Venho,
por meio desta, informar-vos de que estou disposto a participar do programa
MasterChef, graças à veia culinária em mim recém desperta, e, acredito, que tal
veia tenha se manifestado em virtude da popularidade da alimentação vegana. Sei
que é bastante difícil para vós, que me conheceis como homem de letras, acreditar-me
um gourmet, mas tentai modificar este estereótipo, pois criei receitas
inimitáveis baseadas nos princípios do veganismo. Sim, um bolo - cupcake se
preferirdes - de bertalha, berinjela e gengibre. Nada de açúcar, nem mesmo
mascavo ou demerara; nada de óleos ou quaisquer recursos para dar liga. Enfim,
uma delícia! E, não busqueis, já que nem sequer provastes, sopitar o sucesso
que busco alcançar. Posso, inclusive, divulgar a receita, mas isso ficará para
uma outra ocasião.
Eu
poderia ainda discorrer sobre o meu quibe feito somente de aveia e trigo, minha
pizza confeccionada apenas com berinjelas. E que tal meu salpicão feito de
milho, passas, ervilhas e maçãs, tudo cozido com arroz integral? Meu
Pot-au-feu, no lugar da carne, acrescento algumas lascas de cedro; meu Ackee é
feito com macaxeira; meu Bulgogi, em vez de iscas de carne, uso folhas de
mangueira. No Goulash, tiro a carne e introduzo mandioquinha. Minha Mussaca
leva granola. Em meu Irish Stew, o cará (inhame) substitui a carne de carneiro.
E, por fim, minha Paella, que além do arroz, azeite, açafrão e demais temperos,
eu adiciono arroz, arroz e arroz.
Senhoras
e senhores, prezados leitores, longe de mim diminuir ou fazer chacota com os
que se dizem veganos, mas sou, inconscientemente, conduzido a Pedro Malasartes
e sua Sopa de Pedras. O personagem tradicional na cultura ibérica mostra que,
na verdade, a sopa não é de pedras; são os demais legumes e temperos que fazem
da dita sopa algo delicioso. As pedras são descartáveis, meros artifícios. Em
verdade, tudo não passa de maquinações de um caipira sagaz. Não obstante,
dentro da antropologia filosófica, há uma corrente que coloca o paladar como o diferencial
entre seres humanos e demais animais, afinal somos os únicos a cozinhar os
alimentos e se valer de temperos. Essa conversa de se usar a razão para pôr em
destaque os seres humanos em detrimento de outras espécies está ultrapassada,
pois capacidade de pensar e desenvolver sentimentos são pertinentes também a
outras animálias. As críticas daqueles considerados “carnívoros”, por sinal bem
pertinentes, aludem a nossa condição animal e as nossas características de
predadores. Proteína animal, portanto, seria indispensável a nossa manutenção e
saúde.
Bem,
já que referi-me à filosofia, a versão vegetariana seria o meio termo
aristotélico, a harmonia entre extremos, o equilíbrio, a síntese dialética em
sua mais ampla, saudável e saborosa acepção.
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