isso, evoquemos a fé, pois que a fé fará com que a divindade emerja de nossa
alma e não permita que tudo se nos esvaia, que o conquistado nos seja
arrebatado. Deus garantirá que não mais desfrutemos de uma existência puramente
material, mas sim de uma realidade eterna, absoluta e, é óbvio, ornada de
felicidade. Desfrutemos, portanto, da vera Eudaimonia!
A felicidade está mais perto do que muitos imaginam. Basta tomar o caminho certo. A trilha do bem.
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