segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Felicidade



Evidentemente, uma das maiores preocupações dos seres humanos é alcançar a felicidade. Mas a felicidade, em si, seria uma meta, ou um simples estágio para se chegar ao objetivo intentado? Parece-me que a felicidade é o objeto final. No entanto, e já nos alertara o grande Aristóteles, as pessoas confundem a felicidade com os meios para atingi-la. A felicidade é algo único, concebida como bem supremo; os meios para alcançá-la é que variam de acordo com os desejos, volições e valores de cada ser humano. Alguém entende que ser feliz é possuir bens materiais; na verdade, os bens materiais seriam um meio para este alguém alcançar ou pensar ter alcançado a exigida felicidade. Aqueloutro entende que a felicidade está na riqueza; contudo a riqueza é somente um meio para que ele declare ter atingido a felicidade.

Nada obstante, voltemo-nos para a etimologia da palavra, o que nos remete ao termo grego eudaimonia. Eu, no idioma grego significa bem, bom, boa; daimon seria o espírito. Em resumo, eudaimonia, felicidade é estar acompanhado por um bom espírito, por um espírito do bem. Neste caso, fazem-se necessários alguns esclarecimentos: a) que o espírito de que falavam os gregos em nada se assemelha ao espírito, alma ou anjo da guarda presentes na religião judaico-cristã. b) a palavra daimon, que mais tarde adquiriu uma conotação negativa, originou o termo demônio, igualmente presente no religião judaico-cristã.

Mas voltemo-nos à felicidade. Mesmo antes de Aristóteles, Pitágoras já aliava a felicidade ao conhecimento, ao aprendizado, isto é, àquilo que nos importa e nos leva à perfeição pessoal. Observemos, portanto, tal assertiva. Se a riqueza, ou a honra, ou o prazer for, de fato, origens da felicidade, pergunta-se: um ser humano coberto de joias ou proprietário de muitos bens, mas vítima de doença terminal dir-se-á feliz? Evidente que não. Logo, a felicidade não está na riqueza, nem em honras ou prazeres. Ora, então como alcançá-la? Através de bens que não sejam nem revelem efemeridade. Enfim, voltamo-nos ao conhecimento, pois que este, depois de adquirido, torna-se bem inalienável. O conhecimento conduz à busca da perfeição, e quando a perfeição pessoal é enfim alcançada, contemplada, o ser humano acaba por experienciar a felicidade.  A felicidade, portanto, assimila a condição de Soberano Bem. O saber seria a conditio sine qua non para atingir-se o mais alto bem; a verdade, o valor supremo.  

No entanto, hodiernamente, com a ajuda da ciência e da tecnologia, as pessoas são levadas a confundir o soberano bem com o bem-estar. Ciência e técnica se esforçam em realizar constante manutenção nesse bem-estar, provocando, evidentemente, um abrandamento, uma deterioração, um depauperar da consciência mesma, e, destarte, um apequenar, um recrudescer da atividade cognitiva. Contudo, as pessoas ainda se declaram felizes; felizes não por ter, não por conquistar. As pessoas se importam com as conquistas efêmeras; elas desejam o agora, o minuto de fama, o amor feito às pressas, as relações passageiras, o selfie que lhes emprestam notoriedade. E o mais alarmante: as pessoas não querem mudanças, pelo menos por ora, pois que a mudança ameaçaria esta pseudo estabilidade - felicidade. A própria ciência, quando propõe transformações radicais, é encarada como inimiga em potencial.

Então vós me perguntais: e como fazer para conquistar a verdadeira felicidade? Simples, façamos o que não mais é tido como “normal”; façamos o que é démodé, o que é antiquado, o que é vintage. Dediquemo-nos à leitura, aos estudos, à compreensão, ao conhecimento. Resgatemos a verdade que há muito foi relativizada. Reconciliemo-nos com os valores hoje transvalorados. Aliado a isso, evoquemos a fé, pois que a fé fará com que a divindade emerja de nossa alma e não permita que tudo se nos esvaia, que o conquistado nos seja arrebatado. Deus garantirá que não mais desfrutemos de uma existência puramente material, mas sim de uma realidade eterna, absoluta e, é óbvio, ornada de felicidade. Desfrutemos, portanto, da vera Eudaimonia!

Um comentário:

  1. A felicidade está mais perto do que muitos imaginam. Basta tomar o caminho certo. A trilha do bem.

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