segunda-feira, 3 de junho de 2019

Curiosidade semântico-científica



No auge do discurso que exorbita a tolerância, ou melhor, que prega o ir mais além na deferência ou flexibilidade com o que não se quer ou pode impedir; que preconiza o bom ânimo às opiniões opostas, nosso organismo mostra-se avesso, discordante. Nosso organismo revela-se como intolerante. Por que um êmulo doméstico diante do universo cientificista? O que teria tornado nosso corpo em adversário? É de nossa natureza ser contrário às circunstâncias fático-sociais? Ou estaríamos, de fato, sendo manipulados pelo cientificismo? O importante é que, pelo menos no que tange ao modismo do ser humano saudável midiático, nosso corpo desenvolveu intolerâncias: intolerância à lactose; intolerância ao glúten. O risível é que as pessoas - corroboradas por um desajeitado cientificismo - associam as atuações sociais e os imperativos estéticos a doenças. A intolerância à lactose está diretamente vinculada ao flatos, ou melhor, aos que liberam gases sistematicamente após a ingestão de derivados do leite. O flatoso, portanto, está perdoado; trata-se de uma doença. A intolerância ao glúten, por sua vez, tem a ver com a obesidade. Mas os infelizes não conseguem desenvolver bons hábitos alimentares. Logo, o gordo - obeso é nada mais que um eufemismo - também está perdoado.

Eis o curioso: nosso corpo desenvolveu a intolerância, enquanto nosso “ser” social aspira por tolerância. Quanta ambiguidade em um único e insignificante vivente! Enfim, seria esta uma mensagem subliminar da natureza mesma? Isto é, algo como um aviso que insta por nos tornarmos e demonstrarmos nossa ignota intolerância? Ou o cientificismo, aliado aos interesses laboratoriais, empresariais, busca condicionar e mover os cordões com que conduzem as marionetes, a grande manada humana? Ora, as empresas farmacêuticas continuam a lucrar com os que se convencem que são intolerantes; as empresas alimentícias aumentam sobremodo seus lucros com os que se propõem a uma alimentação alternativa. Coincidências? Não, eu acredito em propósitos. E, por favor, não me venham falar em pesquisa científicas ou similares; depois da ênfase na teoria da terra plana, tudo cai por terra.

Nada obstante, descobri que tenho algumas intolerâncias: socialmente, sou intolerante ao existir humano e seus expedientes mesquinhos para acumular lucro, louros ou glória; fisiologicamente - e aqui espero enriquecer e tornar-me celebridade - sou intolerante a glutamina. Sim, trata-se de um aminoácido não essencial, abundante no plasma e que pode ser sintetizado pelo organismo a partir de outros aminoácidos. E como descobri tal moléstia? Simples: com quase 70 anos, jamais tenho desgaste ou canseira física, minha imunidade é sempre ótima, dificilmente adoeço. Ora, por certo tenho alguma coisa de errado. No mundo hodierno deve-se, por vezes, apresentar fadiga, mostrar-se indisposto, com imunidade baixa e ter os nutrientes não absorvidos. Este meu “incômodo” é causado pela intolerância à glutamina.

Bem, espero sinceramente ser procurado por algum laboratório farmacêutico, quem sabe para obsequiar-me com algum lucro. E no medicamento estará estampado: No combate aos efeitos negativos da Glutamina. “Se os sintomas persistirem, o médico deverá ser consultado”.    

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