Algumas pessoas, as mais próximas,
evidentemente, perguntam-me porque leio e escrevo tanto; porque insisto em
publicar meus textos, apesar da patente não aceitação dos mesmos; porque essa
dedicação em transmitir aos outros - a grande maioria, senão a quase totalidade
- o que não lhes é do menor interesse. Bem, diante de semelhante inquisição eu
busco sorrir, mas... A leitura é um vício, algo como o tabagismo ou alcoolismo.
A vontade de escrever advém da vontade de partilhar com alguém os conteúdos
assimilados nos livros. Quanto à divulgação, muito embora o faça somente
através de um blog - e com pseudônimo, porque não pretendo tornar-me
celebridade - soa-me como um dever. Alguém como eu, que foi professor, que
tinha prazer em preparar aulas, selecionar textos, lê-los e explicá-los a cada
aluno se necessário fosse, não pode se convencer que o conhecimento é
propriedade sua, que lhe seja algo particular, de íntimo desfrute, como se o
conhecimento fosse uma coleção de selos ou algo assim. Não, o professor, o vero
dáskalos, aquele que zela de modo
consciente pelo seu papel junto à sociedade, não se limita a comparecer às
instituições e despejar conteúdos sem o mínimo critério. O lente deve obrigar-se
a fazer com que os conteúdos por ele ministrados sejam assimilados, apreendidos.
Será que os professores, as pessoas detentoras de expressivo nível cultural
conseguem compreender esta enorme responsabilidade? Então, se me revisto de tal
responsabilidade, é óbvio que cobro a mesma seriedade e responsabilidade dos
alunos. Ah, quantas vezes fui agredido, insultado, vilipendiado! Pasmai, os
colegas, também professores, aconselhavam-me a ser mais “flexível”. Não foram
poucas as ocasiões em que ouvi frases do tipo: “Eu cumpro com minhas
obrigações: ministro as aulas; acompanhem-nas quem quiser”. Ou então: “Não
estou aqui para me indispor com aluno; não os reprovo, pois o mercado de
trabalho irá fazer a seleção”. Esquecem-se estes que cabe ao professor separar
o joio do trigo.
Aqui, mais uma vez, exponho-me a
receber um sem número de adjetivos, alcunhas, insinuações, bem como tornar-me
alvo de chacota, pois entendo que nós, professores, muito embora o sistema
educacional mostre-se cada vez mais medíocre e “adoentado”, devemos ter em
mente que o conhecimento e a cultura nos diferenciam dos demais membros da
sociedade, não porque somos melhores que eles, mas porque temos que cuidar da
formação desta sociedade, a zelar pelos seus membros, nossos iguais,
tornando-os melhores cultural e moralmente. Ainda pautado na didática, e na
tentativa de embasar meus argumentos, faço uso de um recurso banal: a
exemplificação.
Em sua aula inaugural, na Universidade
de Jena, em 1789, Friedrich Schiller não poupou críticas ao que ele chamou de Brot-gelehrte, ou seja, o educador que
faz da ciência apenas um ganha-pão e da universidade uma escola profissionalizante.
Brot significa pão. Contudo, o
conceito de gelehrte abriga bem mais que
o explicitado, - erudito, culto - pois reporta-se àqueles que visam o sumo bem da
humanidade, aos que buscam melhorar a espécie, tornando-a nobre. Estes não objetivam
apenas a transmissão de conhecimentos, mas também, nas palavras de Fichte, “à
formação do coração para a virtude, formação para o interesse prático na busca
pela verdade”. Ora, se o educador trabalha pelo enobrecimento da espécie
humana, ele deve mostrar-se e portar-se como cidadão exemplar, isto é, alguém
igualmente nobre - von edel Mensch.
A propósito: esta aula foi ministrada tão
somente pelo prazer de servir à sociedade!
Ao ler este texto me deu um certo gás...
ResponderExcluirme proporcionou uma autoestima além do ego. Gerando o aquecimento de minha vontade em ser professor que estava esfriando.
Obrigado.