Confesso-me um tanto inseguro para abordar
e/ou dar início ao tema. Pensei na modalidade conto, pois, muito embora a
gravidade do assunto, teria nuanças algo lúdicas e sobremodo satíricas.
Formulei, inclusive, ideias acerca de um personagem animal, um bicho selvagem,
um protagonista poderoso (ou seria apenas mero coadjuvante?). Pois bem, este
seria o leão, batizado por Adão, se bem que a fera perderia muito de sua
característica no que tange à dieta. Sim, eu falo de um leão vegano. Este leão,
apesar de toda reconhecida ferocidade, tornar-se-ia refém de astuciosa falácia.
E quem seria este outro personagem, (protagonista ou coadjuvante?) capaz de
manipular aquele que detém o título de “rei dos animais”? Lógico, só poderia
ser um charlatão traiçoeiro que atende pelo nome de Dráuzio, uma hiena macho,
com cara de sofredora e com achaques de pieguice social. Não, nada pessoal,
apenas a personificação de uma medicina midiático-curandeirística.
Todavia, percebo que o pretendido
conto não atenderia a abrangência que o assunto requer. Então, assim que
abandono os personagens da vida selvagem, vem-me à mente um fato assaz
interessante que, certamente, tornou-se marco de uma distante juventude: houve
uma época em que a moda exigiu da mulher a obrigatoriedade na companhia de
motociclistas. E como comprovar o status de acompanhante? Simples, tornou-se
comum as jovens exibirem como troféu a pele das pernas queimadas pelos
escapamentos das motos. Algumas, as não vitimadas pelos “escrupulosos” pilotos,
usavam a lâmina de uma faca fumegante para implantar queimaduras na pele das
próprias pernas. Atentai! Estou a falar de seres humanos que detêm como
apanágio a racionalidade.
Ainda bem que esta moda tornou-se
démodé. Sim, o modismo é isso: conhece rápida ascensão, arrebanha prosélitos,
estabelece comportamentos e em curto período de tempo entra em declínio. Quando
professor, enquanto aguardava o início da aula, sentado próximo a entrada da
sala, percebi que as alunas, de um modo geral, vestiam-se do mesmo modo: calça
jeans de cintura baixa e uma blusa curta, independente da cor, com o umbigo de
fora. A imagem de uma manada surgiu instantaneamente diante de meus olhos.
Enfim, essa é uma geração que clama por liberdade.
Nada obstante, deve-se ter em mente
que a moda não se limita ao uso de roupas, palavreados ou comportamentos;
atualmente partilhamos nosso dia-a-dia com as “doenças da moda”. Pergunto-vos:
O modismo nas doenças sempre existiu? Pode ter acontecido, é óbvio, mas
sinceramente não me recordo. E pautado nas minhas não recordações, arrisco-me a
declarar que as Fashion Diseases são características da pós-modernidade.
Parece-me que a pós-modernidade traz esse viés antípoda, isto é, a tudo
contraria, a tudo se opõe. E a justificativa para tal oposição é o vazio de uma
falácia que se autodeclara ideológica.
Mas voltemos a falar de assuntos
sérios. Falemos, portanto, das doenças da moda: Os seres humanos foram
declarados mamíferos porque possuem glândulas mamárias e produzem leite para
alimentar suas crias. Desde tenra idade e até muito antes, sempre soube que o
leite, não só o materno, mas também o leite de gado é imprescindível na
alimentação humana. Meu pai, meu avô, o bisavô, o pai dele e assim por diante
poderiam corroborar o que digo. Contudo, os dias atuais com sua estropiada
ciência optaram por demonizar a lactose. Eu nunca ouvi esta mesma ciência - por
isso estropiada - questionar os produtos químicos misturados ao leite e laticínios
para necessária conservação. A indústria alimentícia agradece; eles criam um
leite sem lactose, uma café sem cafeína, uma cerveja sem álcool. Sim, e quando
as não vítimas da lactose apresentarem carências, será a vez da indústria
farmacêutica desfazer-se em mesuras e em lucros, evidentemente.
Falemos agora do glúten. Este
componente tornou-se famoso, sendo apontado como único culpado pelo ganho de
peso e mal-estar intestinal dos glutões. Curioso é como os criminosos são
considerados suspeitos de crimes mesmo quando os confessam; o glúten já foi
apontado, indiciado, julgado e condenado. Conceitualmente falando, esta
proteína está presente em alguns cereais como trigo, a cevada, o centeio e o
malte. Após o processo de demonização midiático-curandeirístico, a pseudo
ciência jamais questionou a validade e/ou apontou seus dedos para os alimentos
transgênicos. Pergunto-vos: a engenharia genética pode mensurar as
consequências futuras nas alterações provocadas no DNA das sementes? Creio
corrermos o risco de uma futura geração de X-Men.
Mais uma vez a indústria alimentícia
vem nos “socorrer” e cria alimentos sem glúten. Contudo, assim acredito, não
mais teremos cevada, centeio, trigo ou malte, mas uma outra coisa qualquer.
Lancemos mão, portanto, de uma situação hipotética: para corrigir o andar do
caranguejo, o bichinho que só anda para trás, modificou-se geneticamente o
movimento em suas articulações. Agora o caranguejo terá o andar de uma Gisele
Bündchen quando em passarelas da vida. E a pergunta que não quer calar: mas
ainda tratar-se-á de um caranguejo? E quando as carências surgirem nos
“acautelados” com o glúten, a indústria farmacêutica, por certo, de muito boa
vontade, apresentará um substitutivo aos “bem informados”.
Abri vossos olhos ó raça embrutecida e
na ignorância mantida; buscai pensar por vós mesmos. Bem, não sou de dar conselhos,
sugestões ou algo que o valha. Apenas um alerta: vossa saúde, bem estar,
longevidade, etc., a ninguém preocupa. Sois apenas números sem valor, que em
face de protocolar condução, forneceis números para um balancete que visa
somente valores.