segunda-feira, 17 de junho de 2019

Master Chef



Venho, por meio desta, informar-vos de que estou disposto a participar do programa MasterChef, graças à veia culinária em mim recém desperta, e, acredito, que tal veia tenha se manifestado em virtude da popularidade da alimentação vegana. Sei que é bastante difícil para vós, que me conheceis como homem de letras, acreditar-me um gourmet, mas tentai modificar este estereótipo, pois criei receitas inimitáveis baseadas nos princípios do veganismo. Sim, um bolo - cupcake se preferirdes - de bertalha, berinjela e gengibre. Nada de açúcar, nem mesmo mascavo ou demerara; nada de óleos ou quaisquer recursos para dar liga. Enfim, uma delícia! E, não busqueis, já que nem sequer provastes, sopitar o sucesso que busco alcançar. Posso, inclusive, divulgar a receita, mas isso ficará para uma outra ocasião.
Eu poderia ainda discorrer sobre o meu quibe feito somente de aveia e trigo, minha pizza confeccionada apenas com berinjelas. E que tal meu salpicão feito de milho, passas, ervilhas e maçãs, tudo cozido com arroz integral? Meu Pot-au-feu, no lugar da carne, acrescento algumas lascas de cedro; meu Ackee é feito com macaxeira; meu Bulgogi, em vez de iscas de carne, uso folhas de mangueira. No Goulash, tiro a carne e introduzo mandioquinha. Minha Mussaca leva granola. Em meu Irish Stew, o cará (inhame) substitui a carne de carneiro. E, por fim, minha Paella, que além do arroz, azeite, açafrão e demais temperos, eu adiciono arroz, arroz e arroz.
Senhoras e senhores, prezados leitores, longe de mim diminuir ou fazer chacota com os que se dizem veganos, mas sou, inconscientemente, conduzido a Pedro Malasartes e sua Sopa de Pedras. O personagem tradicional na cultura ibérica mostra que, na verdade, a sopa não é de pedras; são os demais legumes e temperos que fazem da dita sopa algo delicioso. As pedras são descartáveis, meros artifícios. Em verdade, tudo não passa de maquinações de um caipira sagaz. Não obstante, dentro da antropologia filosófica, há uma corrente que coloca o paladar como o diferencial entre seres humanos e demais animais, afinal somos os únicos a cozinhar os alimentos e se valer de temperos. Essa conversa de se usar a razão para pôr em destaque os seres humanos em detrimento de outras espécies está ultrapassada, pois capacidade de pensar e desenvolver sentimentos são pertinentes também a outras animálias. As críticas daqueles considerados “carnívoros”, por sinal bem pertinentes, aludem a nossa condição animal e as nossas características de predadores. Proteína animal, portanto, seria indispensável a nossa manutenção e saúde.
Bem, já que referi-me à filosofia, a versão vegetariana seria o meio termo aristotélico, a harmonia entre extremos, o equilíbrio, a síntese dialética em sua mais ampla, saudável e saborosa acepção.    

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